Cotidiano

Aos 60 anos de idade e 40 de carreira, Zé Renato prepara novidades

2016 909361959-201605141034193306.jpg_20160514.jpgRIO ? Existem datas que, inevitavelmente, nos fazem olhar para o passado. Em 2016, o músico Zé Renato está diante de duas: a do seu aniversário de 60 anos de idade e os 40 de carreira. Mas, em vez de se ater apenas ao que fez até aqui ? celebração que tomou forma com o lançamento de um box de quatro CDs, o ?Anos 80? (Discobertas), com raridades de sua trajetória ?, ele aproveita o momento para olhar para o futuro e colocar em prática uma série de projetos novos e outros nem tanto assim.

? Desde o início da minha carreira, sempre desenvolvi diversas coisas ao mesmo tempo ? destaca.

Entre elas está a Banda Zil, formada com Claudio Nucci, Ricardo Silveira, Marcos Ariel, Zé Nogueira, Jurim Moreira e João Batista. O grupo lançou um único disco em 1987 e se prepara para gravar hoje, no Cultural Bar, em Juiz de Fora, o seu primeiro DVD.

? Somos todos muito amigos e frequentemente nos encontramos em outros projetos. Depois de muitas conversas, finalmente conseguimos conciliar as agendas e reativar a banda ? conta.

Outro trabalho seu de longa data que ganhará em breve um registro audiovisual é o Dobrando a Carioca, grupo com Guinga, Jards Macalé e Moacyr Luz, criado em 1999 e que se tornou um sucesso de crítica, com temporada no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, no Humaitá, e mais de cem apresentações pelo país. O nome surgiu de um encontro dos músicos no Bar Luiz, de onde saíram para se apresentar pela primeira vez no Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes.

Já com o Boca Livre, ele lançará também este ano nos EUA e na Europa um álbum com o repertório do compositor panamenho Rubén Blades, que também participa como cantor. Ainda não há previsão de lançamento no Brasil.

? Temos nos encontrado para pensar num disco de inéditas. Queremos gravar composições nossas e outras das quais gostamos, mas que nunca cantamos ? diz Zé Renato.

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Além disso, ele está à frente do ?Música +?, atração que ocupará as unidades do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio e de Brasília a partir deste mês. O projeto foi idealizado pelo artista e tem a sua curadoria e participação. Algumas edições anteriores já foram feitas na Casa França-Brasil. A ideia é reunir músicos e profissionais de outras áreas para falar sobre temas que são matérias-primas das canções.

? Serão dez apresentações, nas quais temas do cotidiano serão abordados. Há uma edição sobre música e humor, com a participação do Reinaldo, ex-Casseta e Planeta. Em outra, os temas são música e gastronomia, com a chef Roberta Sudbrack ? explica.

Não bastassem todos esses compromissos em andamento, o artista pensa em concretizar ideias que não conseguiu tirar do papel ou experimentar até hoje. Entre elas, fazer trilha sonora para filmes, já que o cinema é uma de suas paixões.

? Quero dar prosseguimento ao meu projeto de discos para crianças, algo que me dá uma enorme satisfação ? salienta o músico, que lançou os CDs ?Samba para as crianças? (2003) e ?Forró para as crianças? (2006).

Foi justamente na infância que Zé Renato teve o que chama de sua primeira ?amamentação musical?, ouvindo sambas, serestas e MPB.

A boemia carioca foi uma das primeiras inspirações para as suas composições. Ele tinha 14 anos e, mesmo sem idade para conhecer a fundo esse universo, estava razoavelmente familiarizado, pois frequentava os principais bares da Zona Sul com o pai, Simão de Montalverne, jornalista e ?cronista da noite?, que tinha entre os amigos muitos artistas e intelectuais.

? Lembro que um dos primeiros sambas que eu compus falava sobre um bar do Leblon. Eu cantava, como se eu fosse um adulto, sobre uma vida que não era minha, mas que eu acompanhava de perto, ao lado do meu pai ? conta.

