Cotidiano

Políticos investigados no STF minimizam discurso de decano e PGR

BRASÍLIA ? Investigados em inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) presentes à posse da ministra Cármen Lúcia minimizaram o discurso contundente do decano da Corte, ministro Celso de Mello, que usou termos como “delinquência governamental” e “marginais da República” para repudiar o que chamou de “estranha e perigosa aliança entre determinados setores do Poder Público, de um lado, e agentes empresariais, de outro”, numa referência aos fatos descobertos na Operação Lava-Jato. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também defendeu as investigações.

Alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), abertos a partir da delação premiada do senador cassado Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou terem sido “bons” os discursos de Mello e de Janot sobre investigações que atingem pessoas com foro privilegiado.

? Eu não sou investigado em nada da Lava-Jato. Foram bons os discursos, atuais e nós do PSDB sempre, em todos os instantes, demos o nosso apoio e vamos continuar a dar. Informe-se melhor ? disse Aécio, presidente nacional do PSDB, aos repórteres após sair da posse de Carmen Lúcia na presidência do STF.

Aécio é investigado em dois inquéritos abertos a partir de desdobramento dos pedidos de investigação relacionados à Lava-Jato. Um procedimento apura maquiagem de dados do Banco Rural enviados à CPI dos Correios em 2005. O outro investiga suposta propina em Furnas. A base da acusação é a delação premiada de Delcídio.

Ministro na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff e advogado de defesa da petista no processo de impeachment, José Eduardo Cardozo saiu na mesma linha de elogiar os discursos, afirmando que não surpreendem por serem falas que se repetem.

? Não estou entre os envolvidos na Lava-Jato. Talvez se estivesse, teria me causado algum tipo de incômodo. Mas estou do outro lado, em outra coluna, então não me surpreendeu.

Cardozo é investigado em inquérito aberto para apurar obstrução aos trabalhos da Justiça. Dilma é investigada no mesmo procedimento. A base da acusação também é a delação de Delcídio. O ex-senador disse que a nomeação de Marcelo Navarro Ribeiro Dantas para o STJ pela ex-presidente Dilma serviu para favorecer empreiteiros presos na Lava-Jato. Além disso, é investigada a posse de Lula como ministro da Casa Civil, que acabou suspensa logo depois por decisão judicial.

Além de Aécio e Cardozo, participaram da cerimônia outros investigados, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ex-presidente Lula e o senador Edison Lobão (PMDB-MA). O ministro de Relações Exteriores, José Serra, que foi citado em delações, mas não é investigado, preferiu não responder a respeito de um possível constrangimento com os discursos.

? Foi um discurso positivo, o ministro sempre faz exposições muito interessantes em suas falas ? limitou-se a dizer.