Quase no final de mais uma edição dos Jogos Olímpicos, já é possível afirmar que ficam as lições de superação, humildade e persistência. Como não se impressionar com ?a máquina de medalhas? de Michael Phelps? Com a energia de Usain Bolt? A determinação de Diego Hypolito, a garra dos nossos medalhas de ouro Rafaela Silva e Thiago Braz? Mas as Olimpíadas também são a festa dos pequenos protagonistas.
David Katouatau, atleta eliminado em 14º lugar nas provas de levantamento de peso, poderia ter passado em branco aos olhos do mundo. Mas ele não perdeu a chance de dar seu recado. Representante da pequena Kiribati, ilha na Oceania, David já marcou seu lugar nos Jogos Olímpicos do Rio por fazer uma dança tão simpática quanto esquisita ao deixar a prova. A plateia riu e aplaudiu. À imprensa David explicou: fazer a dança tradicional de seu país foi a oportunidade que teve de chamar a atenção para sua pequena ilha natal, ameaçada de ser engolida pelas águas como consequência do aquecimento global. E assim, num gesto tão simples, a desconhecida ilha de Kiribati passou a ser conhecida pelos mais de três bilhões de pessoas que acompanham as Olimpíadas.
Ao prestar um grande serviço à sua ilha, David Katouatau foi generoso com o mundo. Nunca se falou tanto de meio ambiente e consciência climática em Jogos Olímpicos como nesta edição carioca. Não poderia ser diferente. Que cidade tem a deslumbrante Lagoa Rodrigo de Freitas como cenário para provas de canoagem? E os barcos a vela de um lado para o outro na Baía de Guanabara, com o Pão de Açúcar como testemunha? E as dezenas de nadadores da maratona aquática cruzando as águas da incomparável Avenida Atlântica? Os milhares de turistas que invadiram a cidade eram unânimes: que cidade mais linda é o nosso Rio de Janeiro!
Portanto, nada mais propício que a consciência ambiental estar na pauta dos Jogos Olímpicos. A festa de abertura ? emocionante, simples e criativa, assim como nós, brasileiros ? já tinha dado o recado. Este mês foram divulgados dados alarmantes do relatório ?O Estado do Clima?, da Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA: o ano de 2015 bateu mais um triste recorde em emissão de gases do efeito estufa e aumento das temperaturas na Terra. As consequências são inquietantes: estão a caminho mais secas e mais inundações, além do degelo dos polos. Degelo que ameaça a Kiribati do bravo David Katouatau.
As próximas Olimpíadas, em 2020, serão em Tóquio. No mesmo Japão onde há quase vinte anos deram-se início às negociações climáticas do Protocolo de Kyoto. Infelizmente, muito pouco foi feito nestas duas décadas. Assim como o Brasil está torcendo por cada atleta que veste e honra a camisa brasileira, vamos torcer e cobrar união em busca do cumprimento com os compromissos assumidos por quase 200 nações contra as mudanças climáticas. O Rio e o mundo merecem!
* Marcos Palmeira é ator
