RIO ? Autoridades e especialistas pedem que aqueles que irão permanecer na cidade do Rio não procurem a vacina da febre amarela neste momento. Isso fará com que as doses sejam aplicadas apenas em quem irá se expor ao vírus, ressalta Karis Maria de Pinho Rodrigues, médica do Centro de Informação em Saúde para Viajantes da UFRJ.
links vacina febre amarela? A população que está fora da área de recomendação da vacina [o litoral praticamente inteiro do país] é cerca de três vezes maior do que a população que está dentro. Imagina se todo mundo resolve se vacinar ao mesmo tempo? Não há país no mundo que dê conta. Por isso, quem vai ficar no Rio não precisa se imunizar, não corre risco ? afirma ela, que também é professora de doenças infecciosas e parasitárias da Universidade Estácio de Sá.
Segundo orientação do Ministério da Saúde, pessoas que irão viajar para regiões com recomendação da vacina devem se imunizar. O estado de Minas está todo incluído nessa área, e, por causa da recente confirmação de casos da doença no Espírito Santo, parte deste estado está com recomendação temporária.
Segundo Karis, no entanto, a tendência é que, gradualmente, a vacina se torne recomendada para todo o Brasil. Hoje, esta é a única imunização indicada apenas para certas regiões do território nacional.
? Se observarmos os mapas de áreas de risco para febre amarela, vemos que houve uma expansão em direção ao litoral. Minas já foi, por muito tempo, considerada uma área de transição, em que havia macacos infectados com a doença [o que ocasiona o ciclo silvestre], mas não casos em humanos. O que aconteceu com Minas, que hoje é área endêmica da doença, deve acontecer com outros estados, em médio e longo prazo ? acredita ela.
Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri afirma que, uma vez passado o surto, será preciso fazer um balanço dos lugares em que foram confirmados casos de febre amarela e de quantas dessas ocorrências foram causadas pela vacina. Isso porque estima-se que uma a cada 400 mil doses provoque reações graves, semelhantes às da própria febre amarela, o que pode levar à morte.
? Se, após o surto, percebermos que o benefício de vacinar todo mundo supera o risco, a vacina deverá ser recomendada para o país todo ? diz.
FILAS DE MAIS DE 150 PESSOAS NOS POSTOS
Enquanto isso, quem planeja aproveitar o feriado de carnaval, daqui a 15 dias, em cidades de Minas Gerais ou do Espírito Santo vive hoje uma saga para conseguir tomar a vacina da febre amarela, que assegura a imunização somente após dez dias da aplicação. O estoque zerado na maioria dos postos cariocas tem provocado a formação de longas filas nas poucas unidades de saúde que ainda têm a vacina ? e que usam senhas para limitar as doses diárias a, no máximo, 40.
Os dois postos de vacinação visitados na manhã de quinta-feira pelo GLOBO tinham, cada um, mais de 150 pessoas na fila. A alta procura se justifica: Minas Gerais é o terceiro estado brasileiro que mais deve lucrar com o turismo no carnaval, dizem estimativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A técnica administrativa Pâmela Ribeiro, de 27 anos, por exemplo, acordou ontem às 4h30min para tentar a sorte no Centro Especial de Vacinação Dr. Álvaro Aguiar, no Centro do Rio. Ela planeja ir de carro para a cidade de Conceição de Ibitipoca.
? Acordei cedo porque nenhum posto atende o telefone e não posso chegar atrasada ao trabalho. Busquei clínicas particulares, mas a dose é cara e está em falta. Vou continuar tentando ? contou a jovem, enquanto aguardava na fila.
A cabeleireira Dione Guimarães, de 54 anos, quer passar o carnaval em sua casa de veraneio no município de Domingos Martins, no Espírito Santo ? incluído recentemente na área de recomendação da vacina. A imunização estava em falta na Ilha do Governador, onde mora, e ela acordou às 4h para chegar ao Álvaro Aguiar.
Já o casal Saulo Carvalho, de 43 anos, e Estela Carvalho, de 40, deve ficar no Rio durante o carnaval, mas resolveu levar a filha Nicole, de 2 anos, para a vacinação na unidade do Centro por precaução.
? O carnaval gera fluxo de pessoas entre as áreas rurais e urbanas, então preferimos vacinar. É cautela ? disse Saulo.
Na Clínica de Família José de Souza Herdy, na Barra da Tijuca, alguns relataram confusão na distribuição de senhas. Foram criadas até listas informais na tentativa de ordenar a chegada.
SURTO SÓ EM ÁREAS RURAIS
O surto atual de febre amarela ocorre em áreas rurais, e as autoridades estão criando zonas de bloqueio na divisa de Minas com estados vizinhos para evitar a disseminação. O último caso de febre amarela transmitida em cidades data de 1942.
A Secretaria de Saúde de Minas Gerais afirma que as estratégias adotadas até o momento ? ampliação da oferta de vacina, apoio aos municípios na investigação dos casos e realização de ações educativas ? estão se mostrando bem-sucedidas, com a redução do número de novos casos, e serão mantidas até o carnaval.
