Cotidiano

Brexit expõe ganhos e perdas bilionários de apostadores

249817646_5.jpgLONDRES ? Enquanto o mercado internacional tenta entender ? e atenuar ? os efeitos na economia da decisão política do Reino Unido em deixar a União Europeia, avalizada em referendo na última sexta-feira, os megainvestidores já sentem no bolso o impacto do ?sim? ao Brexit. Logo na ressaca pós-votação, já se especulava quem havia ganhado e quem havia perdido com a separação no país que cultiva a tradição das apostas.

Brexit 29-06

O bilionário George Soros foi um dos que aumentaram a fortuna, de 18 bilhões de libras, com o resultado inesperado das urnas britânicas: mesmo sem um valor exato divulgados, documentos públicos registram que ele dobrou as apostas no começo do ano de que as ações nacionais cairiam. Soros ainda comprou US$ 264 milhões na maior mineradora de ouro, na especulação de que a queda na Bolsa aqueceria os ativos mais seguros ? e viu o valor do investimento subir ao maior patamar desde 2014.

A destreza nos negócios especulativos não é inédita: o húngaro teria ganho 1,5 bilhão de libras quando apostou contra a moeda em 1992, no dia que ficou conhecido como ?Black Wednesday?. Desta vez, na hora de colocar as fichas na saída da UE, que firmaria uma ?desintegração irreversível? do bloco europeu, enxergava forte desvalorização da libra e crise para as finanças da população no curto e médio prazos.

? A Grã-Bretanha pode ou não ser relativamente melhor do que outros países por sair da UE, mas a sua economia e as pessoas vão sofrer significativamente no curto e médio prazos ? escreveu em comentário no site Project Syndicate, o que depois complementaria em artigo no ?The Guardian?, de que ?o voto pelo Brexit tornaria algumas pessoas muito ricas, mas a maioria dos eleitores consideravelmente pobres?.

Na esteira dos lucros com o Brexit aparece também Crispin Odey, chefe da Odey Asset management, que teria faturado mais de 220 milhões de libras com a vitória dos eurocéticos. Odey não só apostou cerca de 7,5 bilhões de sua empresa, como financiou a campanha pelo ?sim?. Ele previa que a desvalorização da moeda britânica o faria retomar o investimento com lucro, somado ainda aos ganhos na aposta da alta do ouro.

Até o fim de junho deste ano, o fundo de Odey era um dos menos rentáveis do país diante da expectativa do mercado de que a população britânica optaria pela permanência na UE. À agência Reuters, ele afirmou que ?poderia ser o vencedor? dado o ?ano bem difícil? que vivia até a votação.

? O resultado do referendo é uma grande notícia. Nos dará mais flexibilidade em caso de haver uma recessão nos Estados Unidos, algo que creio que vai ocorrer ? comentou Odey.

m748942.jpgMas apostar pela saida do bloco europeu não significaria necessariamente lucro. Prova disso é Peter Hargreaves, que empenhou 3,2 milhões de libras na campanha pelo ?sim? e viu suas ações da empresa de consultoria Hargreaves Lansdown perder 400 milhões de libras em valor de mercado em dois dias.

? As ações sofreram queda como todo o resto sofreu. Hargreaves Lansdown caiu bastante ? disse ao ?The Guardian? o investidor, que revelou não se arrepender da iniciativa. ? Eu não fiz isso para ganho pessoal. Eu pensei no que seria, em primeiro lugar, bom para o Reino Unido.

Na quarta-feira, a libra esterlina valia US$ 1,34, abaixo do US$ 1,5 do fechamento após a votação. Hargreaves não se preocupa: acredita que o país se tornará mais competitivo, mesmo se passar a pagar tarifas em transações com a Europa e comparou a situação com a turbulência do mercado britânico em 1992, quando o Reino Unido deixou o mecanismo das taxas de câmbio.

? Nós renascemos das cinzas como uma fênix, e em 1997 já tínhamos superávit comercial e orçamento balanceado. Por que seria diferente agora? Será o maior estímuo aos negócios britânicos que eu verei desde 1992. Vai torná-los [os negócios] muito rentáveis ? confiou ao ?The Independent.?