Esportes

Gyouun Vieira, um monge budista na festa dos atletas

201607311458189016.jpg-GOF2R8BMV.1.jpgRIO – Ele está num lugar privilegiado, tem acesso a muitos dos maiores atletas do mundo e nem liga para isso. O monge budista Gyouun Vieira, de 26 anos, é uma das autoridades religiosas da Vila Olímpica. Cabe a ele dar um auxilio espiritual dentro da sua fé a atletas e voluntários que convivem na Vila dos Atletas antes e durante a competição que começa na próxima sexta-feira.

Caminhando quase sem ser notado no meio de atletas e jornalistas na área internacional da Vila, poucos sabem que Gyounn não tem muito interesse em esporte. Não pratica nenhuma modalidade mesmo por recreação ou hábito saudável, nem tem vontade de conhecer alguma celebridade, como o tenista Rafael Nadal ou o velocista Usain Bolt.

? Não acompanho nenhum esporte ? disse o monge, calmo e sorridente.

A Vila tem espaços voltados para todas as maiores religiões. Há padres católicos, um espaço para os judeus e uma área voltada para os muçulmamos, que são vizinhos dos budistas no espaço.

? Somos vizinhos. Convivemos no mesmo corredor. É uma convivência harmônica. Conversamos, trocamos experiências, tiramos as curiosidades um do outro e isso mostra que todos nós podemos conviver em harmonia. Não precisa ter rixa nem diferença. Apesar das práticas, doutrinas e crenças serem distintas, a gente consegue conviver em paz.

Gyouun é natural do Paraná. Tornou-se monge em Londrina em um momento da juventude em que estava enfrentando questionamentos sobre o futuro e o que pretendia da vida. Encontrou a paz de espírito no budismo primordial, uma vertente japonesa que chegou ao Brasil junto com os imigrantes, em 1908. Logo depois, foi para São Paulo, de lá foi convocado para auxiliar a área budista que seria montada dentro da Vila Olímpica.

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Não por acaso, o maior número de atletas que vêm visitando o templo é do Japão.

? Temos vários elementos (na decoração) que identificam a cultura japonesa. Por isso, eles se sentem em casa dentro de um templo budista aqui no Brasil ? disse Gyounn, que é monge há três anos.

EQUILIBRIO

Ele conta que muitos atletas e voluntários têm procurado o espaço por curiosidade.

? Eles perguntam primeiro o que é, como faz e qual é o efeito. O budismo é uma religião em que a gente busca o aperfeiçoamento espiritual. Eu busco a religião para me tornar uma pessoa melhor, viver melhor comugo mesmo e com as pessoas a minha volta. E faço isso atravès da entoação do mantra da iluminação. Seguimos os ensinamentos de Buda chamado Sutra Lotus. Através desse mantra, conseguimos apaziguar o nosso coração, deixar a nossa mente leve e ficar concentrado para o que realmente importa. No caso dos atletas, são os seus treinos, competições…

E ele garante que um atleta concentrado e em harmonia consigo mesmo consegue melhores resultados.

? O nervosismo e a ansiedade são coisas que podem corroer o atleta por dentro, fazer com que ele se sinta desanimado e achando que não vai conseguir mesmo tendo treinado muito. É como os estudantes em época de prova. Nesse momento, eles também precisam ter calma.

Com tanta calma e tranquilidade, será que algo é capaz de irrritar um monge?

? O fato de ser budista não faz com que estejamos livres de qualquer sofrimento. Da mesma forma que comprar uma máquina de lavar roupa não faz com que a sua roupa não fique suja. Ela vai ficar suja se você rolar na terra. Mas você sabe a forma de deixá-la limpa novamente. Não é que nada vá me irritar, mas agora eu conheço uma forma de me limpar novamente e purificar o meu coração. É um mantra de meditação ativa, que você pode falar com coração.