Cotidiano

Mulher de atirador de Orlando teria tentado dissuadi-lo do ataque

ORLANDO — Um grande júri federal dos Estados Unidos foi convocado para analisar uma possível conduta indevida da mulher do homem que matou a tiros 49 pessoas em uma boate gay de Orlando, e ela pode ser acusada criminalmente ainda nesta quarta-feira, afirmou uma fonte familiarizada com o assunto. Noor Salman teria dito à polícia que tentou convencer seu marido, Omar Mateen, de não atacar a casa noturna Pulse.

De acordo com a fonte, Noor sabia dos planos de Mateen para o que se tornou o pior ataque a tiros da História moderna do país, deixando ainda 53 pessoas feridas — seis em estado crítico. Ele teria tentado ligar para a mulher de dentro da boate, enquanto o ataque estava em curso.

Membro da Comissão de Inteligência do Senado, o senador Angus King recebeu um parecer sobre o ataque na Flórida. Segundo ele, a mulher do atirador aparentemente “tinha algum conhecimento do que estava acontecendo”.

— Ela com certeza é, acho que se poderia dizer, uma pessoa suspeita no momento, e parece estar cooperando e pode nos fornecer algumas informações importantes — disse King à rede CNN.

Noor estava com Mateen quando ele estudou possíveis alvos para um ataque nos últimos dois meses, incluindo o parque Disney World, um shopping e a boate Pulse no início de junho, noticiaram os canais de televisão CNN e NBC. Além disso, ela chegou a levá-lo à Pulse em uma ocasião e o acompanhou a uma feira de venda de armas.

Durante o ataque à boate na madrugada de domingo, Mateen ligou para o canal de emergência dos EUA para jurar aliança a vários grupos extremistas, incluindo o Estado Islâmico (EI).

Investigadores federais disseram que ele provavelmente se radicalizou sozinho e que não há indícios de que tenha recebido qualquer instrução ou ajuda de grupos externos. Cidadão americano de 29 anos e filho de imigrantes afegãos, o atirador trabalhava como segurança particular.

— Ele parece ter sido um jovem raivoso, perturbado, instável, que se tornou radical — afirmou o presidente dos EUA, Barack Obama, a repórteres.

A mãe de Noor, Ekbal Zahi Salman, mora em um bairro de classe média da cidade de Rodeo, na Califórnia. Um vizinho disse que Noor Salman só visitou a mãe uma vez depois que se casou com Mateen.

A mãe “não gostava muito dele. Ele não permitia que ela (Noor) viesse aqui”, afirmou o vizinho Rajinder Chahal. Ele disse que conversou com a mãe de Noor após o ataque em Orlando e que “ela estava em lágrimas, chorando”.

'TENDÊNCIAS HOMOSSEXUAIS'

Na terça-feira, a ex-mulher de Mateen disse que “ele poderia ser homossexual” e que deveria ter alguma razão psicológica para o ataque à boate. A declaração de Sitora Yusufiy à emissora americana CNN jogou nova luz sobre a relação de Omar Mateen com a comunidade gay.

A tese de uma possível homossexualidade de Mateen surgiu em vários jornais americanos, podendo complicar o processo para compreender os impulsos psicológicos que o levaram a cometer o mais mortal ataque a tiros da História dos EUA. De acordo com relatos de vizinhos e conhecidos, o agressor chegou a visitar a boate várias vezes e usava aplicativos de relacionamento homossexual.

Sitora, hoje noiva do brasileiro Marcio Dias, teria relatado ao FBI que seu ex-marido tinha “tendências homossexuais”. Em entrevista ao SBT transmitida na segunda-feira, Dias afirmou que o FBI pediu a Sitora para não falar sobre o assunto com a imprensa americana.

— Ela me disse que o pai dele (Mateen) o chamou de gay várias vezes — afirmou Dias a uma repórter do SBT, que foi até a casa do casal, em Boulder, no Colorado.

Seu pai alegou que ele tinha ficado com raiva depois de ver recentemente dois homens se beijando. Imigrante do Uzbequistão, Sitora afirmou ainda ao SBT que era vítima de abuso do ex-marido, de quem se divorciou em 2011. Ela disse também não acreditar em uma ligação com o terrorismo organizado.