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Micale, de profissional desconhecido a comandante do título inédito

Quando ouviu seu nome ser gritado pela torcida, Rogério Micale soube que tinha entrado para a história do futebol brasileiro. Pelo resgate de um Maracanã grandioso, pela conquista de um título inédito, e pela demonstração de capacidade de suportar a pressão em casa, o treinador, que escolheu um terno para a ocasião mais do que especial, sabe que agora pertence à elite do esporte fino do Brasil.

? É um resgate da nossa autoestima. O nosso futebol está vivo, precisa de acertos, mas podemos fazer o nosso povo um pouco feliz neste dia de hoje. E eu fico muito feliz de poder participar disso ? disse Micale, ainda no campo, em entrevista ao SporTV.

Abraçado à comissão técnica, em uma posição paralela ao pódio, de frente para a arquibancada, Micale foi premiado mesmo sem medalha. Enquanto os jogadores cantavam o hino nacional com um memorável público como segunda voz, o técnico viu que estava em uma posição de destaque perante a torcida. Quando olhou para cima e viu a multidão entoar de pulmão cheio o “Ouviram do Ipiranga”, ele lembrou de agradecer aos céus.

? É indescritível este momento, como Deus reserva as coisas para a gente é impressionante. A gente começou este trabalho, aconteceu tudo que aconteceu, e um final, nos pênaltis, pegando a última bola… Deus é maravilhoso. Esses jogadores, a dedicação, a entrega, um grupo extremamente qualificado, fechado. Só tenho a agradecer por este momento ? declarou.

A eficiência discreta de Micale contrastava com a eloquência de Horst Hrubesch na outra área técnica. Enquanto o alemão reclamava dos pedidos de faltas dos brasileiros balançando os braços, Micale só se agitava para tentar levar o time à frente, gesticulando para pedir agilidade no contra-ataque.

Quando o gol saiu, em belíssima cobrança de falta, ele pegou Neymar no colo para comemorar. Ao levar o empate, começou a se decompor como seu time. Chegou a tirar o paletó e a fica apenas de camisa social. No fim, o melhor trunfo que poderia tirar da manga era a confiança em seus jogadores na cobrança de pênaltis.

? Depois de um início difícil, a equipe encorpou. São ótimos profissionais, grande qualidade técnica. Saio daqui com a sensação de dever cumprido ? declarou Micale.

Aos 47 anos, o baiano de Salvador nem seria o técnico do Brasil na Olimpíada. Faria toda a preparação e daria o cargo a Dunga. Com a demissão do treinador e a chegada de Tite, ele permaneceu no comando e entrou para história com um feito que nem medalhões como Zagallo, Vanderlei Luxemburgo, Carlos Alberto Silva, Dunga e Mano Menezes conseguiram.

Após começar a Olimpíada empatando em 0 a 0 com a África do Sul, Micale teve que lidar com a desconfiança da torcida. A repetição do empate sem gols no jogo contra o Iraque fez com que o técnico, humildemente, pedisse desculpas à torcida. Na partida seguinte, Gabigol encerrou o jejum e o Brasil venceu a Dinamarca por 4 a 0.