Cotidiano

Análise: Com Brasil longe do radar de Trump, apenas vice fala com Temer

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WASHINGTON ? Com uma agenda agressiva, a política externa de Donald Trump assusta líderes mundiais – que o diga Enrique Peña Nieto, do México, que já foi desconvidado para uma visita a Washington pelo Twitter. Mas estar longe do radar da maior economia do mundo nunca é bom, ainda mais quando o país precisa de investimentos externos para voltar a crescer.

E é o que parece estar ocorrendo com o Brasil. A Casa Branca informou na noite desta segunda-feira que o vice Mike Pence foi quem falou com Michel Temer, na primeira comunicação oficial entre os dois governos desde a posse americana de 20 de janeiro – o mandatário brasileiro falou com Trump apenas após sua vitória nas urnas, em novembro. Não está claro, até o momento, se esta foi uma ligação introdutória para Trump, mas o fato que o ato mostra desprestígio do Brasil.

Até agora, Trump já recebeu três chefes de governo – do Reino Unido, do Japão e do Canadá – e receberá Benjamin Netanyahu, de Israel, na quinta-feira, completando quatro visitas internacionais em quatro semanas. Além disso, Trump ligou para mais de 20 chefes de governo e de Estado, incluindo países que parecem ser menos importantes que o Brasil no tabuleiro global, como Peru, Colômbia, Nova Zelândia e Kuwait. Do famoso Brics, falou com Rússia, Índia e China, deixando de lado a primeira e a última letra da sigla, ou seja, Brasil e África do Sul. Para consolo do Planalto, Mauricio Macri, da Argentina, também só falou com o vice – mas a ligação para Buenos Aires ocorreu na sexta-feira, antes da chamada para Brasília.

Muitos na diplomacia brasileira advogam que ser esquecido pelo conflituoso e intempestivo Trump é até um bom negócio, por evitar conflitos. Pode ser no curto prazo, mas demonstra que a nova administração da maior potência global está sinalizando que o Brasil terá um peso menor que sob o governo de Barack Obama, quando o inquilino da Casa Branca dizia que o país era uma “potência global”. Palavras apenas, mas que pesam no complicado jogo das relações e dos investimentos externos.