Cotidiano

Governadora de Roraima deve criar nesta quinta-feira gabinete emergencial

RIO – A governadora de Roraima, Suely Campos, deve assinar na tarde desta
quinta-feira o despacho que cria o gabinete emergencial para lidar com a
imigração de venezuelanos. A informação é do coronel Edvaldo Amaral, comandante
da Defesa Civil no estado, que vai coordenar o grupo de trabalho, composto por
onze secretarias, além da companhia de desenvolvimento, de água e esgoto, do
Corpo de Bombeiros e da própria Defesa Civil.

Segundo o comandante da Defesa Civil, a estimativa é que mais de 30 mil
imigrantes estejam em Roraima. Os venezuelanos utilizam como porta de entrada o
município de Pacaraima ? a ?fronteira seca? com o país ?, cidade com pouco mais
de 10 mil habitantes localizada no Norte de Roraima. Mais de 58 mil venezuelanos
acessaram o Brasil pela localidade neste ano, de acordo com a Polícia
Federal.

Habitantes do país vizinho, que enfrenta grave crise econômica e tem até
restrição de produtos considerados básicos, atravessam a fronteira em busca de
melhores condições no Brasil.

PEDIDOS DE REFÚGIO DISPARAM

De acordo com a Polícia Federal, a documentação recebida referente aos
pedidos de refúgio é enviada ao Conselho Nacional de Refugiados (Conare),
?entidade competente para análise das solicitações de refúgio, com sede em
Brasília (DF)?. A corporação informou que, em 2014, foram realizadas 33
deportações, contra 54 no ano seguinte. Em 2016, as deportações já somam
414.

Os pedidos de refúgio também registraram uma forte alta. Em 2014, foram nove
pedidos de refúgio. No ano seguinte, 234 imigrantes solicitaram a condição. Este
ano, 959 pedidos já foram protocolados ? uma alta de 309% em relação a 2015.

Os números deste ano foram atualizados até esta o início da tarde desta
quinta-feira.

DEFESA CIVIL ALERTA PARA CRISE HUMANITÁRIA

De acordo com o coronel Edvaldo Amaral, a ideia é que as reuniões do gabinete
emergencial comecem já nesta sexta-feira ou ainda neste fim de semana. Ele não
cita, porém, quais as primeiras medidas que devem ser adotadas.

? A gente reluta muito em decretar uma situação de emergência, como aconteceu
no Acre (com a imigração de haitianos). Vai gerar uma demanda muito superior a
nossa capacidade de atendimento. Temos que achar uma solução em conjunto. O
Governo Federal precisa nos ajudar. Se eles (venezuelanos) receberem o status de
refugiados eles precisarão ser redistribuídos para outros estados ? afirma o
comandante da Defesa Civil. ? Lá, eram sete mil e poucos haitianos imigrantes.
Aqui estamos com 30 mil. Muito difícil dar abrigo e alimentação, muitos têm
doenças contagiosas e precisa de triagem com a Secretaria de Saúde. É uma mega
operação que precisa de muito apoio. Precisamos de uma ajuda.

Edvaldo Amaral, que também é chefe do Corpo de Bombeiros em Roraima, acredita
que não há perspectiva de solução do quadro no curto prazo. Para ele, o panorama
é de uma crise humanitária:

? Como se trata de uma questão humanitária, elas não têm a curto prazo
perspectiva de melhora no seu país. Eles vão tentar status de refugiado enquanto
não houver melhora no país de origem. Quase 30 mil pessoas.

Para o comandante da Defesa Civil, Roraima já sente os efeitos sociais do
grande número de venezuelanos ilegais que buscam melhores condições de vida no
Brasil.

? Isso tem acarretado aumento da violência, da prostituição, de pedintes nas
ruas aumentando o cinturão de pobreza na periferia da nossa capital. Aumentou o
trabalho informal de mão de obra. Muitos pedem o status de refugiado no país.
Eles pedem à PF, que manda para o conselho de refugiado e demora até um ano para
definir o status. O impacto afeta até o custo de vida, que aumentou. Muitos vem
aqui comprar gênero de primeira necessidade, como arroz ? diz o comandante da
Defesa Civil coronel Edvaldo Amaral.

PARACAIMA, PORTA DE ENTRADA

Entre 13 de outubro de 2015 e 13 de outubro deste ano, a Polícia Federal
registrou 58.211 entradas legais de venezuelanos no Brasil pelo ponto de
migração terrestre em Pacaraima (RR) ? o equivalente a 99,57% dos imigrantes
daquele país. O ponto de migração terrestre em Bonfim, no mesmo estado,
registrou 221 imigrantes da mesma nacionalidade (0,38% do total). O aeroporto
internacional de Boa Vista, capital de Roraima, recebeu 31 venezuelanos neste
mesmo período, o correspondente a 0,05%.