Cotidiano

Pedro Tarak, advogado: ?O jeito antigo de fazer dinheiro não serve mais?

?Tenho 64 anos e sou graduado em direito pela Universidade de Buenos Aires e em política e direito comparado pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Sou cofundador do Sistema B, organização que promove a difusão global do movimento BCorp. Também sou acionista da uma empresa de refrigerantes.?

Conte algo que não sei.

Após a crise global de 2008, muitas pessoas começaram a pensar seriamente em maneiras de revisar o mindset e a genética econômica, a redefinir o sentido de êxito das empresas, que passaram a incorporar em seu DNA soluções ambientais e sociais. Além do lucro, o estatuto delas agora defende a transformação do mundo.

Quem são essas pessoas?

São pessoas que vêm de trabalhos em ONGs, governos e movimentos sociais. Elas passaram a dizer, por diferentes motivos, que a maneira antiga de resolver as coisas e fazer dinheiro não serve mais.

E o que essa nova forma de enxergar o capitalismo gerou?

A partir de então, surgiu o movimento B, nova maneira de funcionamento empresarial. Assim como os movimentos cidadãos assumiram compromissos sociais, ambientais e políticos, essa parte da iniciativa privada segue os mesmos passos, mudando a lógica herdada da Revolução Industrial. Hoje, no mundo, são mais de 2 mil empresas B.

Como transformar tão profundamente as forças do mercado, que não são regidas pelo interesse coletivo?

Hoje existem cerca de 89 milhões de empresas no mundo. É a segunda maneira mais comum de organização entre pessoas, atrás apenas da família. As revoluções vêm aos poucos e começam com poucos. Até acontecer o impacto direto no papel dos empresários e no mercado.

Como conciliar essas mudanças com o tempo de adaptação da sociedade, inclusive no que diz respeito a questões de legislação?

Há que se cumprir a lei e, depois, os interesses dos acionistas. O movimento B entende isso e quer ir além, defendendo melhores práticas socioambientais e políticas. Na Argentina, apresentamos projeto de lei nesse sentido. Agora, nossa proposta é defendida pelo governo e já vai à votação no Legislativo. No Chile, candidatos presidenciais têm demonstrado apoio a essa nova maneira de ver o mercado. Isso acontece porque a sociedade demonstra vontade de mudança. Não se trata de o governo ser de direita ou de esquerda, estamos fartos dessa dinâmica atual. Não podemos nos contentar com modelos que persistem há séculos e não resolvem nossos problemas.

E como se dá essa mudança?

Não fizemos muito. Apenas escrevemos e compartilhamos. Também promovemos festivais. Ano passado, foram sete na América Latina. A previsão para 2017 é de 14. Seguimos a lógica de Lao Tsé, pensador chinês, de fluxo energético. Precisamos aproveitar oportunidades para que a ideia siga, sem ser por meio da força. Cada sistema B é aberto ao infinito, não há donos. Apenas grupos que buscam catalisar essa mudança na genética do mercado.

Para muitas pessoas, o capitalismo é incapaz de mudar de maneira tão profunda. O que você diria a elas?

Antes, acreditávamos que os bens públicos só podiam ser criados pelo Estado. Depois, passamos a dizer que as ONGs também conseguiriam. Agora, vemos que as empresas e o mercado podem fazer o mesmo. É possível alcançar Justiça, equidade e bens públicos por meio deles. Muitas pessoas acham que os males sociais vêm do empresariado, mas dele pode vir também a solução.