Cotidiano

Pássaros que não podem voltar à natureza ganham novos lares

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) cedeu os cuidados de 32 pássaros silvestres a voluntários que se cadastraram junto ao órgão. São animais das mais diversas espécies nativas silvestres que não têm condições de retornar à natureza. Os voluntários fizeram o cadastro para serem guardiões dessas espécies. 

A adoção é sempre a última alternativa buscada pelo IAP para destinar aqueles animais que não conseguem ou não podem retornar à natureza. “Em situações como essa, nós sempre vamos procurar mantenedores, criadouros científicos ou institutos conservacionistas, que já têm expertise para cuidar do animal. Não sendo possível, em último caso, a gente pode entregar para uma pessoa física que tenha a consciência de que terá que cuidar do animal como se fosse uma criança. Esse cuidado é tanto com relação ao bem-estar do bicho quanto à condição financeira do adotante, pois o animal sempre trará despesas extras”, explica a diretora de Licenciamentos Especiais do IAP, Edilaine Vieira. 

Os novos guardiões dos pássaros assinaram um Termo de Guarda Provisório, no qual se comprometem a colocar anilhas de identificação e rastreamento nos animais em no máximo 15 dias, alimentar e apresentar anualmente laudos veterinários que comprovem as boas condições das espécies. Essas pessoas também assinam um termo de ciência de que podem ser fiscalizados pelo IAP em qualquer momento e que, se constatado algum dano ou maus tratos ao animal, a guarda poderá ser retirada. 

ESPÉCIES – Entre as espécies doadas nessa quarta-feira (05) estão: bicudo, coleiro do brejo, cardeal, pássaro preto, azulão, tiziu, melro, galo da campina, curió, bigodinho, periquito rei, pintassilgo, sangrinho, chupim e trinca-ferro. A profissional da área de comunicação Neusa Mansur recebeu a guarda de dois trinca ferros. Ela tinha se inscrito para receber a espécie logo que soube da possibilidade pela imprensa. “O trinca ferro me traz muitas recordações. Quando meu filho nasceu, há 31 anos, eu ganhei um pássaro desta espécie e o associava à maternidade. Eu gostava de acordar com o canto dele. Como trata-se de uma espécie muito difícil de comprar, quando eu vi que o IAP abriu a possibilidade de adotar, eu logo me inscrevi”, conta. 

RESGATE – A maioria dos animais adotados (29) foi resgatada por fiscais do IAP e da Polícia Ambiental na região de Paranavaí, noroeste do estado, em ações de fiscalização e de combate a tráfico de animais. Todos eles passaram por uma avaliação veterinária que constatou a impossibilidade do retorno à natureza, principalmente por estarem há muito tempo em cativeiro e não terem mais condições naturais de competirem por alimentos. 

Outros três pássaros foram encaminhados pela Polícia Ambiental, que atendeu denúncia de caça e comércio ilegal das aves em Fazenda Rio Grande, Região Metropolitana de Curitiba. 

Além desses, quatro pássaros da espécie Periquito Real, também vindos da região de Paranavaí, serão destinados a um criadouro especializado e devidamente licenciado. “Esses periquitos não estão domesticados, por isso estamos destinando a um criador especializado. Nossa primeira tentativa sempre deve ser readaptar o animal para retornar à natureza”, explica Edilaine. 

ADOÇÃO – A pessoa que se interessar em receber um animal silvestre deve se cadastrar no site do IAP (http://www.iap.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1476) e entregar toda a documentação necessária. Somente após vistoria e autorização do IAP é que o animal é entregue ao solicitante, que deve informar ao órgão periodicamente qual a situação do animal. Em caso de maus tratos ou descumprimento das regras, o termo de guarda ou de depósito será suspenso. 

Para receber a guarda de um animal é necessário que a pessoa interessada possua um recinto em condições adequadas e aprovado pelo IAP, condições financeiras para manutenção do animal e um profissional (biólogo ou veterinário) para fazer o acompanhamento. Assim, quando um animal é resgatado, e se não houver a possibilidade de ser solto na natureza, ele é destinado aos solicitantes por ordem de cadastro. 

Ao se cadastrar no site do IAP, o interessado indica quais são os animais de sua preferência. Depois de concluído o cadastro, o Instituto entra em contato quando houver disponibilidade do animal indicado, já que a lista de espera é de pessoas que desejam adotar e não de animais apreendidos. 

Parcerias contribuem para a recuperação de animais que precisam de cuidados clínicos 

Regulamentar a possibilidade de adoção de animais silvestres foi apenas uma das alternativas encontradas pelo IAP para apoiar os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), clínicas e hospitais veterinários que recebem animais resgatados, e que estão sobrecarregados. , além de inibir o tráfico de animais. O Ibama delegou ao IAP, em 2013, a responsabilidade pela gestão da fauna nativa silvestre. Desde então, o IAP vem adotando medidas no sentido de estruturar o estado do Paraná no que se refere aos cuidados com a fauna silvestre. 

"Quando a atividade foi repassada ao IAP, nós não tínhamos experiência nem estrutura para atender a demanda. Por isso, ao longo desses três anos estamos trabalhando fortemente na regulamentação da atividade, tornando o Estado mais restritivo do que o exigido nas leis nacionais, e à procura de parcerias”, explica o presidente do IAP, Luiz Tarcísio Mossato Pinto. 

O Instituto vem trabalhando na elaboração de um edital para formalizar parcerias com criadouros científicos, mantenedores, institutos conservacionistas, clínicas e hospitais veterinários. “O que nos auxilia muito é contar com uma rede de veterinários, biólogos e mantenedores de fauna que nos auxiliam gratuitamente na avaliação e recuperação dos animais que precisam de maiores cuidados. Mas precisamos trabalhar em conjunto com todos os setores para encontrar soluções viáveis e protocolos de atendimento a essas situações”, conta. 

CETAS – O IAP está auxiliando na construção de um Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) em Ponta Grossa. O projeto está sendo desenvolvido em conjunto com um instituto conservacionista e é resultado de medidas compensatórias de licenciamentos ambientais emitidos pelo órgão, como da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu, entre Capitão Leônidas Marques e Capanema, e da Klabin, em Telêmaco Borba. Também já existem tratativas de um termo de cooperação com o curso de medicina veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Toledo, para atender a demanda da região Oeste. 

Ao mesmo tempo, o Instituto tem feito diversas reuniões com o Ibama e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres de Tijucas do Sul. Estão sendo discutidas formas de manter o local aberto e alternativas de gestão do local. “O Centro de Tijucas é administrado pela PUC e é uma referência no Estado. Sabemos das dificuldades e das prioridades da instituição de ensino, mas trabalhamos para que o local possa continuar funcionando e atendendo os animais que necessitam de cuidados”, afirma o presidente do IAP.