Cotidiano

Morre o jornalista e escritor Luiz Antônio Novaes, o Mineiro, aos 56 anos

RIO – Era julho de 2013, quando o jornalista Luiz Antônio Novaes, o Mineiro, deixou uma mensagem de despedida aos colegas do GLOBO. Não era um adeus definitivo — ele ainda comandaria a sucursal de São Paulo do jornal e, depois, manteria um blog e uma coluna. Mas, em suas próprias palavras, explicou um pouco das razões que o fariam fazer falta na Redação. Entre muitas lembranças, dedicou o texto “aos que dizem que vão sentir saudades do humor, do jeito de reclamar, da agudeza crítica, do ceticismo e até de um certo amor pelo ímpeto criativo”.

E, como ele mesmo contou, desde que desistiu de cursar medicina para optar pelo caminho do jornalismo, foram mais de três décadas e meia. Por onde passou, deixou a saudade a que se referia. Do jeito tranquilo, mesmo nos momentos mais tensos; do amor pela profissão, até nos momentos em que ela precisa se reinventar. Já editor, ele definia os repórteres como suas “almas gêmeas”. “Reportagem, reportagem, reportagem!! Tudo isso eu vi aqui, nas mais diferentes fases da redação. Tudo isso tem que continuar. É o nosso patrimônio. É o nosso compromisso”, decretou, na mensagem aos colegas.

Luiz Antônio Novaes, nascido na cidade de Alfenas, em Minas, formou-se na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Começou a trabalhar em Redação em 1986, como repórter na revista “Veja”. Em seguida, transferiu-se para o jornal “Folha de S.Paulo” e passou pela revista “Isto é”, antes de chegar ao GLOBO, em 1995. Foi coordenador de Nacional e secretário de Redação na sucursal de Brasília entre 1995 e 2000. Entre 2000 e 2001, foi editor de Política, para depois se tornar editor de Primeira Página, cargo que exerceu até meados de 2013. Entre 2014 e 2015, chefiou a sucursal de São Paulo do jornal.

Atualmente, assinava, com a mulher Mara Bergamaschi, o “Blog do Mineiro”, no site do GLOBO, e a coluna “Conexão São Paulo”, no jornal. “Lê os bastidores em suas conexões e contradições, sem perder a ironia. Jamais”, definia-se no blog. A notícia, com toques de humor e ironia, por sinal, sempre o acompanhou. Nas eleições de 2002, lançou a coluna “No balanço da campanha”, aos domingos, com um resumo descontraído dos acontecimentos da semana. Seus títulos na primeira página também eram conhecidos pela criatividade.

No GLOBO, Mineiro venceu, junto com Rodolfo Fernandes e Claudio Prudente, a edição de 2003 do Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria Primeira Página. O trabalho vencedor, com a manchete “Choque e pavor”, de 22 de março daquele ano, mostrava uma foto de uma explosão em Bagdá formando um enorme cogumelo que ocupava quase todo o lado esquerdo da página.

Há pouco mais de um ano, o jornalista se dedicava à preparação de um livro sobre a história do PT, a ser publicado pela Companhia das Letras, para o qual já havia feito uma série de entrevistas. Na juventude, Mineiro participou do Liberdade e Luta (Libelu), tendência do movimento estudantil brasileiro dos anos 1970, que teve alguns de seus quadros incorporados pelo PT.

Nos anos 1990, Mineiro já havia escrito dois livros sobre dois ex-presidentes do país. Em 1992, ano do impeachment de Fernando Collor, lançou com os jornalistas Gustavo Krieger e Tales Faria o livro “Todos os sócios do presidente”. Em 1994, publicou “Como Fernando Henrique foi eleito presidente”, com Luciano Suassuna. Há duas semanas, Mineiro, de 56 anos, foi internado com pancretatite aguda. Ele deixa viúva e dois filhos, Barbara e Álvaro.