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Craque argentino do Futebol de 5 'viu' gol de Maradona

Brasil e Argentina, as duas seleções que decidiram as últimas três competições paralímpicas mais importantes, se classificaram para a semifinal do futebol de 5 em primeiro lugar de seus grupos. E podem disputar mais um ouro se o Brasil passar pela China, amanhã, às 16h, e a Argentina derrotar o Irã, às 20h. A seleção brasileira, que venceu a Copa América (2013), o Mundial (2014) e o Parapan (2015) contra os argentinos, não perde um torneio desde 2007. A última vez que isso aconteceu foi justamente contra o rival, no Mundial de 2006, quando Silvio Velo marcou 1 a 0 contra a meta de Fábio Vasconcelos, hoje técnico do Brasil.

? Lembro-me bem (risos). Faltavam dois minutos para acabar o jogo. Ele é excelente, o tipo de jogador que não pode dar brecha. Num lance, define ? comenta Fábio, que explica como marcá-lo num jogo em que os atletas são cegos: ? Por bloco. Até no dois contra um ele vai embora.

Conteúdo de uma matéria só: quadro de medalhas

Velo, de 45 anos, o mais velho jogador de futebol de 5 no Rio-2016 (o espanhol Carmelo Garrido acabou de completar 45), é um sujeito bem humorado. Conta que tem 12 irmãos e só ele nasceu cego. Mantém a tradição da família e está povoando o planeta: tem cinco filhos e espera gêmeos para novembro. Diz que jogava futebol quando pequeno, descalço, e mal tocava na bola. Também não se furtava de entrar no esconde-esconde, embora nunca conseguisse achar os colegas.

? Quando descobri que podia jogar futebol com uma bola especial, tudo mudou. Sempre fui apaixonado por futebol ? diz Velo, prata em Atenas-2004 e bronze em Pequim-2008. ? Só falta o ouro, único título que não tenho, aliás. Estou aqui para isso, já que esta Paralimpíada deve ser a última.

Há 25 anos na seleção argentina, em que os atletas são chamados de ?os morcegos?, ele, que é o capitão, já foi batizado de ?Maradona cego? e agora, ?Messi cego?. Isso porque já foi eleito o melhor do mundo, assim como os brasileiros Jefinho e Ricardinho, e não larga a braçadeira.

O camisa 5 diz que tem preferência por Messi, apesar de considerar Maradona o dono do gol mais bonito de Mundiais, o de 1986. Garante que viu a sequência incrível de dribles nos ingleses graças ao narrador Victor Hugo, uma espécie de Galvão Bueno argentino.

? Eu vi! Senti esse gol. E nunca aconteceu de novo porque esse foi o mais especial de todos. Victor Hugo me fez enxergar ? assegura o atacante, que explica sua longevidade. ? Disciplina, sacrifício, descanso e uma boa alimentação. E antes que pergunte, sim, consigo descansar mesmo com cinco filhos.

Ontem Velo sentiu o tornozelo esquerdo na partida contra a China, que acabou em 0 a 0, e precisou ir aos pênaltis para a definição do primeiro lugar na chave. A Argentina ganhou por 2 a 1. O atacante acredita que estará em condições de jogar a semifinal.

DO RIVER PARA O BOCA

Sobre uma possível revanche contra o Brasil, na decisão, ele é sincero e fala que não faz questão. Ri e diz que prefere pegar a China de novo. Mas, afirma que se esse confronto acontecer, será o mais emocionante de todos. Está curioso para saber como a torcida irá se comportar. Afinal, no futebol de 5 o público tem de fazer silêncio para os jogadores ouvirem a bola com guizo.

? É lindo jogar com torcida, e sabemos que o futebol é emotivo. É difícil se controlar. Imagina num Brasil x Argentina? O que mais atrapalha é na definição de uma jogada, no rebote. Tem o lado bom e o ruim ? pondera o atacante, que esse ano trocou o River Plate pelo Boca Juniors.

Passou a ser chamado de traidor pelos torcedores do River, mesmo os que o aplaudiam em campo e na TV, quando, destemido, participou de um reality show de saltos ornamentais, foi à final e deu mortais em plataforma de 10 metros.

? Traição era antes, quando jogava contra o Boca.