Cotidiano

Mapa da mina: corredor do Recreio à Zona Norte deve decidir eleição

Um corredor que vai do Recreio em direção a bairros da Zona Norte, formado por cerca de 2,4 milhões de eleitores, é a área onde os dois candidatos que disputam o segundo turno do Rio deverão concentrar suas estratégias para conquistar novos eleitores. Uma análise feita a partir dos resultados do primeiro turno mostra que a geografia do voto voltou a apresentar um padrão identificado em 2008, com áreas habitadas por eleitores mais propensos a votar em um dos candidatos e a rejeitar o seu concorrente. São regiões que formam manchas com associações consistentes dos votos em Marcelo Crivella (PRB) ou em Marcelo Freixo (PSOL). No meio desses dois grandes grupos, há uma grande área em que os votos ainda podem migrar, já que os eleitores escolheram diferentes candidatos, sem um padrão consistente entre as zonas eleitorais.

Com a ajuda de um software que mensura estaticamente a densidade dos votos segundo as zonas eleitorais próximas, o Núcleo de Dados do GLOBO produziu um mapa que identifica as regiões onde Crivella e Freixo tiveram votações acima de suas médias. Quando há esse comportamento, alta votação em áreas contíguas, o software identifica as regiões onde um candidato foi forte e, o outro, mais fraco em relação ao adversário. As cores são geradas quando as diferenças entre os dois forem estatisticamente significativas.

Pelos dados, Freixo apresentou uma votação consistente em zonas de bairros da Zona Sul e parte da Grande Tijuca, onde votam cerca de 900 mil cariocas, enquanto a votação em Crivella formou uma área consistente entre bairros da Zona Oeste com um contingente de 1,4 milhão de eleitores.

Crivella, por exemplo, registrou votação acima dos 30% em todas as zonas da área azul do mapa. Em Santa Cruz, o candidato do PRB chegou a 41,1% dos votos, enquanto Freixo teve seu pior desempenho, com apenas 7,3%. No outro lado da cidade, a pior votação de Crivella foi em Ipanema (6,9%), onde Freixo ficou em segundo (22%). Os testes demonstraram que em toda zona eleitoral que Crivella teve mais votos, Freixo tendeu a receber menos, e vice-versa.

A sobreposição dos mapas mostra ainda que a distribuição geográfica dos votos de Freixo é mais semelhante à de Carlos Osório (PSDB) e Indio da Costa (PSD), enquanto a de Crivella está mais próxima geograficamente de Flávio Bolsonaro (PSC). A distribuição da votação de Pedro Paulo (PMDB) não apresentou uma associação clara com os votos de Crivella ou de Freixo. Onde há sobreposição, os candidatos, em tese, têm mais chances de conquistar votos, embora fatores políticos também gerem dificuldades. A proximidade de Freixo com o PT, por exemplo, pode ser um fator de rejeição dos eleitores da Zona Sul mais identificados com o então candidato do PSDB e do PSD à prefeitura do Rio.

Crivella e Freixo precisam conquistar novos eleitores que estão em áreas que registraram mais votos para diferentes candidatos no primeiro turno, mas sem a formação de regiões contíguas a favor de um ou de outro competidor. Nessas áreas, que praticamente dividem o eleitorado dos dois candidatos em dois extremos da cidade (em azul e amarelo no mapa), estão os votos que deverão decidir o segundo turno, e elas são formadas por vários bairros da Zona Norte do Rio. Na eleição de 2008, quando Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) disputaram o segundo turno, a distribuição dos votos foi semelhante a de agora. Gabeira com forte presença na Zona Sul e parte da Grande Tijuca, e Paes com domínio sobre a Zona Oeste.