Cotidiano

Corrupção era ?endêmica? e associada ao Congresso em 97, escreveu FH

SÃO PAULO. No segundo volume de seus diários na Presidência, Fernando Henrique escreveu ter a impressão de que “a corrupção é mais espalhada do que a gente mesmo percebe”, é “endêmica” e estava, em seu governo, diretamente associada à relação do Executivo com o Congresso.

Em anotação de maio de 1997, o ex-presidente comentou denúncias que envolviam o PT, partido que fazia oposição a ele, e disse ser ?ruim para o Brasil? que se levasse ?para o moinho a água de que todo político não presta?.

?Esse clima de podridão, que reflete, vamos ser claros, uma podridão que existe, mas que não é generalizada, acaba dando a impressão a todos que tudo é podridão e desvia a opinião pública dos assuntos realmente relevantes do país?, anotou.

Ele voltaria ao mesmo tema a seguir:

“Há a impressão que a corrupção é mais espalhada do que a gente mesmo percebe. Ela não é sistêmica, não é do governo, mas é endêmica, é de funcionários, é de gente vinda do setor político, e parece que tudo isso está plugado com o Congresso. Quando se vai fechar uma boca de bandalheira tem gritaria no Congresso”, escreveu o ex-presidente, cuja base de sustentação era formada basicamente, na época, por PSDB, PMDB e PFL (atual DEM).

Fernando Henrique escreveu que se levasse ao extremo a resposta para o problema, com ação mais energética contra representantes do Congresso, poderia ser chamado de “autoritário” ou “fujimorista”.

“Estamos aqui no fio na navalha. Em todo o caso, já tenho o costume de andar nele”, anotou.

Sob pretexto de ampliar poderes do Estado para lutar contra terroristas do grupo Sendero Luminoso e ajustar a economia do Peru, o então presidente Alberto Fujimori suspendeu artigos da Constituição e fechou o Congresso por sete meses, durante o seu primeiro mandato, nos anos 90.

Ele ficou conhecido, também, por ter implantado dispositivos polêmicos na legislação, como a previsão de demissão coletiva de todos os ministros a cada seis meses, para obter liberdade e autonomia na realização de reformas ministeriais.