Cotidiano

Endocampanha: é hora de amarelar

O Mês Internacional da Mulher também chama a atenção para um problema de saúde pública: a endometriose. Seis milhões de brasileiras aproximadamente são afetadas por essa doença (inflamação aguda no sistema reprodutor feminino), segundo dados da Associação Brasileira de Endometriose (SBE). Dessas, 600 mil desenvolvem a doença no intestino (endometriose intestinal), como explica o cirurgião do aparelho digestivo Univaldo Sagae.

"O problema continua crescendo no País, principalmente entre as mulheres mais jovens, por falta de informação. É uma doença silenciosa que vem causando devastação no organismo feminino. As mulheres acham que sentir uma dor anormal, além da cólica, na menstruação, é normal”, completa Sagae, acrescentando que uma das principais consequências é a infertilidade e alteração do hábito intestinal.

O ginecologista Namir Cavalli enfatiza que é difícil falar em prevenção porque não há um consenso médico sobre as causas que levam ao desenvolvimento do problema. "Por isso, é importante ir ao médico. Evitar a menstruação com o uso de anticoncepcional ajuda a não deixar a doença evoluir, mas em todos os casos a cirurgia é necessária. Muitas vezes, o tumor atinge outros órgãos e é necessário retirar partes do intestino, do ovário e da bexiga, por exemplo.”

Março foi escolhido por médicos e portadoras de endometriose do mundo todo para levar informação e conscientização da doença que incapacita milhares de mulheres para o trabalho, prejudicando sobremaneira sua qualidade de vida.

Portanto “amarelamos” por um bom motivo. Ajude a divulgar esta campanha importante para a saúde da mulher!

Endometriose afeta outros órgãos

Muitas mulheres reconhecem a endometriose como uma doença grave, mas que atinge apenas os arredores do útero. No entanto, esse complexo acometimento pode afetar também outros órgãos, alguns na pelve, como intestino e bexiga, e outros mais distantes, como pulmões e até cérebro.

A doença pode atingir cérebro, músculo, osso, entre outros órgãos. Normalmente, esses focos se espalham através da via sanguínea, ou seja, as células da endometriose são transportadas pela circulação até esses locais, mas existem casos também em que a disseminação se dá pela circulação intra-abdominal.

Os sintomas variam de acordo com o órgão acometido. O baço é o único órgão em que ainda não foram descritos casos da doença. A hipótese é de que, por ser um órgão que trabalha com o sistema imune, ele não seja atingido.

Uma das mais comuns “migrações” da endometriose é em direção ao intestino, local em que ela pode gerar sintomas como dor abdominal, sangramento retal, constipação e diarreia.

O ginecologista explica que a endometriose também pode gerar risco de obstrução intestinal e dificultar a gravidez, uma vez que a presença de nódulos profundos de endometriose no órgão causa a secreção de substâncias inflamatórias e irritativas dentro da barriga. Estas, por sua vez, podem causar problemas na motilidade tubária e no próprio processo da ovulação.

Endometriose no nervo ciático

De acordo com especialistas, a endometriose vem sendo encontrada cada vez mais na região dos nervos da pelve. O nervo ciático pode ser afetado quando existe infiltração desse nervo pela endometriose e a mulher pode referir dor intensa na região lombar e na parte posterior da coxa, com possibilidade de se irradiar para a perna.

Outros nervos também podem ser afetados, como o nervo pudendo – que vai para a região do períneo – e os nervos glúteos, que correm em direção à região glútea.

Endometriose na bexiga

Quando a endometriose acomete a bexiga, pode haver dor ao urinar e sensação de irritação na bexiga, parecido com o que ocorre nas infecções urinárias. O nódulo de endometriose neste órgão pode crescer e atingir os óstios ureterais (locais por onde a urina chega na bexiga, vinda dos rins) e, caso isso ocorra, é possível que haja dilatação do rim e, com o passar do tempo, perda total da função renal.

Endometriose no cérebro

Quando a endometriose atinge o cérebro, dependendo da região cerebral afetada, pode haver hemorragias e sequelas neurológicas, além de dores de cabeça e convulsões. Esse acometimento, no entanto, é raríssimo e existem poucos casos descritos na literatura.

Endometriose no apêndice

Quando a endometriose envolve o apêndice, a paciente pode ter sintomas ou não. É possível que haja uma dor crônica à direita, perto do umbigo, que pode piorar com a proximidade do período menstrual.

Endometriose no pulmão e tórax

Normalmente, os focos endometriais atingem o pulmão e o tórax por via sanguínea, mas, em algumas situações, eles podem chegar através do diafragma que, por sua vez, pode ser afetado pelo tecido endometrial circulante no sangue dentro do abdome após cada menstruação.

Quando atinge o pulmão, a endometriose pode causar sangramento nesse órgão e tosse com sangue. Também pode ocorrer o pneumotórax, especialmente quando o foco atinge as pleuras, que é a entrada de ar entre as membranas que cobrem a superfície do pulmão.

Endometriose no diafragma

Apesar de pouco frequente, algumas mulheres podem ter endometriose no diafragma, músculo que separa o abdome do tórax e é muito importante para a respiração. Um sintoma que pode decorrer da endometriose no diafragma é a dor intensa no ombro direito ou nas regiões próximas do pescoço no período menstrual.

Endometriose em outros órgãos: como é tratado?

O tratamento dos focos à distância é feito de maneira semelhante ao da endometriose situada na pelve. Caso o foco não seja muito grande, o controle pode ser feito com medicamentos hormonais, que normalmente inibem a menstruação.

A cirurgia é indicada em casos específicos: quando o foco é muito grande e o tratamento medicamentoso já não é mais suficiente ou em situações em que existe risco de obstrução intestinal ou dilatação dos rins por acometimento da bexiga.

Sobre a endometriose

Tratamento – Na endometriose intestinal com sintomas, o tratamento é eminentemente cirúrgico (casos avançados), podendo ser clínico em casos moderados e leves.

Infertilidade – Dados da SBE (Sociedade Brasileira de Endometriose) apontam que entre 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva – de 13 a 45 anos – podem desenvolver a doença e 30% têm chances de ficar estéreis.

Diagnóstico – É feito por meio de exame físico, ultrassonografia endovaginal especializada, exame ginecológico, ressonância magnética nuclear, dosagem de marcadores e outros exames de laboratório.

Fator genético – Filhas e irmãs de pacientes com a doença têm maior risco de desenvolver endometriose. Segundo especialistas, a identificação genética poderia ajudar a entender melhor a doença.

Exercícios – Médicos dizem que fazer atividades físicas diminui as chances de desenvolver o problema.