Cotidiano

Oaxaca, no México, une gastronomia, história e natureza em região tradicional

OAXACA – ?Zac xtili?, diz o artesão a turistas numa cooperativa têxtil em Oaxaca, no sul do México. É ?bom dia? em zapoteco, língua nativa do povo que ocupou a região desde o ano 2000 a.C. O idioma e os costumes continuam vivos, assim como as festas típicas, a arte dos alebrijes (animais coloridos esculpidos em madeira) e a beleza das zonas arqueológicas. Oaxaca é a mãe das cores do México. Reúne o marrom da terra, o verde do cactus, o laranja da flor de cempazúchitl, o vermelho obtido de um inseto que tinge tecidos. É um arco-íris de tradição e simplicidade coroado pelo clima ameno que torna a região atraente o ano todo, inclusive agora, inverno no Hemisfério Norte.

BVMéxico

Os turistas são atraídos a Oaxaca (diz-se ?Oarraca?) principalmente pelo artesanato indígena ? a cidade fica no estado de mesmo nome, segundo do país em população indígena, depois de Chiapas. Outro destaque é a gastronomia pré-hispânica, em especial os diferentes tipos de moles ? molho feito com chocolate, pimenta e especiarias. E tem o quesillo (queijo de textura parecida à da mozarela ? e mais gostoso), os tradicionais chapulines (gafanhotos! torradinhos com limão e sal) e bebidas como o mezcal, que, como a tequila, é produzido a partir do agave. Paisagens incríveis incrementam a oferta.

Da culinária tradicional à reinventada

A dica é começar pela cidade de Oaxaca, que fica a 470km da Cidade do México. São cerca de seis horas de ônibus, menos de uma hora de avião. O lugar tem 300 mil habitantes e, apesar de bastante conhecido e turístico, soube se preservar no tempo. Há casas coloridas, igrejas e construções de ar colonial, influência da antiga metrópole Espanha. O movimento se concentra ao redor do zócalo, a praça principal, com uma catedral imponente, barraquinhas de churros e milho, crianças correndo e vendedores de balões e artesanato.

Nas ruas que orbitam o zócalo, há um sem-fim de restaurantes e bistrôs, dos mais tradicionais a releituras da culinária local. Mas o bacana mesmo é a imersão: a raiz de Oaxaca está em seus mercados. São galpões com comida típica a preços acessíveis. Os turistas são disputados a dedo, e a música de ambulantes se junta ao cheiro de tortilla frita e ao aroma delicioso do chocolate de Oaxaca. Essa mistura é que dá a graça do lugar.

INFOCHPDPICT000063420542

Os mercados ficam cheios na hora das refeições. O café da manhã tem quesadillas e pão mergulhado em chocolate quente. O almoço tem moles, carne, um monte de especiarias. À noite, barraquinhas oferecem ?gorditas? (tortilla frita com recheio) e tlayudas (parece uma pizza, com massa crocante, quesillo e guacamole). Para acompanhar, chá gelado de jamaica, nossa flor de hibisco.

Depois é hora dos passeios, e as opções ao redor da cidade não são poucas.

História: Monte Albán e a árvore de dois mil anos

O cartão-postal mais conhecido de Oaxaca é o Monte Albán, zona arqueológica fundada em torno de 500 a.C., e uma das mais antigas do México. Fica apenas dez quilômetros a oeste da cidade, numa área imensa cercada por pirâmides e espaços verdes que já foi capital indígena zapoteca entre os anos 200 d.C. e 600 d.C.

Ali eram realizados rituais sagrados e de peregrinação, a exemplo de outras zonas arqueológicas importantes do país, como Teotihuacán, no estado do México, e Chichén Itzá, na Riviera Maya. O local foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1987.

Sorvete da flor do cactus

O destaque de Monte Albán é a amplitude, e a paz que inspira uma zona pré-hispânica erguida sobre um planalto a 400 metros de altura num dos cumes que dominam o vale de Oaxaca. A vista impressiona e acalma. Provavelmente também pela altura, Monte Albán tinha importância militar estratégica para os zapotecas.

A origem do nome, porém, tem a ver com outro tipo de poder: o monte era tido pelos zapotecas como um lugar sagrado. No topo, crescem árvores que dão flores brancas ? daí viria o ?Albán? na designação em espanhol.

O passeio pode durar uma manhã ou o dia inteiro ? depende do turista, pois as horas passam sem que se perceba. É importante levar protetor solar e chapéu, porque o sol pega forte. Para os desprevenidos, barracas na entrada vendem sombreros. Vale ainda aproveitar o clima para provar sorvete de tuna, a flor vermelha do cactus.

