Cotidiano

Missão da ONU no Haiti enfrenta pedidos de paternidade

PORT SALUT, Haiti ? A primeira vez em que Rosa Mina Joseph encontrou Julio Cesar Posse ele estava em roupas civis em uma praia do Haiti, onde trabalhava como parte da missão de paz da ONU, a Minustah. O uruguaio passou a visitá-la todos os fins de semana, afirmando seu amor em espanhol e crioulo. Mas um ano depois retornou discretamente a seu país, deixando para trás Rosa, de 17 anos, com um bebê que não consegue sustentar sozinha.

? Ele prometeu se casar comigo ? conta Rosa, agora com 22 anos.

Ela e várias mulheres com filhos de soldados da missão de paz dizem que vão entrar com processos contra os pais ausentes e a ONU. O advogado Mario Joseph, que também está à frente de 5 mil casos sobre transmissão de cólera no país, informou que entrará com o processo este mês.

A missão foi enviada ao Haiti em 2004 para manter a ordem após uma rebelião que derrubou o presidente Jean-Bertrand Aristide. Desde então, vários soldados foram acusados de estupro e outros abusos, uso excessivo da força e de transmitir cólera inadvertidamente. As tropas da ONU têm sido acusadas de exploração sexual em outros lugares, e os ?bebês das missões de paz? há tempos são um legado de seus deslocamentos.

Rosa, cujo bebê nasceu em 2011, diz ter recebido um envelope com US$ 300 da ONU dois anos atrás, quando a paternidade foi reconhecida. Posse enviou mais US$ 100 do Uruguai, mas depois não mandou mais nada.

Embora ela fosse menor de idade na época, dificilmente o uruguaio será alvo de acusação criminal: os membros das missões da ONU não podem ser processados em países onde servem sob acordos internacionais.

? Quero que ele assuma a responsabilidade de cuidar de seu filho ? disse Rosa.

2016 923271918-201607132357224007_AP.jpg_20160713.jpgA força da ONU no Haiti tem atualmente 4.899 militares e policiais de mais de uma dezena de países. Bem menos do que os 13 mil da época do terremoto de 2010.

Ghandi Shukry, chefe de Conduta e Disciplina da missão, disse que 29 reivindicações de paternidade foram apresentadas. Dezoito das reclamantes foram classificadas como vítimas porque não recebem apoio algum.

? Não estamos enfrentando uma onda de pedidos de paternidade. São todos casos antigos ? afirmou Shukry, ressaltando que as relações sexuais entre os membros da missão e os habitantes são proibidas.

Segundo Shukry, a unidade colocou algumas requerentes em contato com as forças uruguaias. As mulheres, no entanto, dizem que o acesso nesses casos é raro. O porta-voz da Marinha uruguaia, capitão Gaston Jaunsolo, admitiu quatro casos, com apenas um teste positivo de DNA. Os militares considerados culpados são punidos e barrados das missões de paz.

Posse está proibido de falar com a imprensa sem permissão. E seu telefone está sem serviço. Seu perfil em uma rede social diz que ele busca uma mulher de 18 a 25 anos para iniciar uma família.