Cotidiano

Brasil só alcançará igualdade de gênero em quase 100 anos, diz índice global

RIO ? Para que homens e mulheres de todo o mundo alcancem a igualdade plena de gênero estima-se que serão necessários mais 170 anos, anunciou, ontem, o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Genebra. No Brasil, este número cai para 95 anos, como mostra o relatório anual da organização suíça, sem fins lucrativos, sobre o tema. O país ficou na 79ª posição no ranking global deste ano. Em 2015, havia ficado na 85ª. Mas sua pontuação subiu apenas 0.687, sendo que 1 seria o desempenho ideal.

Esforços dos países para fechar as lacunas sobre os salários e sobre a participação da força de trabalho teriam diminuído drasticamente no ano passado. As últimas estatísticas previam que o fosso econômico entre os gêneros poderia fechar em 118 anos, mas o progresso vem ?desacelerando, parando ou revertendo? em nações ao redor do mundo, de acordo com o índice divulgado. Na lista geral, a Islândia e a Finlândia ficaram em primeiro lugar por seu progresso de igualdade na educação, na saúde e sobrevivência, na oportunidade econômica e no poder político. Os seguintes foram Noruega e Suécia, seguidos de Ruanda, que melhorou na participação econômica e na igualdade de renda, além de ter a maior proporção de parlamentares do sexo feminino no mundo, disse o WEF.

A situação mundial piorou de forma geral, mas houve melhora na região da América Latina e do Caribe. O Brasil ficou à frente do Uruguai (91º) neste ranking, mas é o pior colocado entre as grandes economias do continente, perdendo para a Argentina (33º), para o México (66º) e para o Chile (70º). Entre os mais bem posicionados, há apenas um representante latino, a Nicarágua (10º).

O ranking do WEF considera em seu cálculo, entre outros fatores, o tempo que uma mulher liderou o país e a porcentagem de representação feminina nas posições políticas mais altas. ?As melhorias do Brasil, devido aos anos em que teve uma mulher como chefe de estado, são contrabalançados por uma maior participação da força de trabalho na lacuna de gênero e pela reabertura deste hiato na Educação Superior pela primeira vez em cinco anos?, diz o relatório. Os dados indicam que as brasileiras têm desempenho melhor que os brasileiros nos indicadores de saúde e educação ? elas são a maioria dos estudantes universitários em 95 dos 144 países pesquisados ?, mas ainda enfrentam acentuada discrepância em representatividade política e paridade econômica, tendo salários mais baixos.

Segundo a análise do WEF, o mundo enfrenta um ?desperdício agudo de talentos? ao não propiciar às mulheres oportunidades profissionais equivalentes às dos homens.

?Estas previsões não são conclusões precipitadas. Ao contrário, elas refletem o estado atual de progresso e servem como um chamado à ação. Para mudar o quadro geral, é necessário uma abordagem consciente, do ponto de vista econômico, para o aproveitamento desses talentos. Já temos mais mulheres se graduando na universidade do que homens, não se trata do futuro, isso já é o presente. Precisamos agora empregar essa força produtivamente?, disse em comunicado um dos integrantes do comitê executivo do FEM, Saadia Zahidi.