Cotidiano

O minúsculo inseto que mata milhões de árvores na América do Norte

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RIO – Besouro Verde é nome de programa de rádio, série de TV, quadrinhos e filme de super-herói. É também o nome de um inseto que ameaça bilhões de árvores na América do Norte. A espécie invasora da Ásia é menor que uma moeda de 1 centavo e mata há mais de uma década milhões de grandes freixos nos EUA e no resto do continente.

As larvas do Agrilus planipennis são minúsculas e sobrevivem na madeira não processada. Os insetos chegaram aos EUA há pelo menos 13 anos, estimam os serviços de proteção florestal do país, possivelmente em embalagens de madeira vindas da China.

As larvas crescem sob a casca das árvores de freixo, uma das espécies mais comuns na América do Norte. Ao se alimentarem, criam canais em forma de serpente. Esses canais danificam a árvore internamente, prejudicando a capacidade da planta de transferir nutrientes e água. Em 5 anos, uma grande árvore de até 20 metros está morta de fome porque a água que suas raízes puxam do solo não consegue passar pelo tronco: ao comer, o inseto fez buracos nos canais que a planta usaria para isso.

A espécie tem poucos predadores na América do Norte, como vespas ou outros insetos. Também se espalha pelo país por transporte de madeira contaminada. Cientistas estimam que 30 milhões de freixos já morreram devido ao besouro, que consegue sobreviver até mesmo aos severos invernos do meio-oeste americano, plantando os ovos sob as cascas das árvores, por sua vez cobertas pela neve.

Infestação até urbana

Skip Kincaid é o diretor do serviço florestal de St. Louis, no Missouri, uma das cidades mais arborizadas dos EUA. Ele tem uma missão triste: cortar quase todas as árvores de freixo da cidade, vítimas do inseto invasor.

De todas as árvores da cidade, 17%, ou cerca de 14 mil, são de freixo. Todas elas devem ser derrubadas para tentar parar o avanço do besouro. O aspecto da cidade vai mudar por uma geração.

“Faço tudo o que posso para que as pessoas tenham consciência do quão devastador isso vai ser”, diz ele.

Cientistas descobriram um tratamento pesticida que pode ser aplicado a cada ano para evitar os insetos. Mas ele ainda é muito caro para o orçamento da cidade.

Kincaid fez uma estimativa do benefício de cada árvore para a cidade, coisas como o escoamento de águas pluviais e redução dos custos de energia ao baixar as temperaturas do entorno (e, logo, baixar o uso de ar-condicionados).

“Entretanto, se uma árvore não gera uma economia de entre US$ 45 e 75 para a cidade, fica difícil justificar essas despesas”, lamenta ele.

Só mil árvores se encaixam nesta “faixa de retorno de elite” para a cidade. As outras, “economicamente inconvenientes”, serão cortadas e e outras espécies plantadas no lugar, provavelmente árvores menores que os grandes freixos que hoje estão sobre as ruas de St. Louis.

‘O mais destrutivo dos tempos modernos’

Com a infestação espalhada por metade do país, os serviços florestais americanos classificaram o besouro como “o inseto de bosque mais destrutivo dos tempos modernos na América do Norte”.

“Quando a árvore está infestada, a chance é de quase 100% que morrerá”, explica o especialista Noel Schneeberger, do Serviço de Parques dos EUA.

Entretanto, o que deixa os cientistas perplexos é que na Àsia, seu continente de origem, o parasita é relativamente benigno, aparentemente se alimentando apenas de arvores doentes e prestes a morrer. Lá, os freixos sadios tem um uma resistência química natural que a maioria de seus primos norte americanos não tem.

O parasita era muito pouco estudado antes de sua invasão à América do Norte. Os estudos avançaram nesses 14 anos. Hoje, cientistas recomendam que, nas cidades, as árvores mais afetadas sejam derrubadas, e que nas saudáveis sejam usados pesticidas específicos.

Já nas florestas, onde há arvores demais para técnicas individuais como as urbanas citadas acima, os melhores metódos seriam a introdução de predadores asiáticos. Eles já estão sendo introduzidos de forma controlada para que não se tornem também um problema. No entanto, os especialistas destacam que o processo deve demorar várias décadas e milhões de árvores serão perdidas no ínterim.