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Líder de ranking no boxe vê portas fechadas na Rio-2016: 'Falta critério'

O sonho olímpico de Taynna Cardoso acabou na lona. A melhor pugilista do ranking brasileiro no peso leve (até 60 kg), uma das três categorias olímpicas do boxe feminino, sequer foi chamada para a última chance de conquistar uma vaga na Rio-2016: o Campeonato Mundial em Astana, no Cazaquistão, que começou na quinta-feira e vai até o dia 27.

Dizer que a ausência não foi bem digerida pela boxeadora, de 27 anos, é um eufemismo. Taynna se diz iludida pelos critérios de classificação da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), que a dispensou da seleção brasileira no último mês, e pensa até em largar o esporte amador.

— Parei a minha vida nesses quatro anos, acreditando em uma possibilidade justa de brigar pela vaga nas Olimpíadas. O esporte amador tem portas abertas para qualquer pessoa, é muito bom representar seu país, mas os interesses políticos têm atrapalhado muito. É uma falta de critério muito grande — dispara.

A CBBoxe tinha direito a indicar uma atleta, de qualquer peso, para uma vaga reservada ao Brasil no boxe feminino. A opção foi por Adriana Araújo, medalha de bronze nas Olimpíadas de Londres-2012 e que compete atualmente no peso médio-ligeiro (até 64 kg), categoria não olímpica. Nos Jogos, Adriana competirá no peso leve (até 60 kg), divisão que Taynna lidera com folga no ranking nacional de boxe — esporte que foi apresentado no primeiro capítulo da série “Segredos Olímpicos”, do GLOBO (veja o vídeo abaixo).

DISPENSA CONTROVERSA DA SELEÇÃO

Restava tentar a vaga através de torneios pré-olímpicos, mas Taynna foi dispensada da seleção brasileira no início do mês. A explicação oficial foi corte de custos — as atletas da seleção dividem uma casa em São Paulo, sustentada pela confederação. Mas a lutadora e seus familiares não foram convencidos pela justificativa.

— Demitiram a Taynna da seleção para eliminar o risco dela ser campeã mundial, porque aumentaria a pressão para tirarem a Adriana da vaga olímpica. Adriana tem prioridade porque ganha bolsa do Ministério do Esporte. — acusa Luis Cardoso, pai e treinador de Taynna.

Cardoso refere-se ao programa Bolsa Pódio, auxílio financeiro do governo federal, entre R$ 5 mil e R$ 15 mil mensais, para medalhistas olímpicos ou atletas que tiveram desempenho expressivo em campeonatos mundiais. Adriana recebe o auxílio. Taynna Cardoso, por sua vez, foi contemplada em 2015 com o Bolsa Atleta, auxílio que pode chegar a até R$ 3,1 mil. O Ministério do Esporte, em nota, informou que “não interfere na convocação de atletas que compõem as seleções brasileiras”.

CRITÉRIO DIFERENTE NO MASCULINO

A preferência por Adriana Araújo deixou o Brasil sem competidora na categoria até 60 kg no Pré-Olímpico de Buenos Aires, em março. A pugilista foi impedida de entrar no ringue porque já tinha vaga garantida, graças à indicação da CBBoxe. No Campeonato Mundial, que não conta apenas como classificatório olímpico, Adriana pode competir normalmente — ela estreia no sábado, com adversária ainda a ser definida.

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No boxe masculino, por outro lado, a confederação adotou um critério diferente para selecionar os pugilistas que disputarão o Mundial em junho, no Azerbaijão.

— Não vou disputar o Mundial. A prioridade é para os atletas que ainda lutam por vaga olímpica — afirma Patrick Lourenço, classificado para a Rio-2016 na categoria mosca-ligeiro (até 49 kg). — Sou amigo da Taynna e da Adriana, as duas têm grande potencial, mas esse problema não pode interferir na nossa preparação. A gente tenta não se meter nesses assuntos.

A explicação oficial da CBBoxe sobre a escolha de Adriana Araújo para a vaga feminina na Rio-2016 é uma “análise técnica”. A entidade garante ainda que a dispensa de Taynna não representa impedimento para que ela volte a treinar com a seleção brasileira futuramente.

RESULTADOS DE ADRIANA PREOCUPAM

Os resultados esportivos recentes de Adriana não empolgam. Em 2015, foi derrotada no torneio classificatório para o Pan de Toronto e não conseguiu vaga no Canadá. Depois dos Jogos de Londres-2012, quando se tornou a primeira boxeadora brasileira a subir no pódio, Adriana teve um período turbulento com a CBBoxe e ficou afastada da seleção até 2014.

Desde então, contudo, parece viver lua de mel com o establishment esportivo, a ponto de ser escolhida uma das dez primeiras pessoas a carregar a tocha olímpica no início do revezamento pelo Brasil, no último dia 3. Procurada, a assessoria de Adriana Araújo informou que a atleta não comentaria sua classificação para as Olimpíadas e que está concentrada na disputa do Campeonato Mundial feminino.

Além de Adriana, a CBBoxe selecionou Graziele Jesus (até 51 kg) e Andreia Bandeira (até 75 kg) para disputar o Mundial. Graziele perdeu na primeira rodada para a americana Virginia Fuchs, na quinta-feira, por decisão unânime. Andreia estreia nesta sexta contra Atheyna Byion, do Panamá.