Cotidiano

Exposição faz homenagem ao profeta Gentileza

2016 922447420-201607091815496190.jpg_20160709.jpgRIO ? Os versos do profeta Gentileza já inspiraram músicas, livros, documentários e uma série de mostras. Agora, nos 20 anos de sua morte e às vésperas das celebrações de seu centenário de nascimento, comemorado em 2017, o artista conhecido pelas 56 inscrições em colunas da Avenida Brasil ganha a exposição ?Gentileza ? O verde-amarelo do Rio. Uma releitura contemporânea da arte mural do profeta?, em cartaz no Parque das Ruínas, em Santa Teresa, até 31 de Julho.

Na coletiva, com entrada gratuita, 11 grafiteiros, escultores e ilustradores se inspiraram nos murais de Gentileza para criar trabalhos inéditos.

? O profeta é o primeiro artista de rua do Rio conhecido em todo o país. Neste momento de violência que a cidade vive, dizer ?gentileza gera gentileza? se torna fundamental ? destaca o grafiteiro Bruno Br, curador da mostra e autor da obra ?Poesia concreta?.

O grafiteiro Acme retratou, na obra ?Agradecido?, o profeta com uma águia na cabeça e o Circo Norte-Americano, destruído num incêndio que resultou na morte de 500 pessoas em Niterói, em 1961. Depois da tragédia, José Datrino deixou família e trabalho, assumindo uma nova identidade: José Agradecido ou profeta Gentileza.

? Ele se desfez de tudo e apurou sua visão para o outro. Por isso, os olhos de águia ? diz Acme.

A artista plástica Joana César, que espalha mensagens cifradas por toda a cidade, homenageia o poeta com a obra ?Pilastra um?, uma colagem de papéis e imagens de seus ?incêndios? pessoais.

? Pensei nas tragédias que podem mudar a direção da vida das pessoas ? explica Joana.

Há ainda obras assinadas por Bruno Life, China Artcult, Fredy Nascimento, Marcelo Jou, Marcelo Ment, Márcio SWK, Lucas Naylor e Panmela Castro.

PRESERVADO

Mesmo com a derrubada da Perimetral na Zona Portuária do Rio, os versos do profeta Gentileza estão preservados nos pilares que vão da Avenida Brasil ? na altura do Cemitério do Caju ? à Rodoviária Novo Rio. Três delas, localizadas na área de demolição do viaduto, não foram destruídas: os pilares foram mantidos e apenas a parte superior do elevado ? chamada de tabuleiro ? foi retirada.

Tombadas pelo patrimônio municipal do Rio há dezesseis anos, algumas das pinturas foram ameaçadas por pichações e anúncios irregulares em maio deste ano. Na época, a prefeitura do Rio realizou vistoria e recuperou os painéis danificados.

Ainda na década de 1990, os versos chegaram a ser apagados, fato que originou a canção ?Gentileza?, de Marisa Monte. A primeira restauração das obras começou em 1999 e foi concluída no ano seguinte.

Em março de 2011, um novo projeto de restauração foi feito pelo movimento Rio com Gentileza, criado em 1999, na Universidade Federal Fluminense (UFF). Uma equipe de dois restauradores e quatro pintores assistentes levou cerca de dez meses para recuperar as obras ? um trabalho bancado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Ainda neste mês, o idealizador da exposição no Parque das Ruínas, Fernando Oliveira, pretende lançar uma cartilha do personagem ?Gentilezinha?, uma espécie de mascote da cidadania. Segundo ele, a ideia é que o personagem circule pelo estado do Rio, espalhando as palavras do profeta.

? Vamos distribuir uma cartilha para colorir, com suas frases e inspirações. A ideia é estimular as crianças para uma atitude mais gentil com o outro ? explica Oliveira.

Do Rio, a exposição circula em outras cidades como Miguel Pereira, Araruama e Três Rios.