Cotidiano

Aumenta percentual dos que apoiam tortura de inimigo capturado

O maior levantamento já realizado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), com 17 mil pessoas entrevistadas em 16 países, revela duas importantes mudanças em como as pessoas encaram diferentes questões relacionadas às guerras ? ambas demonstrando uma certa descrença em relação à manutenção dos direitos humanos fundamentais. Na comparação com a pesquisa anterior, realizada em 1999, aumentou o número de pessoas que acreditam ser válido torturar um inimigo capturado para conseguir informações. Além disso, o percentual daqueles que não acreditam na eficácia da Convenção de Genebra, criada para minorar os efeitos dos conflitos, ultrapassou a quantidade de entrevistados que ainda apostam no tratado.

A pesquisa foi realizada nos cinco países com cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU ? Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China ?, na Suíça, e em outros dez países que vivem conflitos armados: Afeganistão, Colômbia, Iêmen, Iraque, Israel, Nigéria, Palestina, Sudão do Sul, Síria e Ucrânia.

Os tratados de Genebra têm como objetivos fundamentais proteger a população civil em meio a guerras e dar algum nível de garantia aos combatentes presos. Segundo a sondagem da CICV, aumentou de 36% para 41% o número de pessoas que ainda acreditam na convenção. Percentual que superou a quantidade de entrevistados que ainda veem o pacto ter eficiência para regular os conflitos, que caiu de 52%, em 99, para 38% neste ano. E praticamente dobrou o percentual dos que não sabem ou preferiram não responder sobre o assunto, subindo de 12% para 20%.

Já em relação ao uso da tortura para obter dados estratégicos de combatentes presos, o número de pessoas que apoia a prática subiu de 28% para 36%, sem, no entanto, superar os que são contrários. Entretanto, aqueles que não admitem o uso de tortura caiu, nestes 17 anos, de 66% para 48%. E quase triplicou o percentual de daqueles que não sabem ou preferiram não responder sobre a questão: de 6% para 16%.

O presidente do CICV, Peter Maurer, foi categórico ao comentar a pesquisa e afirmar que ?qualquer forma de tortura está proibida e tem um impacto devastador tanto sobre as vítimas como sobre comunidades inteiras?.

? Diante de imagens constantes e repugnantes das linhas de frente no mundo todo, não devemos perder a nossa empatia e ficar atônitos frente ao sofrimento humano ? enfatizou Maurer.

A sondagem verificou ainda que aumentou de 30% para 34% o número de pessoas que acreditam ser ?parte da guerra? o ataque a áreas densamente povoadas, mesmo que isso resulte em muitas mortes de civis. Já o percentual que critica este tipo de atuação caiu de 68% para 59%. E subiu de 3% para 7% aqueles que não souberam ou preferiram não responder.

Por outro lado, mais de 80% dos entrevistados acreditam ser errado atacar hospitais, ambulâncias e profissionais de saúde para debilitar um inimigo. Enquanto que mais de dois terços das pessoas que responderam ao levantamento acreditam que os civis estariam menos propensos a abandonar os seus países, criando grandes volumes migratórios, se os combatentes respeitassem mais as normas da guerra. Quase três quartos das pessoas que responderam às perguntas pensam que aumentar a efetividade das normas da guerra e a responsabilização, mediante tribunais internacionais, ajudaria a reduzir o número de vítimas de guerra.

O documento do CICV ainda aponta os movimentos necessários para reduzir os danos nas guerras: todas as partes do conflito, incluindo os grupos armados não estatais, devem respeitar e assegurar o respeito pela vida e dignidade humanas; os Estados e os grupos armados precisam demonstrar vontade política para fortalecer o Direito Internacional Humanitário, responsabilizando os que violam a lei; a negação de tratamento médico é violação das leis da guerra; a tortura é ilegal e inaceitável sob quaisquer circunstâncias e aqueles que torturarem precisam ser processados e punidos.

? A poderosa mensagem da pesquisa é que as pessoas realmente acreditam na importância do Direito Internacional Humanitário, incluindo as Convenções de Genebra e a proteção dos civis durante os conflitos ? concluiu Maurer.