Cotidiano

Crítica: Toninho Geraes capricha mais no meio do que na mensagem

64817900_Capa CD Estação Madureira de Toninho Geraes.jpgRIO – Autor de sucessos como “Mulheres” (Martinho da Vila), “Uma prova de amor” (Zeca Pagodinho), “Me leva” (Agepê) e outros, Toninho Geraes tem uma carreira errática na modalidade “cantor das próprias composições”. Sempre requisitado, ele dá pouca atenção à própria trajetória, o que o faz lançar discos com longos intervalos: de 1987 a 2001, daí a 2009 e agora, em 2017. Este “Estação Madureira” talvez ajude a explicar a causa da demora e do fato de Geraes jamais ter decolado como artista. Toninho Geraes

Antes de mais nada, não se trata de um grande cantor. É fácil notar a oscilação nas notas mais longas ? e seu estilo melódico de compor é cheio delas. Isso pode ser um problema em tempos de “The Voice” e congêneres, quando qualquer moleque de 13 anos de Guapimirim canta com a técnica de Aretha Franklin; por outro lado, é uma ancestral tradição no samba o compositor-que-canta-as-próprias-obras-mesmo-não-sendo-propriamente-um-Pavarotti, como Cartola, Nelson Cavaquinho e centenas de outros. Então, beleza, deixemos Geraes dar suas vaciladas vocais, que nem são assim tão tonitruantes. O forte do cara, afinal, é a composição. Pois é… Só que a coleção registrada com esmero pelo produtor Alessandro Cardozo também tem diversos escorregões.

Claro que há bons momentos, como a dolente “Mágoa” (“Mágoa no meu peito eu não carrego, não”, diz a letra, com cheiro de samba antigo de dor de cotovelo, parceria de Geraes com o craque Roque Ferreira), a antropológica “A cara do Brasil” (com Moacyr Luz, que participa brilhantemente da faixa), com a levada raçuda que marca muitos dos sambas do compositor carioca, e outras.

Além de eventuais melodias e letras, o embrulho de “Estação Madureira” é de alto luxo: Carlinhos Sete Cordas e Cláudio Jorge (violões), Pretinho da Serrinha, Gordinho e Marcos Esguleba (percussões), Kiko Horta (acordeom), Fabiano Segalote (trombone) e o virtuoso Dirceu Leite (sopros) são alguns dos nomes estelares que brilham no disco, em bons arranjos, sem gordura, do produtor Cardozo (a maioria), de Ivan Paulo e de Jota Moraes.

Mas nem tudo é mexidinho de gafieira. As composições, de Geraes com parceiros como Toninho Nascimento, Paulinho Rezende e Mombaça, em muitos momentos não saem do lugar comum, tornando o disco previsível. “Aquarela da Amazônia”, com formato de samba-enredo, enfileira clichês, e logo num ano em que duas escolas de samba cariocas têm bons sambas sobre a região do Xingu, Imperatriz e Beija-Flor; “Doido por xodó” é um forró genérico, com direito até a “oxente” na letra; “Destino” até começa bem, tristonha, mas envereda por um pagode gospel ecumênico. Fera na composição, desta vez Toninho Gerais caprichou mais no meio do que na mensagem.

Cotação: Regular