Cotidiano

Joselia Aguiar é anunciada como curadora da Flip 2017

JoseliaAguiar_Silvia Constanti.jpgRIO – A 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) já tem um curador. Ou melhor, curadora – a primeira desde 2006. É a jornalista baiana radicada em São Paulo Joselia Aguiar. Com experiência como colunista da ?Folha de
S.Paulo? e editora da extinta revista mensal ?EntreLivros?, Joselia sempre acompanhou o evento de perto em suas coberturas. Agora, terá o desafio de passar
para o outro lado. A nova curadora já antecipa alguns de seus planos para a
próxima edição do evento, que deve ocorrer no segundo semestre de 2017. Quer ampliar o diálogo com outras artes, reforçar a
relação com o território da cidade e ampliar a dimensão literária da
programação. E já tem seu candidato favorito ao posto de homenageado da festa,
embora garanta que o nome ainda não tenha sido decidido pela organização.

? Há três anos, eu participei da campanha para escolher Lima Barreto como
autor homenageado, então não posso negar a preferência ? lembra Joselia, em
entrevista por telefone. ? Sempre entendi que as condições raciais e
socioeconômicas fizeram com que ele fosse desprestigiado, e acho que é
importante valorizar o que deixamos para trás.

Autora de uma biografia de Jorge Amado (homenageado na Flip em 2006), com lançamento
previsto para 2017, pelo selo Três Estrelas, do Grupo Folha, é a primeira mulher
a chefiar a curadoria da Flip desde Ruth Lanna (2005-2006). Ela se diz sensível
às discussões dos últimos anos sobre uma maior presença de mulheres e negros no
evento ? e promete que isso irá se refletir na programação. Aliás, a possível escolha de
um homenageado negro e marginalizado como Lima Barreto (1881-1922) passaria
também ? mas não só ? por essa questão.

? Um autor negro ou mulher, que pertença a uma minoria, quer estar representado, mas quer ser reconhecido pela sua qualidade ? observa Joselia. ? As duas coisas ao mesmo tempo. É importantíssimo cuidar pela representação numérica, sim; o passo seguinte é mostrar que isso não é concessão, ou apenas parecer diverso, que esses autores são genias mesmo.

Outra ideia de Joselia é que a Flip 2017 vá além das mesas e da relação
convidado e ouvinte, dando uma maior ?dimensão literária? ao evento.

? Quero pensar mesas de uma maneira em que elas se façam presentes em
atividades fora da programação fixa, para que quem vá à Flip tenha mais opções
de contato com os livros ? adianta. ? Tenho o desafio de manter a Flip como referência, oferecendo

Diretor-geral da Flip, Mauro Munhoz explica que a escolha de Joselia se deu pela
?sua contribuição ao jornalismo cultural brasileiro e por sua formação
multidisciplinar, que faz uma interseção entre jornalismo, História e
literatura?.

? Ela demonstrou ter uma compreensão do que é a Flip, expressa no seu desejo
de reforçar a experiência corporal de estar em Paraty, o caráter literário da
Flip e seu diálogo com o território e as outras artes ? acrescenta Munhoz, em entrevista por e-mail.

O diretor-geral do evento também comenta que em 2017 espera uma melhora no cenário econômico. Mas ressalta que, mesmo se isso não acontecer, buscará “a melhor maneira de manter a experiência Flip e as ações de permanência no território de Paraty”.

? Ao longo das quatorze edições, trabalhamos com distintos cenários políticos e econômicos: estagnação econômica, crescimento econômico, dólar alto, dólar baixo, a crise de 2008 ? lembra. ? Em nenhum momento, a experiência Flip foi prejudicada. Mesmo porque, ao longo de todo esse período, nós desenvolvemos um know how que permite à Casa Azul adaptar-se às diferentes circunstâncias, além do fato de a Flip ser um evento consolidado e um dos mais prestigiados do país e do mundo, o que nos ajuda a realizar boas parcerias e ter uma relativa previsibilidade no que diz respeito a patrocínios.