Cotidiano

Em jantar com Aécio, Temer demonstra preocupação com disputas na Câmara

BRASÍLIA – Em conversa com integrantes da cúpula do PSDB na noite deste domingo, o presidente interino Michel Temer demonstrou preocupação em haver um “racha” na base aliada com a eleição para o presidente da Câmara e reafirmou que não irá interferir diretamente na disputa. No cenário atual, com cerca de 15 candidatos, sendo que a maioria de partidos aliados ao governo, o Palácio do Planalto trabalha para sair ileso já tendo em vista que não conseguirá unificar sua base em torno a um único nome.

Durante o jantar, no Palácio do Jaburu, Temer ouviu do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e do líder do partido na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), que há dificuldade entre os tucanos em apoiar a candidatura de Rogério Rosso (PSD-DF) para a presidência da Casa. Rosso teria se transformado, na avaliação do PSDB, no “candidato do Eduardo Cunha”, que renunciou na última quinta-feira ao comando da Câmara, quase dois meses após ter sido afastado da função e do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao mesmo tempo, há um temor, no PSDB, com a vinculação da candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao PT. Segundo relatos, falou-se, durante o jantar com Temer, da preocupação com que Rodrigo Maia se torne “o candidato do PT”, já que ele vem buscando votos nos partidos de esquerda. Na avaliação de tucanos, não há como o PSDB justificar um acordo do tipo com o PT neste momento em que o impeachment está sendo discutido e as eleições municipais estão próximas.

Constatou-se, no encontro, que há um trabalho do chamado “centrão” para passar a imagem de que Rodrigo Maia está aliado ao PT nesta eleição, o que pode lhe tirar votos tanto desses partidos sem clara definição ideológica, quanto das legendas da antiga oposição, como o PSDB, PPS, PSB e mesmo do próprio DEM.

Temer também falou de sua apreensão com a possibilidade de a eleição acabar ficando apenas para o segundo semestre. O governo quer adentrar o segundo período do ano já tendo a definição de quem irá comandar a Câmara para que, em um cenário de maior previsibilidade, comece a aprovar as medidas para recuperar a economia.

Na conversa, Aécio voltou a falar da importância de uma aliança entre PSDB e PMDB, que devem organizar um polo de poder para governar o país. O senador sugeriu uma aproximação cada vez maior entre os dois partidos, pensando no futuro. A eleição para a presidência da Câmara em 2017 também entrou na pauta, mas, segundo relatos, não houve compromisso de uma aliança formal para este pleito.

O presidente interino também comentou, com insatisfação, o fato de o PMDB ter cinco pré-candidatos na disputa. Para Temer, isto demonstra falta de unidade dentro de seu próprio partido, o que é simbolicamente ruim para seu governo. Temer disse esperar que, até o dia da eleição, seja diminuído consideravelmente o número de candidatos a partir de entendimentos internos entre eles. Mas afirmou acreditar que, mesmo assim, a disputa deve ir para o segundo turno.