Cotidiano

China inclui técnicas da medicina milenar no tratamento da Aids

639_TI Rio de Janeiro RJ 21-01-2016 - Clínica popular de Acupuntura no Catumbi - na foto F.jpg

PEQUIM ? A China anunciou que passará a aplicar sua medicina milenar para tratar pessoas com Aids, o que, segundo o governo, duplicará o número de soropositivos em tratamento, já que essas práticas tradicionais são muito mais baratas do que as da medicina moderna, do ocidente.

links medicina chinesa“O número de pessoas com Aids e tratadas com a medicina tradicional chinesa duplicará em relação a 2015”, afirmou o governo chinês, domingo, em seu site.

As autoridades ressaltaram que a medicina tradicional chinesa será apenas um dos métodos promovidos pelo plano quinquenal anti-Aids do país, e que, portanto, os doentes não serão tratados apenas com ele. O plano pede aos serviços de medicina tradicional que colaborem com os organismos oficiais de saúde “para encontrar um esquema terapêutico que combine a medicina tradicional chinesa e a medicina ocidental”.

Este apelo está inserido na campanha lançada por Pequim para usar mais a medicina tradicional na China, um conhecimento milenar que utiliza medicamentos ? sobretudo à base de vegetais ?, massagens, acupuntura e o qigong ? uma ginástica tradicional.

CONTROVÉRSIAS EM ESTUDOS

A eficácia deste tipo de medicina provoca muitos debates. Em janeiro, um estudo de médicos suecos concluiu que a acupuntura podia reduzir o choro dos bebês que sofriam de cólica. No entanto, desde então, vários outros cientistas ocidentais questionaram a metodologia usada na pesquisa.

Outra polêmica surgiu quando, no segundo semestre de 2015, foram divulgados os resultados preliminares de um estudo sobre o uso de um composto de ervas que poderia ser usado no tratamento de Aids. A erva é da família Schisandraceae, nativa da região da China, Rússia e Península Coreana. Ela se mostrou capaz de atacar o vírus HIV, segundo o estudo, realizado pelo Instituto de Botânica de Kunming da Academia Chinesa de Ciências.

Porém, o próprio coordenador da pesquisa, o acadêmico Sun Handong, disse ao jornal “China Daily” que ainda é prematuro dizer que uma droga baseada no composto possa resultar em um tratamento eficaz contra a Aids. De acordo com ele, será necessário aprofundar os estudos, o que levará um longo tempo.

O médico Wang Jian, especialista no tratamento da Aids do Hospital Guang’anmen, na China, concorda que são necessárias novas pesquisas. Ele destacou ao “China Daily” que os resultados são preliminares e que o funcionamento clínico do composto ainda é uma incógnita.

Essa erva já é usada dentro da medicina chinesa como um tônico para melhorar a memória, o desempenho sexual e as funções do fígado e dos rins.

No fim de dezembro do ano passado, a China votou sua primeira lei relacionada à medicina tradicional: os profissionais desta prática no país asiático podem agora conseguir licenças e abrir clínicas mais facilmente. A China conta atualmente com 450 mil especialistas em medicina tradicional, segundo dados oficiais. O governo considera essas práticas como uma alternativa mais barata e menos invasiva do que a medicina moderna.

COMBATE A ‘COMPORTAMENTOS HOMOSSEXUAIS’

Outra polêmica sobre o novo plano anti-Aids do país é que, no anúncio do governo, foi dito que o objetivo do plano é também buscar reduzir em cerca de 10% “os comportamentos homossexuais vinculados à Aids”. Não foi explicado, no entanto, de que forma a medicina tradicional chinesa se relacionaria com a orientação sexual dos soropositivos.

Segundo um balanço oficial divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, a China somava 501 mil pessoas com Aids ou portadoras de HIV no fim de 2014.