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Muito além do zika: golfe dá outras razões para desistências da Rio-2016

O vírus zika foi o motivo alegado por mais de dez golfistas, sendo quatro deles os melhores da atualidade, para abdicarem dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio. O mundo do golfe, contudo, a cada dia começa a deixar claro que a Rio-2016 jamais foi prioridade para muitos dos seus atletas, e que o risco de contágio com o zika pode ter sido apenas uma desculpa confortável para encobrir o desdém em relação aos Jogos.

O norte-irlandês Rory McIlroy foi primeiro golfista do top 4 a usar o vírus zika como justificativa para não competir na Olimpíada do Rio, há três semanas. Na ocasião, o nº 4 do mundo pedia que “o povo da Irlanda” compreendesse sua decisão, aparentando frustração por não representar seu país, e disse que seguiria se esforçando para fazer “orgulhosos” os torcedores. Na última terça-feira, porém, McIlroy foi bem menos polido ao revelar que talvez sequer assista ao golfe na Olimpíada, dizendo que daria prioridade às “coisas que realmente importam”.

McIlroy foi além: disse estar “muito satisfeito” com a sua decisão de não disputar a Olimpíada de 2016, que terá a volta do golfe após 112 anos fora do calendário olímpico, e que não guarda qualquer arrependimento. O banho de sinceridade do norte-irlandês parece corroborar a dúvida levantada pelo presidente da Confederação Brasileira de Golfe, Paulo Pacheco, em entrevista ao GLOBO: de que há motivos muito além do vírus zika por trás das desistências.

— Os jogadores tops estão acostumados a jogar torneios que pagam até US$ 2 milhões para o vencedor fora os acordos que eles fazem com os patrocinadores do evento após a vitória. Não estão acostumados a jogar por uma medalha. Eles também jogam por si, nunca tiveram a experiência de representar um país — disse Pacheco no último dia 2.

GOLFISTAS ABREM O JOGO

Brendon De Jonge, do Zimbábue, foi um dos poucos golfistas a admitir abertamente que o calendário de competições importa mais que representar o país nos Jogos Olímpicos. Ao anunciar que abria mão de competir na Rio-2016, na última quinta, De Jongue deixou claro que o motivo da desistência não era o vírus zika, e sim uma “decisão de negócios”:

— Estou sinceramente desapontado, mas a minha atual colocação no ranking da Copa FedEX não permite que eu me dê ao luxo de perder os torneios John Dere Classic e de Travelers. Essa deve ser uma prioridade para mim e para minha família — afirmou De Jongue, referindo-se ao retorno financeiro dos campeonatos de golfe, muito superiores ao que teria disputando a Olimpíada.

O americano Zach Johnson, que não estava classificado para a Rio-2016, chegou a declarar na segunda-feira que tinha dúvidas se o golfe deveria estar no calendário olímpico. Johnson admitiu que os golfistas se importam mais com os principais torneios de golfe do que com a chance de disputar uma Olimpíada.

— Sem ofender os Jogos Olímpicos, mas eu preferia disputar a Ryder Cup. Acredito que os fãs de golfe prestem atenção aos 'majors' (torneios de grande porte). Eu sei, como jogador, que eles são minhas principais motivações — disse Johnson.

Entre os seis atletas top 10 do mundo que desistiram de participar da Olimpíada do Rio, apenas um — o sul-africano Branden Grace — não citou o vírus zika como justificativa, mas sim sua agenda “extremamente lotada”, sem fazer referência a premiações.