Esportes

José Rodrigues, o motorista e 'general' da Rio-2016

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‘Uma turma lá na garagem fala que eu pareço general, cheio de estrelas’. É desta maneira que José Rodrigues se diverte ao falar sobre um de seus legados olímpicos: os mais de 20 pins, de diversos países. Formado em Contabilidade e com pós em Controladoria, mas, atualmente, desempregado, esse carioca, morador do Pechincha, em Jacarepaguá, é um dos motoristas à disposição da família olímpica.

– Como possuo habilitação D (para dirigir até ônibus) e, devido à crise que o país está passando, recebi um convite de um amigo para me inscrever (no processo seletivo). Não esperava ser chamado, mas foi uma experiência que adorei. Conheci gente do mundo inteiro em um único lugar, de todos os continentes e perto de casa. Adorei e até faria isso de graça – diz, sorrindo, José.

Rodrigues foi contratado por uma das empresas que terceirizaram serviços durante a Rio-2016. Como não tem inglês fluente (apesar de saudar vários atletas e representantes das delegações), o carioca recebeu R$ 2.100 pelo trabalho na Olimpíada. Já os que dominam o idioma mais falado nos Jogos receberam R$ 3.000.

– Fiz curso de inglês durante um ano e muitos aqui estão trabalhando justamente para melhorar esse idioma. Eu também melhorei. Mas, outro dia, quando levei uma atleta americana de lançamento de disco, ela estava falando muito rápido, pedi para falar um pouco devagar. E quando a gente não se entendia no inglês, ela pedia ajuda a uma colega, que falava espanhol – recorda o motorista.

Como nem todos da família olímpica já deixaram o Rio, Rodrigues continua trabalhando até esta quarta. E, desde a semana anterior ao início dos Jogos, percorreu todas as arenas e hotéis da Olimpíada.

– No meu itinerário, trabalhei em todos os destinos olímpicos. Desde Deodoro, todos os destinos olímpicos, os hotéis, sambódromo. Eram seis, sete viagens por dia, às vezes até 10, conforme a demanda. Meu horário oficial era das 7h e às 16h. Mas tiveram dias em que saímos às 19h também, porque a demanda foi muito grande – conta.IMG_2280.JPG

E a coleção de pins de Rodrigues começou desde quando ele viu outros motoristas exibindo suas conquistas junto às respectivas credenciais:

– Eu cheguei aqui (na vila) e tinha um pessoal cheio de pin e eu sem nenhum. Aí comecei a reclamar e me disseram que eu tinha que ir à vila. Aí cheguei chorando, pedindo para me mandarem, pelo menos uma vez, para a vila. Eles me mandaram e a coleção começou – comenta.

O motorista carioca também revela como é sua estratégia para aumentar o número de pins:

– Sempre peço, às vezes em inglês. Há uns que pedem para trocar, outros dão mesmo. Hoje eu tenho mais de 20, mas já dei e já troquei.

Enquanto as ‘férias’ não chegam, Rodrigues sonha em ser chamado para a Paralimpíada, que começa dia 7, e para a próxima edição dos Jogos:

– Adorei conhecer atletas, pessoas de comitê olímpico. Já até me candidatei para a Paralimpíada e, quem sabe, eu possa estar em Tóquio (em 2020) também. Foi uma experiência fantástica.