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Aos 30 anos, goiano compete neste sábado na ginástica de trampolim

RAFAEL ANDRADE - BRAA partir das 14h03m de hoje, Rafael Andrade, de 30 anos, será o primeiro brasileiro a disputar uma Olimpíada na modalidade mais desconhecida e desprestigiada ? mas não menos plástica e disputada ? da ginástica, a ginástica de trampolim. Quando 2017 começar, Rafael estará também em outro ramo.

O ginasta e cirurgião-dentista vai abrir um consultório odontológico no Rio ou em Goiânia, a cidade onde nasceu, e se dedicará a clientes interessados em estética e restauração. A história de vida do atleta, num esporte ainda carente de incentivo, mostra que não existe um descompasso entre atividades tão distintas.

A ginástica de trampolim é resolvida em dois dias, ontem e hoje. São apenas 32 atletas ?16 homens e 16 mulheres ? na disputa por medalhas, numa única modalidade. Para se ter uma ideia, a ginástica artística reúne 196 atletas. A rítmica, mais 96 mulheres.

As apresentações das equipes brasileiras da ginástica artística revelaram, mais uma vez, a empatia do público com os atletas. O país tem ídolos conhecidos no esporte, como Arthur Zanetti e os irmãos Diego e Daniele Hypolito. Todos eles chegaram aos Jogos Olímpicos para brigar por medalhas. Conheça todos os esportes olímpicos da Rio-2016

Rafael passa despercebido entre os ginastas brasileiros. Treina acompanhado apenas de sua técnica, Tatiana Figueiredo. A convivência com os demais atletas praticamente não existe, conforme as palavras do próprio ginasta:

? Eles vivem no mundo deles, e eu no meu. Estamos no mesmo prédio na Vila dos Atletas. De vez em quando vejo eles.

O ginasta tem uma medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara em 2011. Foi campeão pan-americano em 2012 e sul-americano em 2013, nestes dois casos por equipe. Mesmo assim, Rafael chegou à disputa pela vaga do Brasil na Olimpíada sem badalação e sem favoritismo.

Por ser o país-sede dos Jogos Olímpicos, o Brasil foi convidado à disputa de ginástica de trampolim, esporte que só passou a ser olímpico em 2000, em Sydney. A vaga foi destinada ao brasileiro ? independentemente do gênero ? mais bem colocado no último mundial. Rafael desbancou os oponentes, o que incluiu os tidos como favoritos. Mais uma vez, o atleta viveu um relativo estranhamento entre colegas.

? Eu sabia que o Brasil teria direito a uma vaga olímpica. E treinei para isso. Fui prata em 2011, a única medalha no Pan que o Brasil tem no masculino ? afirma o ginasta. Os recordes dos Jogos Olímpicos Rio-2016

Foi exatamente no início do ciclo olímpico, em 2013, que Rafael viveu com mais intensidade a odontologia e a ginástica de trampolim. Naquele ano, depois da graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o atleta e cirurgião-dentista concluiu a especialização em dentística, voltada a estética e restauração dental. Rafael já havia decidido: iria abrir um consultório e começar a trabalhar na área.

? Mas era início de ciclo olímpico. E então mudei de ideia e decidi tentar uma vaga numa Olimpíada ? conta. ? Vou abrir o consultório sem abandonar o trampolim, esperando as novas gerações se formarem no esporte.

O consultório foi adiado, e Rafael seguiu para Inglaterra e Alemanha para treinar. Obteve a vaga e apresentará as duas séries que executa desde 2014. No trampolim, uma série é obrigatória e a outra é livre. Cada série tem dez saltos sequenciais. Altura, execução e grau de dificuldade são avaliados.

Oito dos 16 atletas vão para a final, que também ocorrerá hoje. Se não houver surpresa, os finalistas devem ser os dois chineses, os dois russos, os dois japoneses, o belorusso e o francês, na previsão do próprio Rafael.

? Aqui só tem a nata da nata da nata. O trampolim é muito limitado, por só ter uma única prova na Olimpíada. Todos aqui são especialistas ? afirma o ginasta, que não esconde a admiração pelos rivais nos treinos.

No Mundial em dezembro, em que conquistou a vaga para a Olimpíada e de onde saíram os 16 competidores olímpicos, Rafael ficou em 36º, entre 131 ginastas homens. Ele tem um objetivo nos Jogos Olímpicos:

? Quero fazer o melhor naquele momento. Tenho plena consciência da minha situação nos Jogos. Quero fazer uma competição limpa, e para isso pode até ser que opte por uma série mais fácil para fazer tudo certo.

VOLTA DEFINITVA AO RIO

O atleta começou aos sete anos de idade na ginástica artística, por dar muita ?estrelinha? na escola em Goiânia, cidade onde ainda vive sua família. Como os equipamentos eram caros, sua primeira professora decidiu comprar um duplo minitrampolim, e não os equipamentos da ginástica artística. Rafael migrou e não saiu mais.

Aos 17 anos, mudou-se para Curitiba, na ocasião da criação da seleção olímpica permanente de ginástica. Passou a conviver com Daiane dos Santos e os Hypolito. Depois de treinar também num clube de Porto Alegre, se mudou para o Rio, onde treinou no núcleo de ginástica mantido por sua treinadora.

? Ele representa toda a história do trampolim, está realizando um sonho de todo mundo ? diz Tatiana.

Rafael não volta mais para a Inglaterra. Veio direto ao Rio com a mudança. Está com três malas enormes na Vila, que serão recolhidas por parentes depois do feito dele na Arena Olímpica.