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Presidente do Flamengo: Abandono do Maracanã não é o pior problema do estádio

O presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, lamentou nesta sexta-feira a situação de abandono do Maracanã, mostrada em reportagem exclusiva de O GLOBO nesta semana. Ele falou em “estrago que vai se consolidando”, mas destacou que a situação tem solução. Mais urgente e preocupante, na opinião do dirigente, é a indefinição sobre o futuro do estádio, que passa por um processo de transferência de controle depois que os atuais gestores do consórcio Maracanã S.A. desistiram do negócio.

Disputam o repasse da concessão do Maracanã dois grandes grupos. Um deles, CSM/GL/Amsterdam Arenas, tem o apoio do Flamengo. Sobre o outro, Lagardère/BWA, ao contrário, o clube já avisou que não aceitará trabalhar com ele.

Maracanã abandonado

– É lamentável a situação que o Maracanã se encontra (de abandono), mas esse não é o principal problema. Cadeiras e buracos no gramado a gente recupera em um mês. Mas, e o futuro do Maracanã, o que vai ser feito com ele? – indagou Bandeira.

O dirigente comentou, em seguida:

– O ideal seria uma nova licitação. Mas se houver a transferência de controle de um grupo para o outro, o Flamengo só vai estabelecer parceira com instituições confiáveis, em que se sinta seguro de fazer parceria de longo prazo. Caso o consórcio CSM/GL/Amsterdam Arenas seja vencedor, o Flamengo vai participar, e o Fluminense, também. Se um atravessador tomar conta e quiser obrigar o Flamengo a jogar, vai quebrar a cara.

Bandeira de Mello disse confiar que o Flamengo possa jogar no Maracanã em 2017. Mas, para o início da Libertadores, garantiu que o Plano B já está traçado.

– Se não tiver Maracanã, vai ser na Ilha – disse, referindo-se ao estádio da Portuguesa, que em 2016 foi usado plo Botafogo e neste ano estará a serviço do Flamengo.

O presidente prometeu um estádio adequado aos torcedores:

– A Ilha vai ficar um estádio aconchegante, ao gosto da torcida do Flamengo, de médio porte, para 21 mil expectadores. O ideal seria o Maracanã, mas a Ilha é um excelente Plano B, para jogos de menor apelo, compatíveis com a capcidade de até 21 mil expectadores.

ENTENDA A DISPUTA

No final do ano passado a Odebrecht, principal acionária do Maracanã S.A., recebeu o aval do governo estadual para analisar as propostas e decidirpara qual grupo venderá a concessão do Maracanã: Lagardère/BWA ou CSM/GL/Amsterdam Arenas. O processo todo de transferência do estádio será concluído em fevereiro.

O contrato do Flamengo com a Maracanã S.A. terminou no dia 31 de dezembro. O do Fluminense tem duração de 32 anos. Oficialmente, a Odebrecht afirma que vai avaliar a melhor proposta. A empresa elencou pontos cruciais para credenciar as concorrentes, estabelecidos pela experiência na administração de estádios, capital social e plano de negócios.

Maracanã – concorrência e concessão

Inicialmente, as empresas já provaram, através da entrega de documentos ao governo estadual, que conseguirão pagar de R$ 40 a R$ 60 milhões pela transferência da concessão. Deste valor, será descontada a soma da dívida da Maracanã S.A. com fornecedores e bancos.

Empresa francesa de mídia, a Lagardère foi uma das concorrentes no edital vencido pela Odebrecht. Em 2013, a companhia europeia, dona de um faturamento anual de US$ 10 bilhões por ano, precisou da associação à construtora OAS para alcançar o capital social de R$ 78 milhões no Brasil para poder concorrer. Desta vez, adquiriu participação da BWA, mais conhecida pela operação de bilhetagem em estádios, em concessão de arenas e formou a Lu Arenas. Apresentou um capital social de R$ 28 milhões. Segundo uma fonte, este capital pode ser um impeditivo à concordância do governo se a venda for feita para os franceses, mas a empresa pode ter um parceiro com cláusula de confidencialidade.

No Brasil, a Lu Arenas administra os Estádios do Castelão, em Fortaleza, e o Independência. Flamengo e Fluminense já tiveram problemas com a BWA em momentos distintos devido à comercialização de ingressos. O América-MG já ameaçou ir ao Ministério Público por causa de dívida com a BWA, que não teria repassado percentual de 5% das receitas do estádio, fora bilheteria.

O braço internacional da Lagardère administra mais de 50 arenas ao redor do mundo, concessões de lojas em mais de 150 aeroportos. No Brasil, além da participação na Lu Arenas, tem direitos de transmissão de TV e de marketing esportivo. A intenção da empresa é trabalhar em um projeto de alcance local, nacional e internacional para desenvolver o Maracanã como segundo monumento mais importante do Rio. Há planos de fazer megashows e trazer times europeus para pré-temporadas no estádio, que teria, em seu complexo, museu de ponta, academia, restaurante e lojas.

A CSM já era parceira de Fla e Flu em outros projetos. Para atingir capital social de R$ 78 milhões, a empresa foi buscar associação com a GL Events e Amsterdam Arenas, que administra a Arena Amsterdam, casa do Ajax e da seleção holandesa. Em certo momento da concorrência, ouve a desconfiança sobre a solidez da parceria com a GL, empresa multinacional de organização de eventos. Mas a CMS garantiu a parceria.

A GL, com sede na França, faz montagens de estruturas temporárias e atuou na Copa das Confederações, em 2013, e na Copa do Mundo, no ano seguinte. Também é responsável pela Rio Arena, equipamento multiuso na Barra da Tijuca. A parte internacional registra em seu site uma receita de de ? 942 milhões em 2015. Em seus eventos, estão listados, entre outros, os Jogos Olímpicos de 2000, em Sydney, e 2016, no Rio.