Cotidiano

Crítica: Marcelo Yuka tece fina tapeçaria de sons e textos

RIO – Por pouco a bala que pegou a ideia não pega na visão, informam os versos de ?Por pouco?. E o que continua a ser precioso em Marcelo Yuka, agora ainda mais em ?Canções para depois do ódio?, é a sua clara visão. Lá se vão mais de duas décadas, ele vislumbrou com O Rappa uma nova música pop brasileira, em que não existe distância entre o samba de Cartola e o trip hop de Tricky, e na qual, por obra da poesia, o Rio se revela o purgatório de todas as tensões que torcem o mundo. Links yuka

De ?O Rappa? (1994) à obra-prima ?Lado B Lado A? (1999), e depois com o ?Sangueaudiência? (2005, que fez com o F.UR.T.O.), Yuka não se desgrudou de seus propósitos iniciais. Em seu primeiro álbum solo de fato, ele está enfim livre das contingências de sua antiga banda, podendo abdicar das exigências de um repertório energético em prol do desenvolvimento de climas e de misturas várias, todas cozinhadas no velho fogão do dub.

As vozes de Bukassa Kabengele e do seleto time feminino (Bárbara Mendes, Céu, Cibelle) dão o tom exato, sem exageros, para a fina tapeçaria de texto e de sons de Marcelo Yuka. Há faixas que chamam mais a atenção que outras, como é o caso da dançante ?Movimento da massa?, mas ?Canções para depois do ódio? é um álbum para ser ouvido inteiro, com atenção, sem interrupções.

Cotação: Bom