Cotidiano

Golpe faz dezenas de vítimas na região

Trade com sede em Brasília desapareceu com dinheiro investido por 240 mil pessoas

Cascavel – O termo “moeda virtual” é relativamente novo, não tem nem uma década de vida e representa uma forma não regulamentada de dinheiro, comumente distribuída e controlada por seus desenvolvedores. Ela é usada e aceita entre os membros de uma comunidade virtual específica. Com ela é possível comprar e vender em todo o mundo – virtual – desde pacotes de viagens, tênis, roupa, até drogas e armas de grosso calibre ou as de uso restrito. Tudo isso com o mais absoluto sigilo sobre a identidade, sem nenhum tipo de rastreamento do emissor ou receptor.

Esse termo ainda incomum a muitos brasileiros começa a se popularizar e há quem arrisque dizer que em duas ou três décadas – talvez menos do que isso ainda – a moeda virtual será a única a reger qualquer tipo de transação, acabando com o dinheiro físico, aquele que você pega na carteira, ou as moedas que vão para o porquinho (leia mais ao lado).

O mercado que se apresenta como muito promissor e a tendência para um futuro totalmente digital já está fazendo muitas vítimas, inclusive na região.

Uma trade de Brasília, que se dizia uma filial no País de uma renomada corporação americana sediada em Wall Street, aplicou um golpe milionário em cerca de 240 mil brasileiros. Eram pessoas que compraram moedas virtuais com ela e esperavam essa supervalorização, mas só amargaram o prejuízo e a dura constatação: não ter a quem reclamar.

Entre as vítimas estão cerca de 800 paranaenses, dezenas deles residentes na região oeste do Paraná, especialmente nas cidades de Toledo, Cascavel, Corbélia e Foz do Iguaçu.

O golpe

Uma das pessoas lesadas vive em Cascavel e pediu para não ser identificada. Ela contou ao Jornal O Paraná que a empresa se mostrava muito confiável. “Fui a Brasília, almocei com o presidente e o vice da empresa, vi os bens que ela possuía e isso me deixou seguro. Foi então que ela sugeriu a migração dos bitcoins para outra moeda virtual, a kriptacoin, com a promessa de uma valorização ainda maior. Eu acreditei e por alguns meses ela até rendeu muito, cerca de 30% ao mês, mas em agosto veio o golpe. A empresa simplesmente desapareceu com as ações de milhares de pessoas em todo o Brasil, inclusive as minhas”, afirmou.

Para piorar a situação, o cascavelense, que perdeu mais de R$ 300 mil, ainda está devolvendo dinheiro para os amigos. “Eu tirei tudo o que tinha na poupança e investi. Além disso, garanti para alguns amigos que era confiável, que se não fosse seguro eu assumiria o risco e devolveria o dinheiro, e então o golpe aconteceu. Além do que perdi, estou devolvendo dinheiro para cada um deles”, revela.

O agravante, segundo a vítima, é que o golpe foi considerado tão primário pelas forças policiais que não há muito a ser feito para reverter as perdas. “A Polícia Federal apreendeu os bens da empresa, existem pessoas presas, mas tudo foi tão primário que o que nos passaram é que não tem nem como amarrar para que recebamos algo de volta”.

Mesmo assim, o cascavelense não pretende abandonar os investimentos na rede mundial de computadores. “Agora estou mais atento. O segredo está em buscar uma trade de confiança, se certificar de que ela é séria, como muitas são. O kriptacoin é uma moeda séria também, quem não foi séria foi a empresa que aplicou o golpe”, disse, ao lembrar que o investimento desta vez foi em torno de R$ 10 mil.

“No fundo, foi até vergonhoso para nós, que caímos nesta enganação que se mostrou tão frágil e tão primária e não percebemos nada”, alerta.

Bitcoim: futuro ou bolha bilionária?

Entre as moedas virtuais mais conhecidas em todo o mundo virtual estão os bitcoins. Seu criador é alguém misterioso identificado – mas nunca visto – como Satoshi Nakamoto.

Essa moeda vem se difundindo com rapidez e se valorizando com mais agilidade ainda. Para se ter uma ideia, no início do ano um bitcoin era vendido a cerca de R$ 3,5 mil. Mês passado, já custava R$ 15 mil e nesta semana bateu os incríveis R$ 40 mil.

A pergunta é: Onde isso vai parar? Nem os especialistas sabem, mas se estima que uma unidade ainda chegue a R$ 100 mil e até 2040 existam as 21 milhões de unidades da moeda em transação, levando assim à compra e à venda de centavos de bitcoins. Também há quem alerte para os riscos de uma bolha bilionária pestes a estourar. E que deixará muita gente a ver navios.

E como comprar um? O processo é relativamente simples. São dezenas de sites que oferecem este serviço que pode ser feito direto pelo comprador, sem a necessidade de um corretor. Quem faz as compras e as vendas são as chamadas trades, como se fosse uma bolsa de valores. Algumas mais confiáveis outras menos, mas a bem da verdade é que este tipo de negociação ainda deriva em um mar virtual não muito confiável, em todos os sentidos. Não há mecanismos legais para se rastrear o dinheiro, tornando o ambiente uma espécie de paraíso fiscal online. A Receita Federal, por exemplo, não exerce nenhum tipo de controle para saber das transações dos brasileiros, apesar de o governo já pensar em alternativas para taxar ou para rastrear estes recursos, evitando assim evasão de divisas e lavagem de dinheiro.