Cotidiano

BNDES quer liberar crédito em 180 dias

RIO – O BNDES quer reduzir o prazo para concessão de crédito para 180 dias. Hoje, esse prazo vai de 200 a 600 dias, segundo a presidente do banco, Maria Silvia Bastos Marques. Em entrevista à colunista do GLOBO Míriam Leitão, ela contou que a instituição está fazendo ajustes nos processos de análise para agilizar a liberação dos empréstimos e rebateu críticas de que não há grandes projetos em apreciação no BNDES no momento, afirmando que o banco não ?gera projetos? sozinho. A entrevista foi ao ar ontem na GloboNews.

De acordo com Maria Silvia, as mudanças que vêm sendo propostas serão apreciadas pela diretoria e submetidas a uma consultoria. A iniciativa faz parte de uma ampla revisão das políticas operacionais do BNDES. O banco, por exemplo, quer reduzir o número de linhas de empréstimos disponíveis de cem para cerca de 50.

? Agora, de fato vamos ter agilidade na concessão de crédito ? afirmou Maria Silvia.

Segundo ela, a ideia é que o BNDES analise projetos sem a preocupação de delimitar o setor ao qual estes pertencem. Na sua avaliação, não há mais fronteiras entre as áreas de indústria, comércio e serviços.

? Essas fronteiras estão desaparecendo. Hoje, o componente que agrega valor à indústria é o serviço, e o comércio virou serviço, com as plataformas digitais. Ao olhar o projeto em si, estamos saindo dessa divisão de setores ? ressaltou a presidente do BNDES.

Perguntada sobre a queda dos desembolsos em 2016, Maria Silvia lembrou que o país passa por uma recessão com queda acumulada do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) de mais de 7%. Frisou, ainda, que famílias e empresas estão muito endividadas e que os estoques estão elevados. Por isso, disse, não houve demanda por crédito.

À crítica de que não há, no momento, qualquer grande projeto em análise pelo banco, rebateu:

? Não geramos projetos. Qual é o grande projeto que foi trazido ao banco?

CONSTRUTORAS DA LAVA-JATO

A presidente do BNDES salientou que o crescimento sustentável não depende apenas de crédito e que é preciso fazer reformas estruturais. Explicou, ainda, que a atuação mais enfática do BNDES no capital de giro será temporária e se faz necessária em tempos de crise.

Quanto à possibilidade de conceder crédito às construtoras envolvidas na Operação Lava-Jato, Maria Silvia afirmou que ?os bancos públicos têm autonomia na concessão de crédito? e que a liberação ou não de empréstimos vai depender da avaliação do risco de crédito. Mas admitiu que a insegurança jurídica tem consequências para a autorização de financiamento.

? Essa insegurança jurídica tem rebatimento no crédito. Emprestar não é um ato de vontade. O banco precisa ter garantias ? afirmou.

A executiva lembrou que o banco está em constante discussão com o Ministério Público e com a Advocacia-Geral da União e afirmou que está ?tranquila? quanto a investigações sobre suspeitas de corrupção na concessão de crédito pelo BNDES:

? Minha sensação e constatação, com as auditorias internas que fizemos no banco, é que processos podem ser aperfeiçoados. Mas não vi nenhuma evidência de delitos em coisas internas do BNDES.