Cotidiano

Artigo: A segunda recessão dos ?millennials? é o Brexit

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Um antigo colega de universidade fez um resumo preciso com apenas uma mensagem na manhã de sexta-feira: ?Duas recessões antes dos 30 anos, estamos bem!?

Essa segunda ainda está para acontecer, e os sinais não são bons com a libra e o mercado de ações afundando mais rapidamente do que o capital político de George Osborne (o ministro das Finanças). CONTEÚDO EXCLUSIVAS PAPEL 2506

Muito será falado nos próximos dias sobre a nação dividida. O próximo primeiro-ministro, seja lá quem for, terá uma enorme responsabilidade para atenuar as rachaduras entre os 52% e os 48%.

Mas essa divisão veio para ficar. Já sabíamos dela nas pesquisas, e a reação do dia após o referendo a evidenciou ? os jovens queriam permanecer, os mais velhos queriam sair. Ou para colocar em outros termos, quanto maior o tempo que a pessoa terá que viver com as consequências do Brexit, maior a rejeição.

Antes do referendo, os jovens já tinham bons motivos para se sentirem injustiçados. Os baby boomers ? ou mais especificamente, a Geração X ? que desfrutaram dos benefícios da educação superior gratuita e puderam aproveitar em suas casas próprias enquanto o curso estava favorável, foram os arquitetos da crise financeira que devastou a economia, na qual os millennials estavam apenas começando a se tornar participantes ativos.

Foi difícil para todos, mas foi particularmente difícil para os jovens, visto que os empregos ficaram escassos, os investimentos do governo cessaram, e as casas deixaram de ser construídas por demanda. Nós não somos chamados de Geração do Aluguel à toa: não temos outras opções.

Enquanto a geração dos nossos pais se acomodou em seus investimentos habitacionais esperando ansiosamente pelas generosas pensões estatais, nós vimos, mesmo antes dos 25 anos, o corte nos serviços públicos. Até o salário mínimo nos foi negado. Ah, e obrigado por introduzir, e depois triplicar, as mensalidades das universidades.

Nas últimas semanas, a campanha do Brexit afirmou que os jovens se beneficiariam com o colapso nos preços dos imóveis. Mas, se isso acontecer, com as pessoas sem patrimônio líquido, quem irá querer vender? E com a economia em queda livre, quem irá construir novas moradias? Isso promete, como quase tudo no referendo, provar- se uma fantasia.

De acordo com o YouGov, 75% dos jovens com idades entre 18 e 24 anos, e 56% da faixa etária entre 25 e 49 anos votaram pela permanência. Não são muitas as pessoas com menos de 30 anos que entendem o motivo de os britânicos considerarem a ideia de deixar a União Europeia. Agora eles vão ficar chocados, vão ficar irritados. E não será surpreendente se acontecer um miniêxodo para as capitais do continente europeu, onde a vida é mais barata e as atmosferas sociais e políticas, mais de acordo com a forma de pensar da geração.

Existem outros motivos para o descontentamento dos jovens, que não os econômicos. A geração que cresceu como nativa da UE e foi criada na era da internet tem uma inclinação inerente a pensar além das fronteiras. As gerações mais velhas pensam o país na direção oposta.

É um prejuízo para os jovens que querem se identificar como britânicos e como europeus. Se essas identidades já foram compatíveis entre si, agora estão separadas e seguem direções diametralmente opostas.