Cotidiano

Polícia investiga ex-preso de Guantánamo

BUENOS AIRES E BRASÍLIA – A Polícia Federal investiga a suposta entrada no Brasil, vindo do Uruguai, de um ex-detento da prisão americana de Guantánamo, em Cuba, criada para abrigar suspeitos de terrorismo depois do atentado às Torres Gêmeas em Nova York, em 2001. O sírio Jihad Ahmed Mujstafa Diyab, de 44 anos, estava refugiado em Montevidéu, juntamente com outros cinco ex-presos de Guantánamo, desde dezembro de 2014, e teria se reunido há três dias com amigos na região do Chuí, no Rio Grande do Sul. A informação foi confirmada ao GLOBO por Christian Mirza, que há dois anos atua como elemento de ligação entre os refugiados recebidos pelo ex-presidente José Mujica (2010-2015) e o Executivo uruguaio.

A PF não se manifestou a respeito do caso, mas uma fonte da corporação relata que o ex-detento já havia tentado entrar no país três vezes, sendo barrado pelo serviço de imigração, por constar em bancos de dados internacionais como envolvido em situações de terrorismo. Em entrevistas, o sírio já manifestou simpatia pelo grupo radical islâmico al-Qaeda, autor do atentado terrorista em Nova York.

EX-DETENTOS SE ENCONTRAM

Autoridades do Uruguai informaram a autoridades brasileiras que Diyab teria conseguido entrar no Brasil, segundo o jornal “El Observador”. Ainda de acordo com a publicação uruguaia, Diyab esteve na fronteira celebrando o Ramadã, data tradicional do calendário islâmico, juntamente com a comunidade muçulmana da região.

Segundo Mirza, Diyab pode sair do Uruguai quantas vezes quiser e não é um foragido. Ele disse que o sírio se reúne praticamente todas as semanas com ex-presos de Guantánamo. De acordo com Mirza, Diyab “talvez seja o que mais custou a se adaptar à vida no Uruguai”.

— Em relação ao Uruguai, a situação dele é regular. Agora, o que fará o governo brasileiro é outra questão. Ele estava insatisfeito, mas no final do ano passado assinou uma carta de compromisso para permanecer no programa de refugiados — comentou o uruguaio, que, na prática, atua como interlocutor dos refugiados.

Os ex-presos de Guantánamo que chegaram ao Uruguai há dois anos não mantêm contato com a imprensa. Sua vida no país não tem sido fácil, mas o mais decepcionado, confirmou Mizra, era Diyab.

— Ele tinha outras expectativas, queria trazer sua família, conseguir um trabalho. De fato, estava em tratativas com a Cruz Vermelha para resolver a questão familiar, por isso nos chamou a atenção sua viagem ao Brasil — disse.

Diyab já saiu do Uruguai no ano passado, para visitar sua mãe, que mora na Argentina. Quando esteve em Buenos Aires, informou a mídia uruguaia, o governo argentino lhe pediu que abandonasse o país.

Ele foi capturado pelos EUA em abril de 2012, no Paquistão. O governo americano o considerava vinculado à rede terrorista da al-Qaeda, e sua permanência em Guantánamo foi complicada, de acordo com a mídia uruguaia, por suas “atitudes hostis”.