Cotidiano

Bruna Beber: 'Ledusha foi a primeira poeta que li e pensei 'agora sim''

15311615_10154933535187223_923831123_o.jpgRIO – Comecei a publicar na internet muito cedo, e em consequência disso conheci várias pessoas que também escreviam/liam poesia de vários estados do Brasil e também do mundo, pessoas mais ou menos da minha idade que estavam ali pelos mesmo motivos que eu: trocar leituras, músicas, fazer amizades.

Então, num dos meus primeiros blogs (aproximadamente 2001), eu postava basicamente minhas descobertas obscuras em literatura, poesia e música (todos os ?malditos? da música e os ?marginais? da poesia que eu ia descobrindo). Então veio tudo de uma vez. Numa dessas, um menino lá de Porto Alegre, Marcelo Noah, entrou em contato comigo. Por gostar das coisas que eu escrevia e das coisas dos outros que eu publicava. Ele também era poeta e estudante de letras. Numa das nossas centenas de conversas online (também trocávamos livros e discos e filmes pelo correio), alguns anos já depois, estávamos falando de ?Feliz Ano Velho? e alguns escritores que estávamos começando a descobrir, dessa geração que veio antes da gente. E ele falou ?Você já leu o ?Tanto faz?, do Reinaldo Moraes??. Eu não tinha lido e ele me mandou pelo correio a edição dele, que era a segunda edição do livro no Brasil (da Brasiliense, coleção Cantadas Literárias) e eu li em uma tarde.

Obviamente, fiquei maravilhada, pois tinha acabado de ler ?Serafim Ponte Grande? e ?Memórias Sentimentais? de João Miramar. No final do ?Tanto faz? estava escrito que ele tinha terminado de escrever o livro ?no apartamento da Ledusha, no Rio? e meu primeiro pensamento foi ?nossa, essa Ledusha deve ser uma pessoa muito legal, porque se esse livro tão legal foi terminado na casa dela?. Fucei muito atrás da Ledusha na internet, não achei nada. Na época, existiam pouquíssimos sites e blogs de poesia na internet, pra se conseguir uma informação era um parto.

Aí eu comecei a procurar o ?Risco no disco? e, finalmente, achei no sebo Berinjela, a primeira edição, que tenho até hoje, toda colada. E começamos a trocar Ledusha. Aí Marcelo me falou ?Tu precisa conhecer uma amiga minha que também escreve poesia, ela é aqui do Rio Grande do Sul mas mora em São Paulo, ela deve ter outros livros da Ledusha e do Reinaldo porque em São Paulo tem mais sebos e é mais fácil de achar?. E era a Angélica Freitas! Eles eram amigos de final de adolescência.

Um dia Marcelo estava em São Paulo visitando Angélica, isso foi em 2004, e me ligou de lá: ?Bru, to aqui na casa da Angélica (ela morava na Barão de Tatuí, em Santa Cecilia) e vou apresentar vocês finalmente”. Daí ele passou o telefone para a Angélica, a gente conversou um tempão e ficamos de trocar coisas pela internet e pelo correio. Algum tempo depois a Angélica finalmente achou o ?Finesse e fissura?, outro livro da Ledusha, que também tinha saído pela mesma coleção da Brasiliense, e me mandou pelo Correio junto com o XEROX (veja bem, xérox, de um conto do livro ?Umidade?, do Reinaldo Moraes, que tinha acabado de sair, pois era a única coisa dele que eu não tinha lido ainda. O ?Abacaxi? o Marcelo não me deu, só me emprestou porque era mais raro). Enfim, eu e Angélica contrabandeamos toda a obra da Ledusha via correios durante muito tempo, até lermos tudo.

Um dia a Angélica falou: ?Descobri que a Ledusha mora em São Paulo. Quem sabe um dia não conhecemos ela??. Nessa época, nenhuma de nós duas tinha publicado livro. Cortando para 12 anos depois, quem poderia imaginar que um dia tomaríamos uma cerveja com o Reinaldo ou que nos correspondêssemos com a Ledusha? Estamos todos aí, vivos, próximos, e a Ledusha e o Reinaldo foram essenciais na minha formação poética. Ouso dizer que foi a primeira poeta que eu li e pensei ?ah tá, agora sim?. E, bem, eu vou no lançamento da Luna Parque pra levar minha primeira edição do ?Risco no disco? para Ledusha autografar pois, depois de anos e anos, ainda não conseguimos nos encontrar e nos conhecer pessoalmente.

“Risco no disco”

Editora: Luna Parque

Páginas: 64

Preço: R$ 20

Lançamento: segunda-feira, a partir das 18h, na llivraria 7Letras (Rua Visc. de Pirajá, 580, Ipanema ? 2540-0076)