Se ainda há energia, uma opção é esticar até Santa María del Tule, a 13 quilômetros de Oaxaca. É um povoado de pouco mais de sete mil habitantes, cuja economia gira em torno de uma árvore. Mas não qualquer árvore: é uma de dois mil anos, tida como a de maior diâmetro de tronco do mundo, 14 metros e uma circunferência de 42 metros.

INFOCHPDPICT000063420516

Estima-se que seriam necessárias umas 30 pessoas para abraçá-la, mas não é o número que mais impressiona. A árvore do tule já viu dos zapotecas à conquista espanhola, a independência, revoluções, o crescimento de Oaxaca ? sempre do mesmo lugar, hoje o pátio da igreja de Santa María del Tule.

A entrada custa 5 pesos (menos de R$ 1). Impossível não deixar a imaginação voar ao rodear a árvore, com o incentivo, ainda, de guias mirins que desafiam os turistas a achar formas de animais e objetos ?esculpidos? no tronco e nas raízes.

Nos arredores, arte, cachoeiras de pedra e mezcal

Várias empresas locais oferecem passeios de dia inteiro nos arredores de Oaxaca, opção interessante se o tempo de viagem é apertado. O trajeto começa em Teotitlán del Valle, um povoado de artesãos a 30km da cidade. Foi um dos primeiros assentamentos dos zapotecas, aos pés da Serra Juárez. Ali se preservam o idioma original, os costumes da terra e do trabalho, e os moradores se unem em cooperativas para manter a tradição.

Os ateliês são abertos ao público, que aprende como as cores dos tecidos são obtidas naturalmente, de flores e insetos. O trabalho, delicado, é ensinado desde a infância na comunidade.

No caminho a Teotitlán, destilarias artesanais também chamam a atenção. Vale uma parada para provar tequila e mezcal. Outra produção que vem do agave é o mel, que ganha espaço em lojas veganas. Tudo da região. Para os que acham o sabor das bebidas forte, a visita funciona ao menos como aula. Os mexicanos adoram explicar a história e o processo de fabricação. Nas paredes, surgem frases bem-humoradas: ?Para todo mal… mezcal. Para todo bem, também?. Depois de tanta degustação, é bom parar para o almoço.

O caminho segue para Mitla, o segundo centro cerimonial zapoteca mais importante da região, depois de Monte Albán. O nome significa ?lugar dos mortos?, ou ?inframundo?. Ali foram enterrados sacerdotes e reis zapotecas. Sua ocupação começou desde o ano 100 d.C., até 1521.

O destaque são as construções detalhadamente adornadas, um trabalho em mosaicos e pedra numa época sem tecnologia que resistiu a séculos de intempérie. Só sucumbiu ao assédio dos espanhóis, que durante a conquista destruíram os templos e usaram as pedras para erguer o que é hoje a igreja de São Paulo, no século XVI.

O templo está localizado logo atrás da zona arqueológica, em uma mistura que reúne símbolos pré-hispânicos e marcos da exploração espanhola que caracteriza o México ainda hoje.

Se tiver tempo, aproveite para passear pelo povoado e olhar o artesanato. Há peças de bijuteria, tapetes e vestidos ? além dos alebrijes, as peças típicas de animais coloridos na madeira: de gatinhos a tatus, pavões, lobos, pássaros e animais fantásticos nascidos da imaginação dos artesãos mexicanos.

A última parada é Hierve el Agua, uma das maiores belezas naturais do estado. Fica a cerca de duas horas e meia de Oaxaca, mas vale cada sacolejo na estrada. São duas cachoeiras enormes petrificadas, formadas há mais de 2.500 anos pelo escorrimento de água mineralizada.

O pôr do sol ali é imperdível: um vislumbre de uma queda de 50 metros, cercada pelo Vale de Tlacolula e a imponente Serra Mixe.

Na parte superior, formam-se piscinas termais, um espelho d?água que embeleza a vista. A água cai dali, mas devido à quantidade de minerais, deixa sedimentos na queda. Por isso se diz que as cachoeiras foram ?esculpidas? pela natureza. Não por nada, o lugar era considerado sagrado para os zapotecas.

Na descida, há uma trilha de uns dois quilômetros. Guias locais se oferecem para acompanhar os turistas, num sobe e desce que revela ângulos impressionantes das cachoeiras a cada curva. Até os guias, que vão ali praticamente todos os dias, garantem que cada vez é única.