Cotidiano

?Não fui um ator coadjuvante nesses oito anos?, diz Pedro Paulo

Pedro Paulo (PMDB) – Veja a íntegra da entrevista com o candidato

RIO ? Com alta taxa de rejeição, o candidato do PMDB à prefeitura do Rio, Pedro Paulo, aposta na estratégia de mostrar que é continuidade da gestão Eduardo Paes ? que vem pedindo votos em nome do aliado nos finais de semana. A estratégia é reforçar com o eleitor a informação de que foi inocentado da acusação de que agrediu sua ex-mulher, citando o arquivamento do caso pelo STF.

Entrevistas candidatos Rio 2009 O que o senhor vai fazer para tentar diminuir sua alta taxa de rejeição?

Tenho trabalhado para quem a gente governou. A estratégia é comunicar a essas pessoas que a minha candidatura representa a continuidade dessa superação que o Rio viveu nos últimos anos. Um Rio que superou a crise e, ao mesmo tempo, fez a Olimpíada, obras na cidade toda e conseguiu transformar a vida de muitas pessoas. É reforçar para esse eleitor que não fui um ator coadjuvante nesses oito anos, e sim o protagonista, ao lado do prefeito Eduardo Paes.

A que o senhor atribui a rejeição?

Os candidatos da continuidade, seja reeleição ou candidato que representa o governo, sempre largam com uma rejeição alta, atribuída ao governo. Tem pessoas que não gostam da nossa administração.

O senhor não ficou marcado pela acusação de violência doméstica?

Muitas pessoas não têm conhecimento do desfecho desse episódio. Houve uma investigação, durante dez meses, da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República, conduzida pelo rigoroso Rodrigo Janot, e do Supremo Tribunal Federal. Muitas pessoas não têm conhecimento que a decisão não foi simplesmente o arquivamento. Foi uma decisão de comprovação da minha inocência. Não foi por falta de provas. Todas as provas foram colhidas. Se analisou mais de um laudo pericial, mais de um depoimento. Todos esses órgãos concluíram que as acusações eram falsas, que eu sou inocente e que aquilo não aconteceu.

Sua ex-mulher, a babá e o perito mudaram de versão. Primeiro, em entrevista, o senhor disse ?quem não tem uma briga, um descontrole, quem não exagera numa discussão?. Depois, adotou o discurso de legítima defesa. Tantas mudanças não contribuem para que as pessoas não acreditem no senhor?

Naquele momento, o que eu fiz foi um pedido de desculpa para a minha família. É importante que as pessoas vejam os autos do processo e as decisões da Justiça. A babá na época fez o depoimento e disse a verdade perante a Polícia Federal. A mesma coisa a mãe da minha filha e os peritos que apresentaram os laudos. Não tem um depoimento que contradiz a versão que é a verdadeira, em que eu fui inocentado e que as acusações eram falsas.

Mesmo com a proibição de financiamento empresarial, seus maiores doadores são ligados a grandes empresas.

Todas as doações foram absolutamente legais. O que eu acredito que movimenta essas doações é um pouco o desespero de muitos agentes econômicos e servidores públicos ao enxergar o cenário que está colocado. De um lado, você tem as candidaturas das trevas, que representam a corrente do triunvirato Bispo Macedo, Bispo Crivella e o quase Bispo Garotinho, com a ideologia da Idade Média, misturando religião e política. De outro, o querubim dos black blocks, Marcelo Freixo, um pouco o pensamento do século passado, vencido pela História e pelos fatos. Tem candidato que diz que tem experiência de gestão de 25 anos, e o que a gente vê marcado é a CPI da Merenda, ou então a boa gestão das finanças pessoais, quando ele começa como deputado com R$ 300 mil de patrimônio e termina com R$ 12 milhões. Olham a minha candidatura, em que, durante esses oito anos, eu tratei, como principal secretário do governo, do reajuste de servidores, da meritocracia que prevê 14º e 15º salários, da revisão de plano de cargos e salários. Qual é o problema de um servidor que está vendo isso abraçar uma causa?

Houve pressão para que 57 servidores doassem o mesmo valor, R$ 5 mil?

Foram encontros que nós fizemos com servidores, e eles mesmos se organizaram e cotizaram valores para fazer a doação. Isso não tem qualquer tipo de ilegalidade.

Um dos objetivos da reforma eleitoral era reduzir o peso do poder econômico nas eleições, mas, dos 59 maiores doadores no Rio, 54 doaram para o senhor, que é o candidato da máquina.

Eu não posso comentar sobre a incapacidade dos meus adversários de se articularem, de buscarem doações. Tenho mais de 300 doadores na minha campanha. Outros candidatos têm três, quatro. Acredito que esses candidatos terão uma relação mais difícil, de mais influência daqueles que doam para a campanha do que alguém que tem mais de 300.

Qual sua projeção para as finanças do município nos próximos quatro anos?

A crise não vai se dissipar nos próximos anos, nem no governo federal nem no governo do estado. Houve uma queda de receita muito forte (no estado): royalties (do petróleo) e ICMS. A prefeitura está absolutamente equilibrada. Nesses oito anos, as despesas correntes não ultrapassaram as receitas correntes. Temos um sistema previdenciário em equilíbrio. A prefeitura reduziu o endividamento ao longo dos oito anos, ainda que realizando as Olimpíadas.

