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Daniel Dias fica a dois pódios de ser o maior da natação paralímpica masculina

A cada queda na água, uma subida no pódio. É a rotina de Daniel Dias na Paralimpíada. Ao aliviar a pressão ao tocar a borda, ele não fica mais leve. Pelo contrário: com as sete medalhas conquistadas no Rio, ficou mais pesado com tanto metal para carregar. Na noite passada, após vencer os 50m costas pela terceira vez seguida em Jogos, ele se aproximou do recorde mundial de pódios da natação masculina mundial da competição.

O mais bem sucedido atleta paralímpico nacional, com 22 medalhas, ainda pode quebrar um recorde na modalidade. Neste sábado, ele nadará os 100m livre S5 (limitação físico-motora). Se chegar entre os três primeiros, irá a 23 medalhas, mesmo número de conquistas do australiano Matthew Cowdrey, já aposentado.

Daniel Dias

Caso a comissão técnica resolva escalar o nadador para integrar o revezamento 4x100m medley 34 pontos, e a equipe conquiste ao menos o bronze, o recorde será de Daniel, que chegaria a 24. A norte-americana Trischa Zorn, com 55, é a maior medalhista da natação. A francesa Béatrice Hess e Claudia Hengst, da Alemanha, têm 25.

? Não procuro pensar nisso. O revezamento é a equipe técnica que decide. Eu fico à disposição. Se acharem que eu estou cansado e não devo nadar, eu vou respeitar. Se acharem que eu tenho que nadar, vou nadar ? declarou Daniel. ? Eu estou aqui para fazer o que eu mais sei, que é nadar. Se tiver que nadar três provas, eu vou nadar. Se tiver que nadar duas, vou nadar. Procuro dar o máximo a cada mergulho.

Em contagem regressiva desde a subida no bloco para a primeira das nove provas que poderá fazer até hoje, Daniel já experimentou sensações distintas com as medalhas em volta de seu pescoço. Foram três ouros, três pratas e um bronze. A caminho da piscina ontem, ele refez o percurso que o levou a cada uma delas e concluiu:

? Estou cansado. Bateu o cansaço desses dias, e eu estava pensando que já nadei bastante. Mas são os últimos dias, se tiver que nadar o revezamento, vou nadar também para encerrar com chave de ouro. Talvez a gente não ganhe medalha, mas vamos dar o nosso máximo, ainda mais diante de uma torcida como esta.

201609162137284180.jpgEm jejum de medalhas desde a véspera, a torcida pôde repetir o coro emocionante da introdução do hino nacional. O ?Ouviram do Ipiranga? tocou mais uma vez no Estádio Aquático após uma prova em que Daniel foi perfeito. Seria melhor se um grito não atrapalhasse a primeira largada. Já recuperados da tensão, os nadadores seguiram em frente, mas Daniel viu a quebra do recorde mundial, que é dele mesmo, de 34s95, ficar mais distante.

As medalhas do Brasil na Paralimpíada

? Talvez batesse. Pelo que fiz no aquecimento, acredito que dava para ter chegado pelo menos um pouco mais próximo dele (recorde)… Pequim, Londres e agora. Sou campeão nos três ciclos. É algo incrível, espetacular, que vai marcar para sempre minha carreira ? comemorou o nadador, que comentou o grito indesejado vindo da arquibancada. ? Acredito que atrapalhou todo mundo, porque é a hora na qual estamos todos concentrados. A minha saída não foi muito boa, não foi das melhores e por isso, no final, eu vi muita água espirrando no meus lados e pensei que tinha que dar um gás total para finalizar bem.

RENOVAÇÃO PELA BASE

201609162203354205.jpgAo relembrar de outros ciclos e conquistas, Daniel procura não fazer previsões para o futuro. Questionado se estará em Tóquio-2020 ou se a aposentadoria chegará primeiro, ele foi rápido como na piscina para se esquivar.

Conteúdo de uma matéria só: quadro de medalhas

? É cedo para dizer se eu vou parar. Quero aproveitar o momento, curtir os Jogos. Após isto aqui, nada será igual, porque estamos provando o valor da pessoa com deficiência. Depois, eu vou pensar no próximo ciclo ? afirmou.

Com planos de abrir um instituto para ajudar crianças com deficiência, Daniel olha para os talentos da base da natação paralímpica nacional como a salvação para um próximo ciclo vitorioso:

? Temos que aprender com vários países, que eu vejo que incentivaram muito a base. Se a gente olhar o nosso grupo hoje, eu já sou veterano, com 28 anos. Está uma mescla grande e, se dermos continuidade à renovação, vamos colher bons frutos.

Nas outras provas, Ronystony Cordeiro e Edenia Garcia ficaram em sétimo nos 50m costas S4, e Carlos Farrenberg foi 5º nos 100m livre S13 (deficiência visual).