Cotidiano

Exposição de daguerreótipos recupera imagens do passado

RIO ? O processo é lento, exige paciência. O resultado não é garantido. Mas quando a imagem capturada aparece na placa de cobre modificada por meticuloso processo químico, traz junto algo da ancestralidade da fotografia, que remete imediatamente a noções de tempo e origem. É isso que se revela na exposição ?Tempo improvável?, que o fotógrafo Francisco Moreira da Costa, 56 anos, inaugura nesta sexta-feira, às 19h, no Ateliê da Imagem.

? Tenho uma ligação muito grande com coisas obsoletas, que não servem para nada. E gosto de coisas complicadas, como química ? diz ele, que largou o curso de Engenharia Química no último ano para se dedicar à fotografia.

Francisco é uma das poucas dezenas de pessoas no mundo que trabalham com daguerreotipia, método que ganhou o nome do francês Louis Daguerre (1789-1851). A fotografia já existia desde 1826, mas Daguerre a aperfeiçoou e descobriu como fixar a imagem. Quando anunciou seu invento, em 1839, disponibilizando-o para o uso, popularizou a prática, uma febre curta: em 1855 o processo de albumina já dominava.

Francisco viu um daguerreótipo pela primeira vez em 1989, numa mostra em Nova York, onde morava:

? Sabe quando você vê uma coisa que fica marcada na retina? Que te emociona no primeiro instante? Tem um mistério… é muito impressionante. Pensei: vou fazer isso um dia.INFOCHPDPICT000061671243

O dia demorou alguns anos a chegar. Foi somente em 1996 que ele começou a se dedicar à prática. Pesquisando na internet, deparou-se com um manual do século XIX, que dava o passo a passo. A placa de cobre é polida, leva um banho de prata e novamente é polida. Em seguida, é exposta a vapores de iodo, de bromo e de novo de iodo, tornando-a sensível à luz. A imagem captada na placa, que já é a foto em si, é revelada numa caixa com vapor de mercúrio e leva um banho de ouro. O manual descrevia processos, tempos e temperaturas de elementos químicos, com os quais ele tinha alguma intimidade. Mas o resto era imponderável:

? Levei o dia inteiro produzindo uma placa. Quando ficou pronta, fiz uma foto ali mesmo na garagem do prédio.

A imagem saiu, ele se animou, mas muitas e muitas vezes não daria certo. Em 20 anos, Francisco realizou pouco mais de cem fotos com o método. A mostra reúne 20 delas, a maioria retratando frutos e objetos, como cestas e jarras com flores. Essas imagens foram fotografadas digitalmente e impressas em papel metalizado, num formato maior do que as placas originais. Foi uma estratégia para driblar a iluminação inadequada do local, já que o daguerreótipo é melhor visto com um foco de luz incidindo sobre ele. Há também uma série de placas originais, assim como vitrines que reproduzem o ambiente alquímico de seu estúdio, em Lumiar, região serrana do Rio.

? O daguerreótipo se presta a um olhar contemporâneo, ele se mostra e desaparece conforme o ângulo e a luz, você se funde ao objeto, se vê refletido nele ? diz a curadora Márcia Mello.