Cotidiano

Nos últimos atos, Cunha se mostra isolado, acuado e nervoso

eduardo-cunhaRIO ? A troca de letras revelava a tensão de Eduardo Cunha em mais uma de tantas explicações e desmentidos: “Comoarecerei (em vez de ‘comparecerei’) com certeza”, escreveu quarta-feira no Twitter, garantindo estar em pessoa na sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara que votará o seu recurso. Proibido pelo Supremo de frequentar o Congresso, o que restringiu-lhe a circulação pública, o deputado já demonstrava nas redes sociais, com uma escrita apressada e recheada de erros gramaticais, que o sangue frio de outrora, capaz de receber os mais pesados insultos com a cara de mármore, o abandonara.

Cunha renuncia

Quem acompanhou as últimas quatro semanas do deputado nas redes sociais, não se espantou com a voz embargada do ato de renúncia. No último canal que lhe restara para dialogar com o público, Cunha transformou o seu perfil no Twitter em ?bunker? digital. Ilações, parcialidade, maldades e fantasias foram algumas das palavras mais usadas por um político acuado e nervoso. Os costumeiros revides, preferencialmente com ameaças de processo judicial, praticamente saíram de cena, dando lugar a notas de desmentido e esclarecimentos.

Com o cerco a Cunha, que fez da residência oficial da Presidência da Câmara no Lago Sul um escritório de advocacia, o deputado também se viu obrigado a afastar-se das bases. Há semanas, não é visto no escritório político da Avenida Nilo Peçanha 50, no Rio, onde costumava receber deputados, prefeitos, vereadores e outros aliados. A poucos meses das eleições municipais, o máximo que conseguiu fazer nas últimas semanas foi postar mensagens de congratulações pelos aniversários de Japeri (25 anos), Comendador Levy Gasparian (25 anos) e Magé (451 anos).

Cunha no Twitter

Aos 57 anos, o economista que iniciou a carreira pública na Telerj, nomeado pelo então presidente Fernando Collor em 1991, não conseguiu nesta quinta-feira repetir os gestos do ex-padrinho, que saíra impávido do Palácio do Planalto no ano seguinte. O ato final de Cunha, que ainda teve o dissabor de aguardar o reparo do sistema de som, desmentiu os próprios desmentidos. No último mês, de acordo com a Agência Lupa, o perfil de Cunha no Twitter fez ao menos quatro postagens negando que renunciaria A última delas, há uma semana: “Eu sempre falei diretamente as minhas posições e nunca utilizei porta-voz. E mais uma vez reafirmo que não irei renunciar”.

Pouco antes, em outra postagem, acrescentava um detalhe: “Em primeiro lugar, eu não renunciei, como vocês podem ver. Em segundo lugar, eu não tenho o que delatar. Eu não tenho crime praticado e não tenho o que delatar”. A ver.