Segundo ele, a cidade, de uma maneira geral, foi e ainda é uma grande influência para a sua arte. Apesar de ser capixaba de nascimento, Zé Renato morou praticamente a vida toda na Zona Sul:

? Sou capixaba porque a minha mãe ficava grávida e queria ter os filhos em Vitória, onde moravam os meus avós. Mas, assim que nasci, vim para o Rio. Até os 14 anos, morei em Copacabana. Aos 17, meus pais decidiram se mudar para Curitiba, mas eu fiquei no Rio, pois já estava muito envolvido com a música, e fui morar com amigos.

Hoje, ao olhar para o que passou, ele conta que o seu destino foi traçado na adolescência, quando colocou as mãos pela primeira vez num violão. Mas a decisão de seguir por esse caminho não foi algo que surgiu repentinamente. Para dar uma satisfação aos pais, Zé Renato chegou a se inscrever numa faculdade de Comunicação Social, mas, depois de alguns meses, pediu transferência para o curso de licenciatura em Música.

? Minha relação com a música sempre foi muito intuitiva e acabei não me adaptando ao ensino formal. Eu era um dos piores alunos da faculdade, mas venci um concurso que foi promovido durante o semestre ? lembra o artista, que também não chegou a terminar esse curso.

Mesmo mergulhado de cabeça na vida artística, ele lembra que sentia insegurança em trilhar a carreira profissional como músico, principalmente pelas preocupações do pai, que falava sobre as dificuldades do segmento.

Mas, durante uma apresentação com o grupo Cantares no Morro da Urca, recebeu um convite que acabaria com qualquer dúvida futura: o de integrar o grupo Boca Livre.

? Até aquele momento, não tinha pensado em mim como intérprete. A voz era só uma forma de mostrar as minhas canções. O convite para o Boca Livre mudou tudo isso e me trouxe uma segurança enorme. Meu pai também logo viu que tudo estava encaminhado e virou o nosso fã número 1 ? destaca Zé Renato.

Ao lado do grupo, o artista se lembra, com carinho, por exemplo, das temporadas no Teatro Ipanema, que duravam meses.

? Algo que não se vê mais na cidade do Rio de Janeiro ? lamenta.

ARTISTA SEM FRONTEIRAS

O ecletismo é uma das marcas registradas de Zé Renato. Assim como gravou um disco em homenagem ao compositor Zé Keti, ?Natural do Rio de Janeiro? (1995), ele também fez um com canções da Jovem Guarda, ?É tempo de amar? (2008). Essa versatilidade permitiu que fizesse parcerias e amizades com nomes consagrados de diferentes segmentos da MPB.

2016 909796223-foto 22.jpg_20160516.jpgO guitarrista Victor Biglione, por exemplo, é um parceiro de longa data. Em 1992, os dois passaram um mês em Buenos Aires para gravar o disco ?Ponto de encontro?, ao lado do argentino Litto Nebbia. O novo disco de Biglione, ?Mercosul?, também conta com a participação de Zé Renato, que canta a faixa ?Mercosur para siempre?.

? Na minha opinião, Zé Renato tem uma das vozes mais belas, não só da música nacional, mas de todo o planeta ? destaca.

Os dois ainda compartilham outra paixão, além da musical.

? Somos botafoguenses de coração. Lembro que assisti ao Botafogo ser campeão em 1995 na casa do Zé, que preparou uma macarronada deliciosa ? conta Biglione.

Outro que não poupa elogios ao artista é o violonista Guinga, companheiro de banda, na Dobrando a Carioca, e vizinho de bairro, no Leblon.

? Independentemente do artista genial, o Zé é também uma pessoa fantástica. Conheço ele desde bem novo e nunca o vi de mau humor ou tratar alguém mal. Essa é uma característica da família dele, inclusive. Moro bem perto da mãe dele, com quem tenho muita amizade ? afirma Guinga.

2016 909796230-ze? e milton.jpg_20160516.jpgJá Claudio Nucci, que em junho também completa 60 anos, conheceu o artista aos 15, no Colégio Rio de Janeiro, quase que por acaso.

? Eu fazia aula de música na escola e a professora me pediu que emprestasse o violão para o aluno do horário seguinte, que estava sem. Era o Zé Renato ? lembra.

Depois disso, os dois passaram a se encontrar em festivais de música e a tocar juntos.

? Nós somos irmãos musicais. Quando o Boca Livre surgiu, nossos timbres vocais já estavam prontos, porque nós já éramos parceiros ? destaca Nucci, que participa da Banda Zil, com Zé Renato.