Cotidiano

Intérprete dos próprios EUA, iraquiano fica detido por 19h ao entrar no país

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NOVA YORK – Manifestantes se concentraram no aeroporto internacional John F. Kennedy em resposta aos novos decretos do presidente Donald Trump ? suspendendo o programa de acolhida de refugiados durante, pelo menos, 120 dias, enquanto se concretiza o futuro sistema de verificação de vistos, e proibindo a entrada nos Estados Unidos de viajantes procedentes de países de maioria muçulmana (Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen) durante 90 dias. Até mesmo deterntores de green cards estão barrados, disse o governo. Trump

Várias associações americanas de defesa dos direitos civis logo reagiram e apresentaram um recurso judicial contra o decreto assinado por Trump. A ação foi apresentada em um tribunal federal de Nova York pela União Americana das Liberdades Civis (ACLU) e outras associações depois que dois iraquianos foram detidos na sexta-feira à noite no aeroporto JFK (Nova York) com base no decreto recém promulgado.

Um deles trabalhou para o governo americano no Iraque durante 10 anos e o outro foi para os Estados Unidos para se encontrar com sua esposa, que trabalha em uma empresa americana, afirma a ação. O ex-funcionário do governo, Hameed Khalid Darweesh, foi liberado 19 horas depois e falou com os jornalistas no aeroporto. Questionado sobre o que falaria com Trump afirmou: “gosto dele. Mas não sei. Essa é uma política que não conheço. Ele é um presidente. Eu sou uma pessoa comum”.

? Vocês sabem quantos soldados (americanos) cumprimentei com esta minha mão? ? disse, às lágrimas, após cumprimentar deputados que faziam vigília no local.

Mark Doss, um advogado supervisor do International Refugee Project e do Urban Justice Center, comentou que a detenção e posterior liberação de Darweesh demonstram que a nova política está sendo feita “sem nenhuma orientação” em sua aplicação.

As organizações de direito solicitaram que o recurso receba o status de demanda coletiva para poder representar todos os refugiados e viajantes retidos com base na ordem executiva.

“‘Investigações extremas’ é apenas um eufemismo para discriminar os muçulmanos”, considerou Anthony Romero, diretor-executivo da ACLU. Ele assinalou que o decreto viola a proibição constitucional à discriminação religiosa ao escolher países com maiorias muçulmanas para um tratamento mais restrito.

Ahmed Rehab, diretor da seção de Chicago do Conselho de Relações Islâmico-Americanas, disse à AFP que seu grupo ia empreender ações legais para lutar contra o decreto “com unhas e dentes”.

“Está dirigido a pessoas se baseando em sua fé natural e em sua origem nacional, e não em seu caráter ou criminalidade”, advertiu Rehab à AFP.

NEM COM GREEN CARDS

Porta-voz do Departamento de Segurança Doméstica, Gillian Christensen afirmou à agência Reuters que o decreto ?irá barrar os detentores de green cards?, em referência aos cartões de residência permanente nos Estados Unidos.

Os vistos permanentes permitem que imigrantes permaneçam no país sem restrições e estejam elegíveis a direitos de cidadãos americanos. Detentores podem sair do país e voltar a ele sem que tenham de renovar o documento ? só não podem se ausentar dos EUA por mais de um ano ou por longos períodos sucessivos.USA-TRUMP_IMMIGRATION-G7Q33I14M.1.jpg

PROMESSA CUMPRIDA

A medida sobre a imigração muçulmana cumpre com uma das promessas mais polêmicas da campanha, quando Trump disse que ia frear a imigração de cidadãos de vários países muçulmanos que, segundo ele, são uma ameaça terrorista para os Estados Unidos, e submeter viajantes estrangeiros dessas nações a “investigações extremas”.

“Isso é muito importante”, disse o presidente na sexta-feira, no Pentágono, depois de assinar a ordem executiva intitulada “Proteção da nação contra a entrada de terroristas estrangeiros nos Estados Unidos”.

Os novos protocolos “asseguram que os refugiados aprovados para admissão não supõem nenhuma ameaça para a segurança e o bem-estar dos Estados Unidos”, mas vetam especificamente os refugiados sírios indefinidamente ou até que o presidente decida que já não são uma ameaça.

Durante a renovação do sistema de vistos serão feitas algumas exceções a pessoas pertencentes a “minorias religiosas”, que favorecerão principalmente os cristãos.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, se mostrou esperançoso de que estas medidas sejam “temporárias” já que “a necessidade de proteger os refugiados nunca foi tão grande como agora”, segundo expressou seu porta-voz Stéphane Dujarric.