Cotidiano

Disputa acirrada pelo 2º turno no Rio vai transformar reta final em guerra

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RIO ? O quadro eleitoral embolado vai esquentar a última semana de campanha à prefeitura do Rio de Janeiro, que deverá ser marcada por ataques entre os candidatos que brigam pela vaga em aberto no segundo turno. Isolado em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com 31%, Marcelo Crivella (PRB) também não será poupado das críticas e quer fugir das polêmicas, como a provocada pela distribuição de panfletos com sua imagem ao lado do arcebispo do Rio, cardeal dom Orani Tempesta.

VEJA: As estratégias dos Candidatos do Rio para chegar ao 2º turno

De acordo com o Datafolha, cinco candidatos estão tecnicamente empatados em segundo lugar: Marcelo Freixo (PSOL), com 10%; Jandira Feghali (PCdoB) e Pedro Paulo (PMDB), ambos com 9%; Flávio Bolsonaro (PSC), com 7%; e Indio da Costa (PSD), com 6%. As campanhas apostam que a mobilização de candidatos a vereadores, militantes e a desconstrução de outras candidaturas ? na busca pelo ?voto útil? ? serão os fatores decisivos nos últimos dias.

Eleição Rio ? estratégia para 2º turno

Pedro Paulo vai contar com a participação mais frequente do prefeito Eduardo Paes no seu programa de televisão. O Datafolha mostrou que, entre os eleitores que aprovam o governo Paes, apenas 20% declaram voto em Pedro Paulo ? o líder neste recorte é Crivella, com 30%. A taxa de transferência de votos é considerada baixa pelo comando da campanha, que calcula que o ideal estaria em torno de 60%. Por isso, depois de um período em que Pedro Paulo esteve mais descolado ? um aliado diz que ele não poderia ser visto como um ?poste? ?, na última semana o foco será convencer o eleitor de que Pedro Paulo é o herdeiro político de Paes.

Os aliados caminharam juntos por Madureira na sexta-feira e se referiram a Crivella como ?bispo?, estratégia que vai permanecer, com a intenção de colar a imagem do senador à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), da qual ele é bispo licenciado. A ideia é também associar as imagens de Freixo e Jandira a uma ?esquerda radical?, que seria incapaz de administrar o Rio.

? As pessoas vão começar a refletir: será que quero a Dilma (Rousseff) como secretária municipal no Rio? (Anthony) Garotinho e Bispo Macedo mandando na cidade? ? diz o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, em referência a apoiadores de Jandira e Crivella, respectivamente. ? O eleitor vai vir naturalmente quando o Eduardo (Paes) for à televisão.

A agenda vai continuar concentrada nos locais onde os estrategistas acreditam que há mais potencial de votos: zonas Norte e Oeste, além de Jacarepaguá e da região da Leopoldina. Há cerca de 50 líderes da coligação, especialmente vereadores, instruídos para intensificarem a campanha em suas bases. Pedro Paulo vai insistir que foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da acusação de ter agredido a ex-mulher. Uma pesquisa interna do PMDB mostra que uma parcela da população ainda não sabe que o inquérito foi arquivado e aponta que, entre os que conhecem o desfecho, há quem não acredite na sua inocência.

Já Freixo aposta no comício na segunda-feira, com a presença de Chico Buarque e Wagner Moura, para incentivar a militância, e também nos debates televisivos para alcançar uma parte do eleitorado a que não chegou durante a campanha. O partido avalia que conseguiu sobreviver à parte mais crítica, já que a candidatura só tem 11 segundos de tempo de televisão. Freixo deve ter intensa agenda de rua na terça-feira e dedicar os dias seguintes à preparação para o debate da TV Globo, na quinta. Ainda há dúvidas se a melhor tática é, além de mostrar propostas, centrar os ataques em Pedro Paulo ou marcar a diferença em relação a ex-aliados do PMDB, principalmente Jandira, com quem divide votos da esquerda. Outra orientação é reforçar a mobilização na internet.

? O debate da Globo me permite atingir eleitores que não estavam ligados na campanha e não me ouviram ? diz Freixo.

Um comício também vai marcar a semana de Jandira, que vai receber na segunda-feira, em Bangu, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As zonas Oeste e Norte dominarão o roteiro na semana.

? São as regiões em que os governos de Lula e Dilma tiveram melhor avaliação, devido ao alto número de beneficiados por programas sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida ? justifica o ex-deputado federal Wadih Damous (PT).

Pedro Paulo será o principal alvo da comunista nos debates. A estratégia será associar o peemedebista ao presidente Michel Temer, que tem baixos índices de popularidade, e enfatizar que o candidato teria ?traído? Dilma, já que participou de sua base antes de votar a favor do impeachment. Nas ruas, Jandira vai se dividir com o vice, Edson Santos (PT).

Indio, por sua vez, acredita que pode ser beneficiado pelas rejeições a Pedro Paulo e Crivella. O candidato do PSD quer reforçar a imagem de gestor para tirar votos dos adversários.

? A trajetória do Pedro Paulo nem se compara com a minha. Ele é um assessor do Eduardo Paes ? alfineta.

CRIVELLA CAUTELOSO

Praticamente garantido no segundo turno, Crivella vai adotar uma estratégia cautelosa. Aliados acreditam que o senador deve deixar que os outros candidatos briguem entre si, o que pode gerar desgaste e beneficiá-lo. Para a campanha, cada vez mais ele deve se apresentar como um candidato sem preconceitos e disposto a dialogar com todos os segmentos da sociedade, para se descolar da Igreja Universal. O senador Romário (PSB-RJ) deverá participar de agendas públicas.

Atrás dos adversários, com 4%, Carlos Osorio (PSDB) decidiu investir em ataques:

? Vamos centrar fogo nas promessas impossíveis do Pedro Paulo e deixar claro que não somos a esquerda da Jandira, que quebrou o Brasil, nem a do Freixo, que representa um ideário bolivariano.

Distante do segundo turno ? tem 2% segundo o Datafolha ?, Alessandro Molon (Rede) vai ?apostar tudo? no debate da TV Globo. Já Flávio Bolsonaro (PSC) não comentou a estratégia.