Cotidiano

Família cruza o país para fazer cirurgia em bebê de 4 dias com problema raro

RIO — Ângelo tem apenas 9 dias de vida, mas sua “bagagem” já é muito maior do que a da maioria das outras crianças da mesma idade. Nascido em 7 de junho, o bebê passou por uma delicada cirurgia em seu quarto dia de vida para corrigir uma má formação que provoca um “buraco” no diafragma, permitindo que o conteúdo da cavidade abdominal passe para o tórax. Com isso, órgãos como o baço e o intestino fazem pressão sobre o pulmão.

O nome do problema é hérnia diafragmática, que, até bem pouco tempo, exigia que os médicos abrissem o peito do bebê para operar. No entanto, Ângelo passou por uma cirurgia com apenas três furinhos, minimamente invasiva, chamada toracoscopia. Esse tipo de operação é realizada em pouquíssimos lugares do país. No Rio, há apenas dois: o Hospital Estadual da Criança e a clínica Perinatal. Foi nesta última que Ângelo foi operado.

A família veio de João Pessoa, na Paraíba, estado onde não há unidade de saúde com a estrutura necessária para a cirurgia. Aldair Paiva e Angelita Meira, os pais do menino, chegaram ao Rio quase um mês antes do parto e, só agora, com a operação realizada, começam a respirar aliviados.

— Desde que descobrimos, na 22ª semana de gestação, nossa vida mudou completamente — conta Aldair. — Assim que soubemos, foi muito complicado porque é uma má formação que dá risco de vida. Em João Pessoa existem alguns casos, mas o caso do Ângelo era ainda mais difícil porque o defeito era do lado direito, onde fica o fígado. O mais comum é que seja do lado esquerdo. Apesar de a gestação ter corrido normalmente durante todo o tempo, ficamos muito apreensivos.

Agora, passando bem, o menino tem o melhor prognóstico possível: ficar com o problema completamente corrigido e sem sequelas. Somente aos 6 dias ele tomou pela primeira vez leite materno, apenas 5 ml. E, aos poucos, a sedação está sendo retirada para que ele vá acordando. Ângelo deve ficar na Perinatal por um mês, até poder voltar com os pais para João Pessoa e conhecer a irmã, Angelina, de 4 anos.

— A Angelina até veio com a gente para o Rio, mas mandamos de volta para que ela esperasse junto com outros parentes. Ela ainda nem sabe que o irmão já nasceu. Preferimos que ela não o visse ligado a tubos, no hospital — diz o pai, Aldair.

Esta é a segunda vez que este tipo de cirurgia é feita na Perinatal. A primeira foi há pouco mais de um mês. Já o Hospital Estadual da Criança realiza a operação há três anos. O médico que trouxe a novidade para essas duas unidades, Francisco Nicanor Macedo, explica que toracoscopia diminui os riscos de inflamação.

— Não há corte, então o paciente tem muito menos resposta inflamatória, o que é importante especialmente em se tratando de um bebê — afirma o médico, que é cirurgião pediátrico tanto do Grupo Perinatal e quanto do Hospital Estadual da Criança.