Cotidiano

Oeste tem presença marcante de seguidores

Cascavel – Há exatos 500 anos, um monge conhecido como Martinho Lutero causou uma revolução no meio religioso mundial, ao anexar na porta da Igreja de Todos os Santos na cidade alemã de Wittenberg panfletos em latim com um conteúdo que mudaria os rumos da Igreja Católica, ferindo os dogmas defendidos pelo Vaticano. Era dado o início à Reforma Protestante, movimento nascido com o propósito de revigorar o catolicismo, mas que provocou efeito inverso.

Hoje, estima-se que haja 800 milhões de protestantes em todo o mundo. Na região oeste do Paraná o movimento tem ampla ramificação, com destaque para cidades cuja emigração alemã predomina, como Marechal Cândido Rondon.

A prática de expor suas ideias em papéis anexados nas portas das igrejas era comum na época. Martinho Lutero escreveu 95 teses que desencadeariam perseguições e assassinatos. Desde então, a Reforma Protestante provocou abruptas mudanças no sistema geopolítico da Europa, influenciando na colonização de outros países como os Estados Unidos e obrigando o catolicismo a adotar uma postura mais contemporânea.

As teses polêmicas de Lutero martelaram na cabeça dos líderes sacerdotais. Antes de colocar ao conhecimento público suas ideias, Lutero teria enviado no dia 31 de outubro de 1517 o texto ao seu superior, o arcebispo de Mainz, Alberto de Bradenburg.

O arcebispo encaminhou as teses de Lutero a Roma e deu início ao processo de excomunhão de Martinho Lutero, concluído em 1521.

Lutero não foi o primeiro a expor suas teses ligadas ao catolicismo. Outros já tinham tentando, mas sem sucesso. E foi justamente por isso que as correntes luteranas ganharam uma proporção descomunal no século XVI, empurrados por constantes manifestações de questionamento aos dogmas católicos.

 

Indulgências

O limite para Lutero foi quando se deparou com o frei dominicano Johan Tetzel vendendo indulgências, um documento que prometia o perdão total dos pecados e um lugar no “céu”. Para sensibilizar os fiéis, o frei dizia que o dinheiro arrecadado seria usado na construção da Basílica de São Pedro, no Vaticano. As pessoas faziam fila para comprar o perdão papal, válido para todo tipo de pecado por oito anos.

Lutero queria saber realmente o que era necessário para obter o perdão dos pecados. Para ele, era mais valioso o arrependimento sincero e uma vida regrada a atitudes corretas.

 

Reforma garantiu o acesso à Bíblia

O pastor da Congregação Trindade, da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, em Cascavel, Jair Krack, comenta que um dos grandes legados deixados por Martinho Lutero foi ter levado a Bíblia ao centro da Igreja. “No passado, existia uma lista de livros proibidos, e a Bíblia era um deles”, relata o pastor. Ele conta que naquela época o membro da Igreja Católica só podia fazer a leitura da Bíblia ao lado de um sacerdote. “O gesto de Lutero deu ao povo o direito de poder ler a Bíblia sem intervenções”.

Outro grande legado deixado por Lutero, segundo o pastor Jair Krack, envolveu a educação do povo: “Naquela época eram letrados apenas o clero e religiosos, ou seja, o povo comum não tinha acesso à educação”. Por isso até hoje um dos lemas que permeiam a Igreja é que cada uma tenha perto uma escola.

A Reforma Protestante contribuiu ainda para a formação do estado laico, ou seja, um país livre para escolher qual religião seguir. “A Igreja não tem o direito de influenciar nos rumos do governo ou vice- versa”, acrescenta o pastor da Congregação Trindade da Igreja Evangélica Luterana, localizada no Bairro Neva, em Cascavel.

500 bíblias na mão do povo

A Igreja Presbiteriana Central de Cascavel é uma das tantas mundo afora que elaboraram programação especial para celebrar os 500 anos da Reforma Protestante, neste dia 31 de outubro. Serão distribuídas 500 Bíblias para a população.

Na época, o gesto de publicar suas 95 teses nas paredes das igrejas abalou com as estruturas da Igreja. Antes dessa revolução, as pessoas não tinham acesso às escrituras pela dificuldade em compreender o latim. Então Martinho Lutero traduziu a Bíblia para a língua do povo.

Com as escrituras em mãos, as pessoas puderam ler, estudar e meditar sobre a Bíblia, abrindo o leque de conhecimento de tudo que era pregado fundamentado nas leis de Deus.

Historiadores dizem que a pretensão de Lutero não era causar a divisão de católicos e protestantes. Essa separação só ocorreu porque o povo percebeu que as autoridades religiosas da época estavam fugindo das sagradas escrituras, especialmente com indulgências em troca de dinheiro.

Sacerdote e professor universitário, Lutero passou a escrever sobre seu entendimento em relação à Bíblia e a partir daí compreendeu que muito do que era pregado não estava presente nas escrituras. O reflexo foi imediato, com o Vaticano exigindo retratação. Lutero disse que estaria disposto a negar tudo, desde que provassem pela Bíblia que ele estava errado, o que não aconteceu.

 

“Ele nos trouxe a libertação”

O tema Lutero ainda mexe com as pessoas. O pastor Ednaldo Ribeiro lembra uma ocasião quando assistia ao filme Lutero, vida e obra: “Na parte em que Lutero rasga as indulgências, o povo no cinema levantou e aplaudiu”, recorda. “Ele nos trouxe a libertação”.

Para o pastor, ainda existem as falsas igrejas que pregam a salvação em troca de dinheiro. “E é só conhecendo a Bíblia que vamos conseguir discernir o certo e o errado”.

Conforme o pastor, a salvação é um ato de graça de Cristo: “Somos salvos pelo que Jesus fez por nós e não por algo que venhamos a fazer em troca”.