O caixa do Funprevi caiu de R$ 1,8 bilhão em 2009 para R$ 264 milhões em 2015. Não é um exemplo de má gestão?

Uma coisa é o fluxo (de caixa); outra é o déficit atuarial, ao longo do tempo. A gente recebeu a prefeitura em 2008 com R$ 22,5 bilhões de déficit atuarial. O sistema previdenciário ia quebrar. Fizemos um plano de capitalização, zeramos esse déficit ao longo do tempo, e isso implicou em parte em utilizar essas receitas disponíveis no caixa. Eu, como prefeito, vou continuar mantendo o sistema previdenciário em equilíbrio, sem onerar aposentados e pensionistas.

A prefeitura continuará aportando recursos para completar os pagamentos?

Não necessariamente. Você pode rentabilizar ativos do Funprevi, como imóveis. Fazer uma nova capitalização, sem mexer nas aposentadorias e na contribuição previdenciária. A gente pode tirar a necessidade de a prefeitura complementar R$ 100 milhões, R$ 200 milhões por ano.

O senhor pretende vender imóveis para reforçar o caixa do Funprevi?

Não tenho dúvida. Esses ativos precisam ser trabalhados, sejam eles rentabilizados, por exemplo, com a construção de prédios, e que esses aluguéis possam se reverter para o sistema previdenciário. É um caminho, e a venda de ativos é outro. A incorporação de ativos da prefeitura também é uma possibilidade. Todo meu trabalho de manutenção do equilíbrio previdenciário vai ser sempre do lado das receitas, não para supressão de direitos dos servidores da prefeitura.

Um relatório do TCM mostra que 43% das escolas são consideradas ?precárias?. Não é um contrassenso prometer mais escolas?

Tem avançado a recuperação dessas escolas. Um exemplo é a climatização. Tínhamos menos de 10% das escolas, em 2008, climatizadas, e hoje já ultrapassamos 80%. Conectividade: menos de 10%, e hoje mais de 80%. Quadras cobertas, já chegamos a quase 60%. Esse orçamento de R$ 5,8 bilhões, para os próximos quatro anos, para colocar toda a rede em ensino integral prevê a construção de 314 escolas e também a recuperação das 1.300 escolas (já existentes).

O senhor é contra o Uber?

Eu não acredito no Uber. Não acredito que essa cidade se sustenta com mais carros na rua, por isso investimos em BRT, no VLT, em transporte de massa e de alta capacidade.

Em um cenário de retração, o senhor promete investir R$ 33 bilhões, sendo R$ 20 bilhões de recursos próprios da prefeitura. O senhor vai aumentar impostos?

Não vou aumentar alíquota de imposto. É plenamente possível investir R$ 33 bilhões quando você tem um orçamento (anual) de R$ 30,5 bilhões. Uma prefeitura que devolve 15% a 16% de seu orçamento em investimentos. A capacidade da prefeitura de alavancar novos investimentos é excepcional. A gente tem nas nossas receitas correntes líquidas apenas 33% de dívida (o limite legal é de 120%). O prefeito Eduardo Paes teve uma gestão exitosa por essa coragem de fazer grandes investimentos. A gente não pode retroceder. Essa conversa dos adversários de que vão cuidar das pessoas, ou ?agora é menos cimento e mais sentimento?. Que história é essa? BRT carrega vento? Escola do Amanhã dá aula para estante? A Clínica da Família está atendendo quem? As pessoas que mais precisam.

O Estado do Rio viveu um boom de investimentos e agora tem dificuldade de pagar salários. O PMDB que levou o estado para essa situação é diferente do PMDB da prefeitura?

O PMDB do estado também fez as UPPs. Teve avanços ao longo dos anos, como a atração de investimentos, a criação das UPAs 24h. Agora o estado está vivendo uma situação que vários estados estão vivendo, que é diferente da situação da capital. O que está em jogo nessa eleição é a avaliação da cidade do Rio, da prefeitura. No momento em que o estado e o governo federal estão vivendo dificuldade, mais ainda precisamos de um prefeito com capacidade de gestão, para fazer o que eu fiz ao lado do prefeito Eduardo Paes.

O senhor disse que não votaria no processo de cassação de Eduardo Cunha, e depois decidiu ir. O que mudou?

No dia 2 de agosto, pedi uma licença sem vencimentos para a Câmara, por conta da campanha. Eu tinha a informação da assessoria da Câmara de que essa licença não poderia ser revista até vencerem os 64 dias, que se encerravam no dia 3 de outubro. Quando eu tive a informação da Câmara de que eu poderia retornar, imediatamente comuniquei que iria lá votar pela cassação e votei.

O PMDB do Rio era um dos principais aliados do governo Dilma, mas foi decisivo para o afastamento da presidente, com o seu voto. O senhor se considera confiável?

Fui a Brasília pela convicção de que o governo da presidente Dilma chegou no limite. Estávamos vivendo crise política e econômica. Ela não reunia condições de tirar o Brasil do atoleiro.