Cotidiano

Diretor de fotografia de 'The crown', brasileiro fala sobre os desafios da produção

RIO ? Tem brasileiro na realeza. Ou quase isso. O paulistano Adriano Goldman foi o responsável pela direção de fotografia de seis dos dez episódios de “The crown”, incluindo o piloto, dirigido por Stephen Daldry (“As horas”, “Billy Elliott”). A produção da Netflix, sobre a ascensão da Rainha Elizabeth II à coroa, teve um orçamento estimado em US$ 130 milhões, o que a tornaria a série mais cara da História. Criada por Peter Morgan, indicado ao Oscar de melhor roteiro por “A rainha” (2007), “The crown” traz Claire Foy no papel da monarca e o ex-“Doctor Who” Matt Smith como o príncipe Phillip.

Coube a Goldman, que se divide entre o Rio e a Inglaterra, com passagens frequentes por Hollywood, onde rodou filmes como o também de época “Jane Eyre”, de Cary Fukunaga, “Pegando fogo” e “Álbum de família”, estabelecer boa parte da identidade visual da série. A trama já teve sua segunda temporada confirmada, com Goldman no baco.

O que o orçamento gigantesco de “The crown” permitiu que você fizesse, em termos de imagem, que antes você não tinha tido a oportunidade?

Acho que a principal diferença foi o tempo de preparação e o acesso aos melhores equipamentos. Principalmente quando o projeto é filmado prioritariamente em locações. Como o meu primeiro olhar é realista, prefiro sempre reproduzir o que a luz natural me daria. Por isso, geralmente monto minhas luzes do lado de fora, através das janelas, e para isso há sempre muita logística envolvida, grandes torres e gruas fechando ruas e causando confusão. Grandes produções têm mais condições de lidar com tais desafios.

Como foi construir a identidade visual de uma série de época? Como a fotografia entra para construir a reconstituição de época?

Quando o fotógrafo começa um projeto, a pesquisa de arte e locações já está praticamente feita. Nessa fase, o diretor do episódio e o diretor de arte já têm muitas idéias e informações para oferecer. Penso que grande parte do meu trabalho é valorizar o trabalho do diretor de arte, da figurinista e o dos atores. Claro que contribuímos com estilo pessoal e também com proposta de método para tornar o desafio mais possível. Mas é, acima de tudo, um trabalho em equipe. Pouco a pouco, durante a preparação, o estilo vai surgindo. Inspiração é o resultado de muito trabalho e dedicação. A primeira semana de filmagem é muito importante para, de fato, confirmar e estabelecer o estilo visual de qualquer projeto.

Como foi a conversa com os diretores dos episódios de “The crown”?

Trabalhei com três diretores com personalidades e métodos muito diferentes. Nessa hora, cabe ao fotógrafo cuidar para que o estilo decidido no começo permaneça forte e evidente pelos episódios. Claro que as locações, o figurino, o elenco e a direção de arte são constantes, então há parâmetros constantes para todos os diretores.

Como realçar através de imagens o tema da série?

Apesar da riqueza dos cenários e do assunto tratado, sempre tivemos a intenção de apresentar uma linguagem que fizesse aquele universo parecesse mais real, mais acessível. O estilo de atuação também contribui muito para isso, fazendo com que a rainha pareça uma pessoa de verdade.

Como era o clima do set?

Decidi fazer a segunda temporada principalmente pelo prazer que foi fazer a primeira. Stephen Daldry é extremamente carismático e ativo, ele lidera a equipe e o elenco com muita competência e real apreço pelo trabalho coletivo. O clima é o melhor possível.

Quais as difereças entre trabalhar no set de um filme e de uma série?

O tempo de envolvimento, o orçamento total e principalmente o fato de trabalhar com mais de um diretor.

Você já fez ‘Jane Eyre’, gosta de fazer produções de época?

Gosto muito de fazer filmes ou séries de época, sempre me inspiram muito e acabo aprendendo muito sobre grandes personagens e eventos históricos.

A série parece ter usado várias locações reais, em vez de cenários. Isso é um pró ou contra? Quais foram os desafios?

Eu sempre prefiro trabalhar em locações. Fico mais inspirado, e tenho certeza que os atores sentem a diferença quando estamos em um ambiente com história e texturas em cada sala, em cada jardim, em cada parede.