Cotidiano

Danielle Peck, documentarista e fotógrafa: ?Fazer ciência é buscar a verdade?

201610171943231515.jpg?Nasci em Londres, tenho 50 anos e sou produtora de documentários sobre Ciência para a BBC, onde trabalho há mais de 25 anos. Também viajei o mundo cobrindo os mais diferentes assuntos. Um dos meus trabalhos mais recentes é a série ?Forças da natureza?, da qual sou produtora executiva.?

Conte algo que não sei.

Fazer um documentário sobre ciência é fazer a pessoa se perguntar: por que isso funciona assim? Precisamos fazer as perguntas que pessoas comuns se fazem, como, por exemplo, porque o céu é azul? Esta é uma questão que crianças fazem aos pais. Mas não é só isso. É importante filmar o mundo da forma mais bela possível. O telespectador precisa criar uma relação quase patriótica com o mundo que ele habita. Fazer ciência é brincar de detetive, é a busca pela verdade. Isso é outra coisa que facilita na hora de fazer um programa de televisão, pois você pode contar tudo como se fosse uma história de detetive, criar um mistério que vai sendo desvendado ao longo do programa.

Como desenvolveu esta técnica narrativa?

Meu primeiro trabalho foi sobre astrofísica, e, à época, eu nem sabia definir o que era uma galáxia. Então, vi que o importante é perguntar, e fazer perguntas certas. Se eu conseguir entender, vou conseguir fazer os outros entenderem. Eu sou paga para ser curiosa.

A série ?Forças da natureza? é antiga, da década de 60. Como ela era no início, e como evoluiu?

É uma série que faz parte da cultura britânica. Lembro-me de ter visto programas antigos que me impressionaram. Mas era uma linguagem diferente. Lembro-me de um programa em que um renomado cientista começa a explicar levantando-se de uma cadeira. Ele está de terno e gravata, vai até um quadro-negro e começa a escrever. Não dá mais para fazer isso hoje em dia.

Uma das atrações do seu programa é o físico Brian Cox. O apresentador é mais importante, hoje em dia?

O cientista que mencionei não é necessariamente um apresentador ruim. Mas não poderia apresentar daquela forma nos dias de hoje. Talvez com as técnicas que temos atualmente, ele se revelasse um ótimo apresentador. Com Brian tivemos muita sorte. Ele tem uma forma quase poética de descrever a ciência e consegue conectar diferentes tipos de conhecimento para criar uma narrativa atraente para o telespectador.

Como o advento de sites, como o YouTube, alterou o cenário para documentários?

O YouTube é ótimo para vídeos pequenos e curtos, e nunca vamos conseguir competir com eles neste sentido. Estão no lugar certo, na hora certa, sempre. Nosso trabalho é conseguir mais acessos que eles, ficar mais tempo cobrindo um assunto. Mas aprendemos algumas coisas. Cada bloco da programação funciona sozinho, como pequenos clipes. Assim, se alguém ligar a televisão no meio do programa, poderá apreciar o que está na tela. Mas quem assistir a tudo vai ter um entendimento melhor, mais contexto, vai ser recompensado por ter feito isso.

Você esteve recentemente no Haiti, um país que vive uma tragédia sem fim. Como retratá-lo de forma que as pessoas se interessem?

É difícil. Fui para lá como fotógrafa, não como documentarista. Nos meus documentários, faço as pessoas se interessarem por física, mas faço isso tornando a física algo belo. Não é possível tornar o Haiti belo. Um documentário sobre os refugiados sírios foi feito colocando câmeras nas mãos dos próprios refugiados, e o trabalho ficou impactante. Talvez essa fosse uma saída. O problema do Haiti é que ele não é a Síria, não tem todo este interesse em torno do país, por mais triste que isso seja.