Cotidiano

Proposto por Doria, museu a céu aberto com grafites divide artistas

SÃO PAULO ? A ideia do prefeito paulistano João Doria de criar uma espécie de museu a céu aberto com grafites em diferentes pontos da cidade nem saiu do papel e já divide a opinião dos artistas. Depois de provocar polêmica ao apagar murais que abrigavam desenhos de grafiteiros e pichadores na avenida 23 de maio, em São Paulo, Doria anunciou a criação de um Museu de Arte de Rua, numa tentativa de apaziguar os ânimos.

Mas a medida encontrou prós e contras nas rodas de discussão. De um lado, alguns artistas veem a proposta como uma forma de reconhecimento e tentativa do prefeito de estabelecer um diálogo com a classe. De outro, há quem acredite que, por ser arte urbana, o grafite deveria estar presente em toda a cidade, e não apenas em locais pré-determinados pelo poder público. O trecho do Baixo Augusta, no centro da cidade, seria o primeiro local a receber os novos desenhos.

O grafiteiro Binho Ribeiro, que tem trabalhos espalhados pela Europa e Estados Unidos, vê com bons olhos a iniciativa, “desde que tratada com a devida atenção”. Ele cita o Museu Aberto de Arte Urbana (MAAU), na zona norte de São Paulo, do qual é um dos idealizadores, como um exemplo de que esses espaços podem funcionar. Inaugurado em 2011, o local reúne quase cem painéis ao longo de dois quilômetros de extensão.

? Espero que seja algo bacana porque a cidade e os artistas ganham e, obviamente, o poder público percebe que é possível trabalhar com eles. Acredito que os frutos serão muito positivos se for tratada com a devida atenção – disse Binho, ressaltando que há iniciativas semelhantes em Berlim e Amsterdã.

Já Rui Amaral, um pioneiros do movimento do grafite brasileiro, argumenta que a arte urbana não deve ser “aprisionada” em um determinado lugar e, na sua opinião, a proposta não deve funcionar.

? O conceito de grafite é de uma arte livre, não tem como você aprisionar uma arte urbana. Então, quando você tenta criar um espaço onde você determina a produção de uma arte livre não funciona ? resume.

Para a artista plástica Bárbara Goy, iniciativas que envolvem projetos de arte nas cidades são sempre bem-vindas, mas ela acredita que Doria enfrentará resistência dos grafiteiros para que eles desenhem em locais previamente escolhidos pela prefeitura.

? Arte sempre é bem-vinda, criar projetos é muito bacana. Só que fazer dar certo, evoluir, e os grafiteiros toparem é outra história. O grafite é da rua, é uma arte livre. Ele (Doria) está querendo que o grafite seja outra arte e não tem como, não tem lógica.

Baixo Ribeiro, um dos fundadores da Galeria Choque Cultural, afirma que discussão do poder público deveria ser sobre a promoção e qualificação da arte urbana, e não de sua organização.

? A política pública deveria estar voltada para a promoção de qualificação, educação e da cultura em torno da arte, e não da organização da arte. No sentido não de dar tinta e escolher muro, mas de incentivar a produção intelectual, de livros e de pensamentos sobre o assunto ? expõe.