Cotidiano

Oposição volta a desafiar Maduro nas ruas para exigir referendo

CARACAS ? Animada pela marcha que tomou as ruas de Caracas na semana passada, a oposição venezuelana retomará os protestos, nesta quarta-feira, para reivindicar um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro. Desta vez, a convocação vai além de Caracas, incluindo outras cidades. Manifestações chavistas também são esperadas em todo o país.

O ponto final da mobilização são as sedes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em meio a um clima de tensão após várias detenções. A oposição denuncia a perseguição e a repressão sofridas por parte do governo. Este alega, por sua vez, que está tentando conter a violência e um golpe de Estado. Diante do protesto, o CNE decidiu fechar seus 24 escritórios regionais na quarta-feira.

? Em vista da virulência da linguagem que utilizam, nos vemos na obrigação de suspender as atividades ? declarou a ministra Socorro Hernández.

A oposição vê o referendo como única saída para a crise econômica e espera que a insatisfação da população ajude a lotar as ruas para pressionar o CNE a fazer a consulta ainda este ano.

? O protagonismo será das regiões, porque Caracas já teve o seu. Procuramos acelerar a solução política e eleitoral para essa crise ? disse o secretário-executivo da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, referindo-se à massa gigantesca que foi às ruas da capital na última semana.

Buscando ganhar tempo, o governo acelerou planos de abastecimento de produtos básicos com o apoio dos militares e mantém, no CNE e no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), uma série de demandas contra a oposição, incluindo a possibilidade de suspender a imunidade dos deputados. A Casa é de maioria opositora.

? O referendo revogatório não tem a menor possibilidade de ser este ano (…) Se acontecer, seria para março ? manifestou o número dois do chavismo, Diosdado Cabello.

Se a consulta for realizada antes de 10 de janeiro de 2017 e Maduro perder, haverá nova eleição à Presidência. Se acontecer depois e o presidente tiver seu mandato revogado, será substituído por seu vice.

Tendo o referendo como pano de fundo, a Venezuela está metida em um conflito de poderes desde que a MUD assumiu o controle do Parlamento em janeiro passado.

O TSJ invalidou cerca de 20 decisões tomadas pela maioria opositora e, esta semana, declarou nulas futuras decisões por considerar a Assembleia em desacato.

? Querem anular um ao outro. Todos os poderes estão em disputa e, infelizmente, vale tudo na guerra ? opinou a socióloga Maryclen Stelling.

Em 1º de setembro, Caracas foi palco de uma grande passeata, a qual teria reunido 1,1 milhão de pessoas ? segundo a MUD ?, ou 30 mil ? de acordo com o governo. Um protesto simbólico foi convocado para acontecer na capital por volta das 12h locais (13h, horário de Brasília), parando por 10 minutos qualquer atividade e circulação de veículos.

? O chavismo deve estar na rua acompanhando esta luta do povo. Eles vão seguir com seu plano ? disse Cabello em um ato público, ao advertir que a oposição planeja uma escalada de protestos até chegar a uma “greve nacional”.

O dirigente chavista Elías Jaua garantiu que a mobilização popular é ?o melhor antídoto contra a violência, contra os golpes de Estado?, motivo pelo qual convocou todos os chavistas a se mobilizar.

Cerca de 60 pessoas foram detidas na última semana na manifestação de 1º de setembro e em outra realizada em Villa Rosa. A maioria dos ativistas já foi solta.

? O desafio da oposição é se manter ativa e pacificamente nas ruas, pressionando o referendo? comentou o analista político Luis Vicente León.

Segundo o diretor do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), Gustavo González López, foi detido um grupo de pessoas ?que estava organizando atos de violência? para este 7 de setembro.